Inspirado em Palmeiras e Flamengo, Mirassol tem trunfo de R$ 15 milhões para crescer com consistência
Equipe do Oeste do Estado de São Paulo possui instalações de topo de prateleira

A motorista de aplicativo do carro que a reportagem da Trivela embarcou na quente São José do Rio Preto perguntou, mais de uma vez, se o passageiro tinha certeza quanto ao destino da viagem.
Na conurbação de pequenas cidades em volta da gigante metrópole regional (480 mil habitantes), é mesmo difícil imaginar que um dos centros de treinamento mais modernos do Brasil fica no fim de uma estradinha que brota no acostamento da Rodovia Euclides de Cunha.
Uma vez na estrada que nem mesmo tem um nome, é possível ver que há movimento na área. Por lá, estão algumas fábricas de grande porte do setor alimentício. Mas nenhum dos terrenos é tão grande quanto o do CT do Mirassol, inaugurado em 2018. Tampouco tem prédios com a imponência envidraçada e quase futurista das estruturas do clube.

Inspiração no Palmeiras
A Trivela visitou o local, que não fica devendo a nenhum dos centros de treinamento das equipes companheiras do Leão na Série A do Campeonato Brasileiro.
Embora seja novato e tenha a menor cidade-sede dentre todos os times da primeira divisão — cerca de 63 mil habitantes –, o clube paulista tem instalações de topo de prateleira.
Em 1,5 mil m² de área, com inspiração na Academia de Futebol do Palmeiras, o CT de R$ 15 milhões é uma inequívoca demonstração de comprometimento do clube com sua evolução no futebol nacional. Ninguém constrói algo com tanta excelência sem levar a sério o que está fazendo.
Quando a reportagem esteve no local, apenas os jogadores do sub-20 estavam trabalhando, sob um sol que beirava os 40 graus, em um dos quatro campos de grama natural. Mais tarde, esses mesmos garotos almoçaram no refeitório exclusivo das categorias de base e foram para seus quartos, que comportam até quatro atletas.

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Só Mirassol e Flamengo têm esse equipamento
Além dos campos, os jogadores profissionais possuem instalações exclusivas — vestiários da categoria e quartos individuais. E compartilham as banheiras de água quente e fria, para recuperação muscular, uma sauna envidraçada no pátio externo e parte da estrutura de musculação e fisioterapia.
A grande vedete do complexo é uma cápsula de flutuação com sais, que custou R$ 110 mil ao clube. Fechada e isolada acusticamente, a câmara permite aos atletas flutuar sem esforço, relaxando o corpo e diminuindo ansiedade e stress. No Brasil, apenas Mirassol e Flamengo contam com a aparelhagem.
Na Vila Madalena, em São Paulo, clínicas e espaços de massagem cobram até R$ 250 por uma hora de flutuação. Segundo estudos, o efeito de descanso gerado no corpo pela cápsula, em 40 minutos de uso, equivale a um sono de 6 a 8 horas.

Reformas também no estádio
Dos R$ 15 milhões investidos para construir CT, R$ 5,4 milhões vieram da negociação de Luiz Araújo com o Lille. Revelado no clube, o atacante foi para o São Paulo deixando 30% dos seus direitos atrelados à equipe que o revelou. A negociação rendeu cerca de R$ 8 milhões para o Leão.
Os investimentos no CT são constantes e serão perenes. De modo que, à medida que o tempo passe, o valor do empreendimento vai se tornar maior.
Se, por acaso, o Mirassol não emplacar uma segunda temporada na elite, não será por causa das suas instalações. O clube ainda não é um grande do futebol nacional. Mas o pensamento de sua diretoria claramente é.

Além do dinheiro investido no CT, o clube colocou R$ 8 milhões na reforma do estádio José Maria de Campos Maia, o Maião, que a Trivela também visitou — recursos oriundos do patrocínio da Ana Gaming, do mercado de apostas, e da Poty, de bebidas.
Fachadas, setor de camarotes e cabines de imprensa do Maião, que comporta 15 mil pessoas, foram reformados. Nas catracas, o reconhecimento facial passou a ser obrigatório. Ao redor do campo, uma proteção de vidro, em vez de alambrado, permite uma visão melhor do campo, que também ganhou melhorias na sua iluminação.
Diferentemente do CT, mesmo com as melhorias, o estádio municipal precisa de reformas estruturais grandes. Trata-se, afinal, de uma construção inicialmente inaugurado nos anos 1920. Época em que a cidade de Mirassol nem sequer imaginava que um dia a equipe local se colocaria entre os 20 melhores times do Brasil.




