‘Entramos no mapa’: Como a menor cidade do Brasileirão se aproveita do futebol para impulsionar economia
Mirassol estreia no Campeonato Brasileiro e promove desenvolvimento da região no interior de São Paulo

No dia em que o Mirassol conquistou sua primeira vitória na Série A do Campeonato Brasileiro — um sonoro 4 a 1 em cima do Grêmio –, a unidade local da rede de franquias de pizzarias Bella Capri vendeu 150% a mais do que era esperado no dia.
— Para nós, que nascemos e vivemos em Mirassol, é muito bom (a promoção da equipe à elite do futebol). Você vê sua cidade sendo transformada. E não só nos dias de jogos. A cidade está esquentando em termos de negócios como um todo — disse à Trivela Guto Covizzi, 54, sócio-fundador da cadeia de restaurantes com mais de 43 unidades.
Menor dentre as cidades-sede do Brasileirão (64 mil habitantes), o pequeno município da região metropolitana de São José de Rio Preto vive um momento único. Porque, além do time homônimo, o futebol também está movimentando a economia, tornando a cidade mais conhecida.
— Antes, eu falava que era de uma cidadezinha perto de Rio Preto. Mas, outro dia, um parceiro comercial de outro estado me perguntou: ‘É aquela cidade Mirassol, do time de futebol?' — contou o empresário, que tem o objetivo de receber todas as delegações que forem à cidade.
— Nós enviamos pizzas ao Palmeiras quando eles vieram aqui (durante o Paulistão). A nutricionista do clube até veio visitar nossa cozinha para conferir a qualidade dos nossos ingredientes, porque o nível de exigência é alto — contou ele.
Na frente de muitos gigantes do Brasil 🇧🇷 A Trivela visitou o CT do Mirassol, que com um investimento de R$ 15 mi, supera a estrutura da maioria dos clubes do futebol brasileiro.
✍️ @DiegoMarada pic.twitter.com/fnRqwxLuqF
— Trivela (@trivela) April 21, 2025
Futebol como força catalisadora
A experiência de Guto Covizzi, de que o time e cidade se retroalimentam em um ciclo virtuoso, também é relatada por Beto Feres (MDB), o vice-prefeito — não confundir com Fábio Marcondes (PL), vice-prefeito de Rio Preto, que se envolveu em um caso de racismo contra um segurança do Palmeiras.
— A cada jogo, vemos bares, restaurantes, lanchonetes e até o comércio ambulante com movimento acima do normal. Isso gera renda, fortalece pequenos empreendedores e mostra como o futebol pode ser uma força impulsionadora do desenvolvimento — disse ele.
— O Mirassol vem colocando nossa cidade no mapa do futebol nacional. E isso reflete também no dia a dia da nossa economia — completou o político.

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Mirassol cresce com clube e cidade no Brasileirão
A Trivela esteve em Mirassol para o confronto da equipe local contra o Palmeiras, na última rodada do Campeonato Paulista deste ano (2 a 3 para o time da capital). E encontrou um município movimentado, com a vida e a economia da população local (e das cidades adjacentes) mexidas por conta do afluxo de pessoas que vêm aos jogos.
— O movimento aumenta de 20% a 30% nos dias desses jogos maiores. E não só aqui no nosso hotel, mas nos de Rio Preto também — contou Asaad Abou Assi, 52, administrador do Assi Palace Hotel, o maior e mais antigo da cidade, fundado por seu pai Sami, em 1989.
Assaad também é mirassolense de nascença e acompanha a trajetória da equipe desde que era criança. O Assi, que era a concentração oficial do time da casa, ainda recebe algumas delegações que vêm jogar na cidade.
— Muitos até pedem para eu levá-los para conhecer o CT, e sempre voltam impressionados com a estrutura — conta.
300 bolinhos de carne no Bar do Almeida

Mas, talvez, a melhor ilustração a “olho nu” acerca do impacto dos jogos da equipe possa ser medido pelo movimento no Bar do Almeida, que fica em frente a um dos portões do Estádio Municipal José Maria de Campos Maia, o Maião, onde o time manda seus jogos.
No dia em que o Palmeiras venceu o Mirassol por 3 a 2, era difícil até passar pela calçada onde o estabelecimento famoso por seu bolinho de carne e sua porção de torresmo fica localizado.
— Vendi mais de 300 bolinhos e mais de 100 da (porção) do torresmo — disse Seo Almeida Antônio Rocha (sim, nessa ordem), 68, que há 40 anos comanda o estabelecimento no mesmo local.
A Trivela provou e aprovou o bolinha de carne do Almeida.
— Quando eu comecei, o Mirassol estava na última divisão possível, e praticamente só se juntava nos dias dos jogos. Eu posso dizer que cresci junto com Mirassol — disse ele, com pressa, enquanto pilotava o fogão, checava se as geladeiras funcionavam e ainda conferia se todos os clientes estava pagando o que consumiam.
Xuxa, ex-jogador que acumulou sete passagens no clube entre 2003 e 2018, quase uma bandeira da equipe, até sugeriu um item do menu do Bar do Almeida à reportagem: a coxinha de Aipim.
— Pode pedir que vale a pena — garantiu o atual treinador do Sub-15 do Operário, do Paraná. Ao contrário do que muitos imaginam, o ex-atleta não nasceu, tampouco reside em Mirassol. Mesmo assim, não se esqueceu do quitute.
Mas, para provar a iguaria, a Trivela vai ter de fazer uma nova viagem à cidade. Porque, nos dias de jogos maiores, Almeida até abre mão de vender o salgado preferido de Xuxa.
— Demora demais para fritar. Não tem como, em dias de jogos grandes como esse — explicou Almeida que, mesmo sem um de seus principais itens do cardápio, vê seu faturamento crescer demais quando o Mirassol encara os gigantes do futebol nacional.
À reportagem, resta torcer para o aumento da demanda não inflacionar demais os preços. Porque, se depender do clube, Almeida tem tudo para crescer o negócio — assim como a menor cidade do Brasileirão.
