Afinal, por que Divertidamente pode ensinar algo ao Palmeiras, como diz Abel?
Treinador recomendou filmes ao elenco, mas talvez tenha ainda mais lições a tirar da obra
Em mais de uma oportunidade, o técnico Abel Ferreira citou os filmes de animação da franquia “Divertidamente” em entrevistas coletivas após os jogos do Palmeiras.
Depois da vitória (2 a 1) sobre o Atlético-MG, no sábado (28), que deixou o time a apenas um ponto do Botafogo e da ponta do Campeonato Brasileiro (57 a 56), a obra dos estúdios Disney/ Pixar voltou a ser um tema abordado pelo treinador.
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Indagado sobre como motivar o elenco após eliminações duras e manter o time focado, mesmo os jogadores que já foram fundamentais para o elenco e que perderam espaço, como Veiga, Dudu e Rony, o treinador se saiu com essa.
— Posso dizer o que fiz? Convidei-os a ver Divertidamente 1 e 2. Eles conseguem ver as emoções que temos em nós e quais nos interessa ativar. Podemos jogar com nossas emoções. Aqui posso chamar a atenção para deixar os jogadores em paz, ou os saudá-los, como faço hoje. Todos temos um capeta e um anjinho. Qual quer dar ouvidos? Falo aos jogadores, no jogo é igual — disse o técnico.
Palmeiras teve motivos para se decepcionar e ficar ansioso
Abel pinçou um aspecto de fato importante na história, que é dar ouvidos às emoções. Mas o filme dirigido e escrito por Pete Docter, Ronnie Del Carmem e escrito também por Meg LeFauve traz outras mensagens valiosas para o time, que possam talvez ter escapado ao técnico, a julgar por seu discurso
Os dois filmes da franquia falam do gerenciamento das emoções. A história acontece em dois lugares. Pelo “lado de fora”, mostra a vida da garota Riley, que no segundo filme está entrando na adolescência.
Mas também mostra, no “lado de dentro”, uma sala de comando no cérebro dela, onde personagens como Alegria, Tristeza, Nojinho, Medo e Raiva operam uma mesa de comando que guia Riley pela vida.
O título em português, com o trocadilho, é bom e até mais forte e alinhado com o que vende melhor no mercado brasileiro em termos de marketing.
O original “Inside Out”, contudo, algo como “De dentro pra Fora”, deixa ainda mais explícito o mote do roteiro.
Não se deve fugir das sensações negativas
Tentando não dar spoiler, a grande novidade da parte 2 é a entrada do personagem Ansiedade na sala de comando. Mostrando que a mente da personagem principal (ao menos do lado de fora) está se tornando mais complexa e permeada por sensações e sentimentos que nem sempre estão presentes nas crianças.
Porém, ao contrário do que disse no sábado (28) e também após o 5 a 0 sobre o Criciúma, quando declarou não querer criar ansiedade nos jogadores, pensando na conquista do tricampeonato brasileiro consecutivo, a mensagem que fica das duas obras é a importância de se abraçar as sensações positivas e negativas.
Mais uma vez, tentando não revelar demais do enredo, é quando Riley e os personagens encaram a ansiedade de modo não a suprimi-la, mas a administrá-la, que as coisas começam a caminhar melhor. Inclusive na parte esportiva, já que a protagonista do filme é jogadora de hóquei no gelo.
— Vais ouvir ‘és ruim', “não vais conseguir”, etc, ou vais ouvir “vais conseguir”, “tentes de novo”? — exemplificou o treinador.
Na real, é preciso ouvir ambos.
Veiga, Dudu e mesmo Abel tinham de aceitar que erraram
No fim, trata-se menos de dar ou não ouvidos ao anjinho e ao diabinho, como disse o treinador. Mas de entender e modular o que ambos estão dizendo e canalizar tais discursos.
Tentar abafar as emoções resulta em apatia e desinteresse. É como colocar sujeira para baixo do tapete. Uma hora, sem que se possa controlar como e quando, tudo vem à tona.
Ao contrário, deixar com que as emoções negativas também fluam é o que regula a mente para as tomadas de decisões e ações mais equilibradas e necessárias. E que gera motivação para seguir. Só se supera quem entende ter algo a superar.
A ansiedade também pode ser combustível
Por exemplo: Raphael Veiga tinha sim de ouvir de seus “divertidamentes” que estava jogando mal, que nem pênalti e escanteios estava conseguindo bater. É só a partir da aceitação de suas falhas que o jogador poderia buscar a melhora que o levou a ser tão importante como foi diante do Atlético.
Dudu também tinha de confrontar suas decisões e até perder o ar, se fosse o caso, chateado consigo mesmo por arquitetar uma ida para o Cruzeiro. Entender que isso fez com que os seus pares e sua chefia passassem a ter motivo para olhá-lo de modo diferente. E que, com as lesões, ele não é mais o mesmo jogador, mas não deixou de ser importante.
Por fim, o próprio Abel Ferreira também teve de olhar para si e confrontar seus erros. Saber que escalou times que não funcionaram nas idas das oitavas de Copa do Brasil e Libertadores. Que era preciso mexer na formação e, para citar um personagem que aparece em Divertidamente 2, a nostalgia por tempos em que alguns veteranos eram donos do time, não pode comandar suas ações.
A julgar pela retomada do time após as quedas nas duas copas, fica claro é que o psicológico da equipe está em dia. Tendo ou não assistido aos filmes.