CBF apresenta calendário 2022 sem novidades: invade datas Fifa e prejudicará os clubes
Como era de se esperar, o calendário não resolve nenhum problema e continuará desfalcando os clubes e esgotando jogadores

A CBF divulgou o calendário 2022 para o futebol brasileiro, depois de apresentar a ideia para os clubes e federações em reunião privada. Como esperado, o que se faz é o mesmo de sempre: o calendário traz muitas datas de estadual, atropela as datas Fifa e prejudicará os clubes que tiverem convocados – inclusive para a Copa do Mundo, que será realizada no fim do ano pela primeira vez na história. Sem resolver os problemas de datas Fifa e ainda com jogos demais, o calendário continuará prejudicando clubes e esgotando os jogadores.
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O calendário foi apresentado pelo presidente da CBF atualmente, Ednaldo Rodrigues, estiveram na reunião presencial o vice-presidente da CBF, Gustavo Feijó; o vice-presidente jurídico da CBF, Carlos Eugênio Lopes; o Presidente da Federação Cearense de Futebol, Mauro Carmélio; o Presidente da Federação Sergipana de Futebol, Milton Dantas; o Presidente da Federação de Futebol do Estado do Rio de Janeiro, Rubens Lopes; e o presidente do Flamengo, Rodolfo Landim.
Na reunião com os clubes, na quinta-feira, o Flamengo pediu que o calendário fosse antecipado em uma semana, começando no dia 15 de janeiro, para amenizar parte dos conflitos de calendário que haverá no ano. A CBF decidiu tornar o início facultativo para o dia 15, de acordo com cada federação. Isso não afetará o resto do calendário – o que mostra também que não resolverá basicamente nada.
Calendário em conflito com as datas Fifa
Em todas as datas Fifa, do começo ao fim do ano, o calendário brasileiro atrapalhará os clubes. A pré-temporada começará no dia 8 de janeiro. Os estaduais começam no dia 26, justamente em meio a uma data Fifa: o Brasil joga pelas Eliminatórias da Copa nos dias 27 de janeiro e 1º de fevereiro.
O calendário já começa desfalcando os clubes, ainda que seja em estaduais, uma competição menor em importância (mas ainda gigante em datas no calendário). Os estaduais seguem gigantescos: 16 datas, muito maior do que deveria, mas ainda acomodando os interesses das federações, principal base eleitoral da CBF.
A Copa do Brasil começa no dia 23 de fevereiro, mesma data que começam as fases preliminares da Libertadores. Esta, porém, não será impactada pelas datas Fifa. A segunda data de jogos de seleção será em março, nos dias 24 e 29, afetando duas datas dos estaduais (nos dias 23, 27 e 30). Serão, inclusive, fases decisivas do torneio.
A terceira data Fifa será em junho. Desta vez, serão três jogos: dias 2, 9 e 14 de junho. Afetará quatro datas do Campeonato Brasileiro (dias 5, 8, 12 e 15). A data Fifa seguinte será em setembro, no dia 22 e 27 de setembro, na última data antes da apresentação das seleções para a Copa do Mundo 2022. Esta data Fifa afetará uma rodada do Brasileiro, no dia 28, dia seguinte a um dos jogos.
A Copa do Mundo começa no dia 21 de novembro. As seleções normalmente se apresentam para treinarem e fazerem a preparação três semanas antes, o que significaria algo no dia 1º de novembro. O problema é que o Campeonato Brasileiro avança sobre novembro. As três últimas rodadas serão disputadas neste mês: dias 6, 9 e 13. Se os clubes brasileiros tiverem convocados, provavelmente perderão jogos desta reta final da competição mais importante do futebol brasileiro. Você ouvirá essas reclamações em 2022. Resolver, porém, ninguém quer. Os clubes ficam de braços cruzados esperando que a CBF resolva – e reclamam pelos desfalques. Mas se no ano seguinte, o rival é que for prejudicado, tudo certo. Vivemos na terra do “Cada um por si, Deus contra todos”.
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Para resolver, é preciso mexer nos estaduais
Os clubes serão prejudicados pela CBF mais uma vez. Seria preciso que os clubes se unissem para pensar em um calendário melhor, mas só o Flamengo se manifestou de alguma forma e muito timidamente, só para mudar uma semana do calendário. É pouco. Não resolveria o problema, só amenizaria uma semana dele.
Repensar o calendário implica, necessariamente, cortar as datas dos Estaduais. A solução mais razoável seria transformar os estaduais em um torneio de ano inteiro e sem os clubes que estão em divisões nacionais (ao menos das Séries A, B e C). Os estaduais seriam classificatórios para a Série D. Assim, haveria calendário para todos os clubes do país, mais para os menores, que hoje têm pouco, e menos para os clubes da Série A, que têm jogos demais.
O problema é que ninguém renuncia aos estaduais, porque eles ainda rendem um dinheiro dos direitos de TV. Isso pode começar a mudar em 2022 porque é muito provável que o dinheiro diminua, já que a Globo decidiu desistir das negociações que fazia com as federações de São Paulo, Rio, Minas Gerais e Rio Grande do Sul, que eram os mais caros do país. A Globo negociava para ter os jogos apenas no Premiere. Os valores, porém, estão acima do que a empresa acredita que valem.
Assim, teremos estaduais, pela primeira vez em muitos anos, totalmente fora da Globo. A tendência é que os clubes recebam menos – como já aconteceu no Rio de Janeiro, que rompeu com a Globo já em 2020. O Paraná já viveu isso alguns anos atrás e ainda tenta recuperar a receita que recebia com a Globo, sem sucesso. Com menos dinheiro, os clubes terão cada vez menos incentivo para seguir defendendo esse calendário absolutamente estúpido que o futebol brasileiro vive.
Um calendário como esse deveria ser motivo de revolta de clubes e torcedores. Seria preciso mudar muito, mas os clubes precisariam estar dispostos a algo que não estão: mudarem os estaduais de forma profunda. O que é mais provável é que sem a receita dos estaduais, os clubes acabem aos poucos desistindo de jogá-los – algo que clubes do Nordeste, por exemplo, já sabem que não é relevante mais há muito tempo, daí a importância da Copa do Nordeste.
A Globo tem há anos a ideia de antecipar o início do Campeonato Brasileiro, algo que favoreceria muito o Premiere, canal por assinatura que transmite os jogos do Brasileirão, e que sofre com a perda de assinantes após o fim do Brasileirão em dezembro, porque ele só volta em final de abril ou maio.
A mudança deve acontecer, a questão é como ela será: planejada, bem-feita e que pense nos clubes menores, dando a eles calendário para o ano inteiro, ou de forma atabalhoada, gananciosa e egoísta, só pensando em alguns e provavelmente sem pensar em qualquer dos times pequenos? Acho que você já sabe qual é a resposta.
Confira o calendário completo
- Férias 2021/22: 10/12/21 a 08/01/22 (30 dias)
- Pré-Temporada: 09/01 a 25/01 (17 dias)
- Campeonatos Estaduais: 26/01 a 03/04 (16 datas)
- Supercopa do Brasil: 20/02 (1 data)
- Copa do Brasil: 23/02 a 19/10 (14 datas)
- Série A: 10/04 a 13/11 (38 datas)
- Série B: 09/04 a 05/11 (38 datas)
- Série C: 10/04 a 01/10 (26 datas)
- Série D: 17/04 a 25/09 (24 datas)
- CONMEBOL Libertadores: 23/02 a 29/10 (17 datas)
- CONMEBOL Sul-Americana: 06/04 a 01/10 (13 datas)
- CONMEBOL Recopa: 09/03 e 16/03 (2 datas)
- Eliminatórias: 27/01, 01/02, 24 e 29/03 (4 datas)
- Datas FIFA para amistosos: 01, 02, 09 e 14/06; 21, 22, 25 e 27/09 (8 datas)
- Copa do Mundo FIFA: 21/11 a 18/12 (28 dias)
Veja abaixo o calendário divulgado pela CBF: