Oscilações, virtudes e incógnitas: o saldo dos primeiros sete jogos de Tite no Flamengo
Tite ainda tem muito trabalho pela frente no Flamengo, mas já identificou carências e mostrou suas melhores qualidades
Tite chegou ao Flamengo com a missão de retomar a confiança da equipe ainda em 2023, para que a reestruturação e montagem do elenco na próxima temporada fosse mais fácil. O trabalho é bem avaliado internamente e mostrou resultado em diversos momentos, embora outros tenham escancarado que a estrada a percorrer é grande e complicada. Pelo menos ficou claro, ao longo dos primeiros compromissos, que existe uma luz ao fim do túnel.
O 2023 do Flamengo foi péssimo e trouxe muita incerteza aos torcedores, por isso a contratação de Tite foi tão celebrada. A possibilidade de ter um treinador de ponta para reformular o elenco e buscar glórias na próxima temporada é certamente tentadora. A torcida, no entanto, já pode tirar algumas lições pelo que foram os sete primeiros jogos de Adenor no Rubro-Negro. Esse é o saldo, pela Trivela.
Início animador
Os dois primeiros jogos do Flamengo de Tite foram bem interessantes, com duas vitórias que tiveram a participação direta do treinador. Diante do Cruzeiro, no Mineirão, a estreia de Adenor começou com a equipe bastante desorganizada, buscando as melhores alternativas para as ideias do técnico, mesmo com o pouco tempo de trabalho. Ciente disso, o comandante buscou ajustar a equipe e deu certo.
O trabalho do Flamengo em Belo Horizonte se resumiu a dez excelentes minutos, que culminaram nos gols de Ayrton Lucas e Pedro, o segundo de pênalti. A equipe comandada por Tite sofreu no início, apenas, e Rossi garantiu o resultado com pelo menos uma defesa difícil.
Contra o Vasco, de volta ao Maracanã, o Flamengo também teve período de oscilação, mas soube superar as dificuldades para triunfar novamente. O Rubro-Negro até começou bem o clássico e terminou a etapa inicial jogando melhor, mas, durante 20 minutos no segundo tempo, foi pressionado pelo Cruz-maltino. Lá estava Rossi, novamente, para salvar a equipe na cabeçada de Vegetti.
Naquele dia, Tite soube acertar o time na hora certa mais uma vez. Ao promover a entrada de Luiz Araújo, invertendo-o de sua posição de origem, o comandante abriu espaço para Gerson do lado esquerdo, ponto em que, justamente, o Coringa mandou a bola para as redes. Até quando duraria a estrela de Tite?
Derrotas são choque de realidade
Como o próprio Tite disse, em coletiva, as duas primeiras vitórias deram ânimo ao Flamengo. Confiança faz bem, mas quando é demais, vira oba-oba. Na opinião do treinador, o Rubro-Negro entrou nesse modus operandi depois de vencer Cruzeiro e Vasco, mas tomou duro choque de realidade contra Grêmio e Santos.
Em Porto Alegre, Tite voltou a mudar muito pouco na escalação e ainda viu sua estrela brilhar quando Cebolinha, lançado na vaga de Bruno Henrique, abriu o placar. O problema foi que, na volta dos vestiários, Pulgar acabou tendo que ser substituído por um problema clínico, e o time desandou sem o chileno. A falta sustentação dada pelo volante ao meio-campo foi sentida e, em apagão de dez minutos, a equipe sofreu três gols e foi derrotada.
Com mando do Flamengo, mas em Brasília, o duelo diante do Santos acabou sendo totalmente condicionado pela duvidosa expulsão de Gerson, ainda no primeiro tempo. O meia já estava “quebrando um galho” na ausência de Pulgar, suspenso, e sua saída foi devastadora ao Rubro-Negro. Tite até tentou resolver o time com Rodrigo Caio na função, porém a equipe sofreu gol no fim e acumulou sua segunda derrota consecutiva.
Apesar do fator expulsão, o Flamengo já não vinha jogando bem antes dela. Sem o chileno para dar sustentação à saída de bola, o Rubro-Negro sofreu com a pressão pós perda do Santos, e Rossi vinha salvando a equipe até o gol de empate. No segundo dos visitantes, que culminou no revés, o argentino pulou um pouco atrasado. Não dá para ser perfeito também.
Melhora, melhor atuação e empate frustrante
A última sequência de três jogos, contra Fortaleza, Palmeiras e Fluminense, fechou uma maratona do Flamengo e levou o torcedor do céu ao inferno. Já desesperançosos com o Brasileirão, os rubro-negros viram o time vencer e sofrer pouco na capital cearense. Pedro e Luiz Araújo, em crescente exponencial, garantiram o triunfo, enquanto Rossi, sempre ele, segurou lá atrás.
Mais animados, os torcedores assistiram a uma exibição de gala do Flamengo de Tite contra o Palmeiras, rival direto na briga pelo título. Sem deixar a equipe de Abel Ferreira jogar, o Rubro-Negro amassou e construiu o resultado ainda no primeiro tempo, com Pedro, novamente, e Arrascaeta. O uruguaio ainda foi protagonista no lance da expulsão de Gustavo Gómez, que garantiu de vez o resultado. Os comandados de Adenor Bachi ainda marcaram belíssimo gol coletivo para fechar a conta.
A partir daí, a euforia voltou a tomar conta do Flamengo e, assim como no primeiro choque de realidade, a equipe não conseguiu sustentar a série de vitórias. Contra o Fluminense, último compromisso antes da Data Fifa, o Rubro-Negro viu os dois lados da moeda: um primeiro tempo avassalador, e um segundo inofensivo. O empate no clássico voltou a desanimar o torcedor e deixar a equipe mais distante do título brasileiro.
Os prós e contras do Flamengo de Tite
É difícil definir um trabalho em sete jogos. A amostra é pequena e não condiz, nem um pouco, com as expectativas depositadas por diretoria e torcida do Flamengo. Por enquanto, Tite está se virando melhor do que outros treinadores que passaram pelo clube, mas a equipe ainda vive de altos e baixos. A oscilação, no entanto, é vista como totalmente natural pelo comandante.
— A equipe vai oscilar. Tudo que a gente quer é dividir a alegria com o torcedor do Flamengo, mas que ele entenda que ele vai precisar ajudar a equipe. Porque o Cebolinha está se firmando agora, o Luiz a mesma coisa, estamos nos adaptando ao pivô, o Arrascaeta está buscando sua melhor condição. Nesses momentos vamos precisar do torcedor, vamos oscilar, é inevitável, que eles passem esse carinho. Quero sentir essa atmosfera dentro de campo.
— Mudamos a metodologia de trabalho, sou o terceiro técnico do Flamengo no ano, estamos tentando ajustar as ideias. O atleta não é uma máquina, ele tem um lado importante para absorver. Tenho que enaltecer essa capacidade deles, falei isso na palestra. Ganhamos os dois primeiros jogos, estavamos brigando pelo título. Perdemos os outros dois e nada serve. Não é assim. Não pode ser assim, senão a gente não constrói nada. Temos que acreditar no processo de evolução, que é o que estamos buscando.
A melhora do Flamengo com relação aos últimos trabalhos é notória. O time conversa mais entre si e tem uma clara ideia de jogos nas mãos de Tite. Por se tratar de um período inferior a dois meses no cargo, o comandante ainda precisa fazer alguns ajustes é claro. O principal é continuar a retomada na confiança dos atletas, favorecendo, como ele mesmo gosta de dizer, o coletivo ao individual.
Entre os fatores positivos estão a sustentação no meio-campo dada pela dupla de volantes, seja com Pulgar, Thiago Maia ou Gerson, o ressurgimento de Arrascaeta e Pedro como protagonista e a melhora na solidez defensiva. Com dois meias situados à frente da defesa, que está mais confiante com as entradas de Rossi e Matheuzinho, o Rubro-Negro tem média inferior a um gol sofrido por partida.
A caminhada é árdua, mas o Flamengo de Tite mostra sinais de que pode brigar por todos os títulos no ano que vem. É tudo uma questão de tempo, embora ele seja tão banalizado no futebol brasileiro. O imediatismo ainda paira sobre o Ninho do Urubu, já que a vaga na Libertadores não está definida, e o próximo compromisso, diante do Red Bull Bragantino, na próxima quinta-feira (23), será crucial para alcançar tal objetivo.