Rafael Cabral merece as críticas que recebe no Cruzeiro?
Capitão do Cruzeiro, Rafael Cabral se vê de tempos em tempos como alvo de parte da torcida celeste; após gol sofrido contra o Fluminense, críticas reverberaram

O Cruzeiro voltou a perder no Campeonato Brasileiro ao ser batido pelo Fluminense, por 1 a 0, nessa quarta-feira (21), no Maracanã. O gol do Tricolor das Laranjeiras foi marcado pelo meia uruguaio Leo Fernández, numa falta venenosa, que enganou o goleiro e capitão celeste, Rafael Cabral.
E esse lance tem dado o que falar entre torcedores e imprensa desde antes do apito final. Afinal, Rafael Cabral falhou ou não no lance? Bem, algumas pessoas juram que sim e outras garantem que o gol se tratou de mérito de Leo Fernández e não de demérito de Cabral, que já havia feito boas defesas na partida.
No cobrança, Leo Fernández bateu forte e a bola pegou certo efeito ao passar pela barreira de dois homens montada por Rafael Cabral. Os três passos dados pelo goleiro para seu lado esquerdo acabaram impossibilitando-o de se recuperar no lance quando a bola tomou a direção do meio do gol.
Gol de Leo Fernández! Fluminense 1×0 Cruzeiro pic.twitter.com/FEJsfSaJGk
— Futebolizei News (@FutebolizeiN) September 21, 2023
Esse foi o quarto gol de falta de longa distância sofrido pelo arqueiro celeste em 2023. Ele já havia sido vazado por Aloísio, do América-MG, e Hulk, do Atlético-MG, este último por duas oportunidades, em lances do tipo.
A reincidência neste tipo de lance engrossou o coro de parte da torcida contra o goleiro, em especial em seu desempenho nas faltas. Por outro lado, torcedores também ressaltaram a importância de Rafael Cabral em muitas partidas deste Campeonato Brasileiro, quando o camisa 1 trabalhou bem e evitou problemas ainda maiores na competição.
Com as discussões constantes sobre o desempenho do capitão celeste com a camisa do Cruzeiro, a pergunta que fica é se Rafael Cabral merece as críticas que recebe ou se parte dos torcedores pegam pesado com o goleiro.
Falhas aconteceram, mas os grandes jogos também
Nessa discussão é difícil achar um lado que esteja certo ou um que esteja errado. Rafael Cabral de fato falhou em algumas partidas, parte delas importantíssimas, tanto para a situação da equipe nos campeonatos naquele momento, quanto no íntimo do torcedor. Afinal, nos dois clássicos contra o maior rival, o Atlético-MG, que o Cruzeiro não vence desde 2020, dois gols de falta de Hulk.
O primeiro, no Campeonato Mineiro, tirou uma vitória importante do torcedor que dava show no Independência. O resultado ainda pesaria na classificação final, que acabou colocando o Cruzeiro contra o outro rival, América-MG, na semifinal, onde Rafael voltaria a levar um gol de longe.
No Brasileirão, mais um jogo onde diante de sua torcida, em maioria, o Cruzeiro sofreu um gol “espírita” de Hulk, quando Rafael Cabral mandou a barreira que seus jogadores formavam abrir. O camisa 7 do Atlético-MG, exímio chutador de longa distância, não poderia exigir presente maior. Um “pênalti” do meio da rua, que o camisa 1 da Raposa aceitou.
Em outros momentos, desde o ano passado, Rafael também recebeu críticas e falhou, e em boa parte das vezes o próprio goleiro assumiu a responsabilidade e se comprometeu a melhorar.
O que pode-se dizer que aconteceu. Em seus momentos mais difíceis com a camisa azul, Rafael Cabral demonstrou resiliência e conseguiu emendar boas sequências de jogos. No Brasileirão atual, foram muitos os momentos em que ele garantiu pontos e vitórias para o Cruzeiro. Pode-se dizer que na maioria dos jogos em que o time celeste pontuou, o goleiro estava lá para fazer seu trabalho. Contra o São Paulo, por exemplo, uma noite média do dono da meta cruzeirense poderia ter resultado numa goleada. Mas Cabral foi grande e o clube estrelado venceu.
Assim aconteceu noutros jogos, incluindo partidas em que o resultado não veio, o goleiro celeste foi bem. Neste Brasileirão, inclusive, o bom desempenho da defesa celeste em números — visto que em atuações não foi tão positivo como possa parecer — se deve ao goleiro ter sido difícil de vazar. O saldo, pelo menos nesta competição, me parece positivo.
Sobre o gol do Fluminense, Zé Ricardo disse que não viu o vídeo mas elogiou a batida de Léo Fernandez, disse não ter visto falha no lance e disse que Rafael Cabral vinha fazendo grande jogo.
— Maic Costa (@omaiccosta) September 21, 2023
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Sombra de Fábio
É justo dizer também que Rafael sofre aquilo que muitos substitutos de goleiros históricos — os do São Paulo que o digam — sofreram. No caso do Cruzeiro, de uma forma ainda mais potencializada, já que a saída de Fábio foi inesperada e traumática para todos os lados. Um dos ídolos máximos do clube, com muita, muita lenha para queimar, viu uma nova gestão fechar as portas da agremiação que ele defendeu com afinco por anos, nos melhores e piores deles. A torcida também sentiu. Parecia tudo muito injusto. Não era uma aposentadoria. Era uma decisão unilateral, tomada em uma sala com ar condicionado e nenhuma participação dos maiores interessados, de fato.
Fábio saiu e Rafael Cabral chegou. Mas não chegou como o goleiro campeão da Libertadores 11 anos antes e nem como aquele que foi, por períodos, titular em equipes importantes como o Napoli, da Itália. Rafael desembarcou em Belo Horizonte como o goleiro reserva do Reading, da segunda divisão inglesa, o que pareceu deixar a decisão da diretoria azul ainda mais inexplicável.
Rafael não é Fábio, nunca será, e sabe disso. Esse é, talvez, o maior de seus pontos fortes e o que faz que ele mantenha a resiliência de seguir sem se abalar, como acontece com outros atletas, mesmo com as críticas.
E elas aparecem. E Fábio, hoje no Fluminense, não ajuda. O experiente goleiro que completa 43 anos nos próximos dias tem jogado muito e é um dos grandes nomes de um Fluminense que encanta e que está numa semifinal de Libertadores. Para piorar, foram quatro jogos contra seu ex-camisa 1 e o Cruzeiro perdeu todos. Fábio levou apenas um gol e nem de pênalti, batido duas vezes por Bruno Rodrigues no primeiro turno do Brasileirão 2023, o goleiro foi vazado.
Se não bastasse, como ironia do destino, Rafael Cabral leva mais um gol questionável, justamente com seu antecessor na meta rival.

Continuidade de Rafael Cabral
Mantendo-me fora de picuinhas entre torcedores, entendo que é normal haver essa cobrança um pouco desproporcional, pois 17 anos não são 17 meses e Rafael está no Cruzeiro há menos de dois anos. Resta ao goleiro absorver o que for de proveitoso e não se afetar com o resto, afinar, é fato que ele será o camisa 1 da Raposa nos próximos anos e mesmo que se mostrasse inapto a assumir a função, o que não tem sido o caso, seria muito difícil para a diretoria celeste assumir que a saída de Fábio tivesse sido um erro.
Mas Rafael é o capitão do Cruzeiro, uma liderança forte no elenco e um dos jogadores que sempre aparece nos momentos ruins, mais até que nos bons. É um bom goleiro, que faz um bom ano, e parece ser de caráter e personalidade. Ele falha e não é Fábio. Merece críticas, mas não todas.