Brasileirão Série A

‘Entramos no mapa’: Como a menor cidade do Brasileirão se aproveita do futebol para impulsionar economia

Mirassol estreia no Campeonato Brasileiro e promove desenvolvimento da região no interior de São Paulo

No dia em que o Mirassol conquistou sua primeira vitória na Série A do Campeonato Brasileiroum sonoro 4 a 1 em cima do Grêmio –, a unidade local da rede de franquias de pizzarias Bella Capri vendeu 150% a mais do que era esperado no dia.

— Para nós, que nascemos e vivemos em Mirassol, é muito bom (a promoção da equipe à elite do futebol). Você vê sua cidade sendo transformada. E não só nos dias de jogos. A cidade está esquentando em termos de negócios como um todo — disse à Trivela Guto Covizzi, 54, sócio-fundador da cadeia de restaurantes com mais de 43 unidades.

Menor dentre as cidades-sede do Brasileirão (64 mil habitantes), o pequeno município da região metropolitana de São José de Rio Preto vive um momento único. Porque, além do time homônimo, o futebol também está movimentando a economia, tornando a cidade mais conhecida.

— Antes, eu falava que era de uma cidadezinha perto de Rio Preto. Mas, outro dia, um parceiro comercial de outro estado me perguntou: ‘É aquela cidade Mirassol, do time de futebol?' — contou o empresário, que tem o objetivo de receber todas as delegações que forem à cidade.

Nós enviamos pizzas ao Palmeiras quando eles vieram aqui (durante o Paulistão). A nutricionista do clube até veio visitar nossa cozinha para conferir a qualidade dos nossos ingredientes, porque o nível de exigência é alto — contou ele.

Futebol como força catalisadora

A experiência de Guto Covizzi, de que o time e cidade se retroalimentam em um ciclo virtuoso, também é relatada por Beto Feres (MDB), o vice-prefeito — não confundir com Fábio Marcondes (PL), vice-prefeito de Rio Preto, que se envolveu em um caso de racismo contra um segurança do Palmeiras.

— A cada jogo, vemos bares, restaurantes, lanchonetes e até o comércio ambulante com movimento acima do normal. Isso gera renda, fortalece pequenos empreendedores e mostra como o futebol pode ser uma força impulsionadora do desenvolvimento — disse ele.

— O Mirassol vem colocando nossa cidade no mapa do futebol nacional. E isso reflete também no dia a dia da nossa economia — completou o político.

Mirassol na estreia do Brasileirão (Foto: Icon sport)
Mirassol na estreia do Brasileirão (Foto: Icon sport)

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Mirassol cresce com clube e cidade no Brasileirão

A Trivela esteve em Mirassol para o confronto da equipe local contra o Palmeiras, na última rodada do Campeonato Paulista deste ano (2 a 3 para o time da capital). E encontrou um município movimentado, com a vida e a economia da população local (e das cidades adjacentes) mexidas por conta do afluxo de pessoas que vêm aos jogos.

— O movimento aumenta de 20% a 30% nos dias desses jogos maiores. E não só aqui no nosso hotel, mas nos de Rio Preto também — contou Asaad Abou Assi, 52, administrador do Assi Palace Hotel, o maior e mais antigo da cidade, fundado por seu pai Sami, em 1989.

Assaad também é mirassolense de nascença e acompanha a trajetória da equipe desde que era criança. O Assi, que era a concentração oficial do time da casa, ainda recebe algumas delegações que vêm jogar na cidade.

— Muitos até pedem para eu levá-los para conhecer o CT, e sempre voltam impressionados com a estrutura — conta.

300 bolinhos de carne no Bar do Almeida

Bar do Almeida antes de Mirassol x Palmeiras pelo Campeonato Paulista
Bar do Almeida antes de Mirassol x Palmeiras pelo Campeonato Paulista (Foto: Diego Iwata/ Trivela)

Mas, talvez, a melhor ilustração a “olho nu” acerca do impacto dos jogos da equipe possa ser medido pelo movimento no Bar do Almeida, que fica em frente a um dos portões do Estádio Municipal José Maria de Campos Maia, o Maião, onde o time manda seus jogos.

No dia em que o Palmeiras venceu o Mirassol por 3 a 2, era difícil até passar pela calçada onde o estabelecimento famoso por seu bolinho de carne e sua porção de torresmo fica localizado.

— Vendi mais de 300 bolinhos e mais de 100 da (porção) do torresmo — disse Seo Almeida Antônio Rocha (sim, nessa ordem), 68, que há 40 anos comanda o estabelecimento no mesmo local.

A Trivela provou e aprovou o bolinha de carne do Almeida.

— Quando eu comecei, o Mirassol estava na última divisão possível, e praticamente só se juntava nos dias dos jogos. Eu posso dizer que cresci junto com Mirassol — disse ele, com pressa, enquanto pilotava o fogão, checava se as geladeiras funcionavam e ainda conferia se todos os clientes estava pagando o que consumiam.

Xuxa, ex-jogador que acumulou sete passagens no clube entre 2003 e 2018, quase uma bandeira da equipe, até sugeriu um item do menu do Bar do Almeida à reportagem: a coxinha de Aipim.

— Pode pedir que vale a pena — garantiu o atual treinador do Sub-15 do Operário, do Paraná. Ao contrário do que muitos imaginam, o ex-atleta não nasceu, tampouco reside em Mirassol. Mesmo assim, não se esqueceu do quitute.

Mas, para provar a iguaria, a Trivela vai ter de fazer uma nova viagem à cidade. Porque, nos dias de jogos maiores, Almeida até abre mão de vender o salgado preferido de Xuxa.

— Demora demais para fritar. Não tem como, em dias de jogos grandes como esse — explicou Almeida que, mesmo sem um de seus principais itens do cardápio, vê seu faturamento crescer demais quando o Mirassol encara os gigantes do futebol nacional.

À reportagem, resta torcer para o aumento da demanda não inflacionar demais os preços. Porque, se depender do clube, Almeida tem tudo para crescer o negócio — assim como a menor cidade do Brasileirão.

Almeida comanda o fogão do bar que leva seu nome em Mirassol
Almeida comanda o fogão do bar que leva seu nome em Mirassol (Foto: Diego Iwata/ Trivela)
Foto de Diego Iwata Lima

Diego Iwata LimaSetorista

Jornalista formado pela Faculdade Cásper Líbero, Diego cursou também psicologia, além de extensões em cinema, economia e marketing. Iniciou sua carreira na Gazeta Mercantil, em 2000, depois passou a comandar parte do departamento de comunicação da Warner Bros, no Brasil, em 2003. Passou por Diário de S. Paulo, Folha de S. Paulo, ESPN, UOL e agências de comunicação. Cobriu as Copas de 2010, 2014 e 2018, além do Super Bowl 50. Está na Trivela desde 2023.
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