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A chegada de Luis Suárez, além de um orgulho para o Grêmio, é uma grande história ao futebol brasileiro

Suárez não vive mais o seu auge, mas não se nega sua representatividade para o Grêmio e para o futebol brasileiro como um todo

Um dos maiores centroavantes deste século atuará no futebol brasileiro. Pode-se questionar o momento de Luis Suárez, de fato em declínio nos anos recentes, mas não o peso que o uruguaio possui ao esporte. E o Grêmio faz um movimento histórico ao assinar com o veterano de 35 anos. Não há necessariamente sucesso garantido dentro de campo, levando-se em conta o desempenho no Nacional de Montevidéu, por mais que o Pistoleiro tenha liderado o Bolso ao título do Campeonato Uruguaio. Ainda assim, não se nega o impacto e o poder de fogo que o artilheiro poderá adicionar ao Tricolor caso se encontre na Arena. Seu mero acerto é um orgulho e um sinal de grandeza dos gremistas.

Suárez assina com o Grêmio por duas temporadas. É uma aposta alta, com o salário estimado em R$2 milhões custeado com o auxílio de empresas parceiras do clube, que planejam bancar os gastos com ações de marketing. Apesar das cifras, não se nega que é um movimento válido. Mesmo se o Pistoleiro não der certo em campo, sua transferência representa a ambição do Tricolor. Também é um símbolo de força dos gremistas, com uma estrela que seria cobiçada pelos principais clubes da América do Sul. Não se ignora a aura de Luisito.

Depois de deixar o Atlético de Madrid, Luis Suárez assinou temporariamente com o Nacional de Montevidéu. Apesar da paixão pelo clube de coração, o centroavante nunca escondeu que a passagem não duraria mais do que alguns meses, para se manter em forma rumo à Copa do Mundo. Foi o que aconteceu. Apesar da queda precoce na Copa Sul-Americana, Suárez teve boas atuações no Campeonato Uruguaio e levou o título. Já no Mundial, se ficou bem abaixo do que se costumava ver, ainda teve uma boa despedida contra Gana. O que não impediu as lágrimas pela eliminação precoce da Celeste.

Em busca de um último bom contrato, Luis Suárez parecia propenso a assinar com um clube da Major League Soccer. O Los Angeles Galaxy tinha uma proposta na mesa pelo uruguaio. Ele vislumbrava a chance de fazer mais um bom dinheiro, viver uma vida mais tranquila nos Estados Unidos e atuar numa liga de nível mais baixo. Entretanto, o Pistoleiro é um jogador carnal como poucos. E, sem que o negócio com os californianos se concretizasse, ele poderia valorizar também o lado esportivo. O Brasil ainda tem um poder de atração, não só pelo dinheiro colocado na mesa.

O clima e a história do futebol brasileiro certamente foram motivos bastante considerados na vinda de Luis Suárez ao Grêmio. Se ele não estará mais sob os holofotes da Europa, poderá experimentar a paixão que se vive dentro dos estádios do país. Além do mais, o centroavante estará num clube com condições de pagar um salário maior que o Nacional, assim como vai se inserir numa liga mais disputada que a uruguaia. Isso sem se afastar tanto de Montevidéu ou de Salto, podendo fazer viagens periódicas para casa nas folgas. Parecia mesmo o pacote ideal e, apesar das idas e vindas nas conversações ao longo das últimas semanas, o Grêmio levou a melhor no negócio.

Obviamente, é incerto se Luis Suárez renderá ao menos parte de seus melhores tempos na Arena. A queda física do centroavante é evidente e mesmo tecnicamente ele não estava tão afiado na Copa do Mundo. Porém, não é apenas a qualidade do velho artilheiro que o Grêmio contrata. É uma figura para representar o momento de reconstrução do clube, de volta à Série A. Também para chamar mais atenção aos tricolores em diferentes partes do mundo. Sem dúvidas, há um ganho comercial que os gremistas buscam exaltar. E mesmo uma questão de orgulho interno.

Se os jogadores uruguaios são tão marcantes na história gremista, com a menção principal a Hugo de León, Luis Suárez reforça um pouco mais essa identidade. De certa maneira, é um caminho para resgatar o brio dos tricolores. Mas, claro, também haverá uma cobrança por aquilo que acontecerá dentro de campo. Espera-se um mínimo de gols num ataque com o Pistoleiro na linha de frente. Resta saber como vai ser essa reafirmação do coletivo gremista, depois de uma Série B na qual, independentemente do acesso, o rendimento em campo não satisfez totalmente. Não é ainda um projeto em ascensão.

A relação de Luis Suárez com Renato Portaluppi dará um tempero a mais à história. O treinador tem um perfil diferente dos comandantes com os quais o Pistoleiro se acostumou em sua carreira profissional e gênios fortes podem não bater tanto. Contudo, não surpreenderá se surgir também uma forte confiança. Renato costuma falar bem a língua dos jogadores. E vai entender o calibre do craque que tem em mãos, mesmo em declínio. Uma combinação que promete, pelo menos, boas histórias.

E a própria empreitada de Luis Suárez pelos estádios gaúchos deve render alguns momentos pitorescos. Se o astro não teve problemas em reencontrar os ambientes modestos no Campeonato Uruguaio, também encarará normalmente os desafios do Gauchão. Mais importante ainda será sua participação em competições como o Campeonato Brasileiro e a Copa do Brasil. Os torneios nacionais como um todo ganham com a chegada de um jogador de seu calibre. O gosto de ver Suárez por aqui certamente não será apenas dos gremistas. Resta torcer para que ele honre seu passado e relembre um pouco a máquina de gols que tanto encantou por Ajax, Liverpool, Barcelona ou Atlético de Madrid.

Foto de Leandro Stein

Leandro Stein

É completamente viciado em futebol, e não só no que acontece no limite das quatro linhas. Sua paixão é justamente sobre como um mero jogo tem tanta capacidade de transformar a sociedade. Formado pela USP, também foi editor do Olheiros e redator da revista Invicto, além de colaborar com diversas revistas. Escreveu na Trivela de abril de 2010 a novembro de 2023.
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