Mauricio Noriega: Eduardo é a peça que dá liga ao líder Botafogo
A solidez do Botafogo, com 12 pontos e cinco vitórias de vantagem sobre o Flamengo, não se explica só por Eduardo. Mas passa necessariamente por ele

Uma das formas de se explicar o sucesso de um time de futebol é o encaixe das peças. Para que o esquema tático funcione de acordo com o sistema de jogo é preciso que a engrenagem trabalhe em sintonia. Como um motor, uma orquestra, uma banda de rock. A peça que faz funcionar a engrenagem botafoguense atende pelo nome de Eduardo.
Contratado sem grande alarde pelo Glorioso há um ano, Carlos Eduardo, que futebolisticamente assina apenas Eduardo, fez carreira fora do Brasil, atuando na França, em Portugal e na Arábia Saudita. Quando jogou pelo Porto trabalhou com Luís Castro, ex-treinador botafoguense. O meio-campista de 33 anos é o elemento que dá liga o líder do Brasileirão. Ele se posiciona pela faixa central do gramado, fazendo a ponte entre defesa e ataque.
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O setor em que Eduardo se impõe é o que antigamente se chamava de intermediária: o vasto espaço entre as meias-luas do campo. É nessa faixa de gramado que acontece a gestação de jogadas. No sistema defensivo, Eduardo atua na interrupção das ações do adversário para fazer a transição. É a qualidade nesse instante dos acontecimentos de uma partida que determina o sucesso de um contragolpe. Na chamada fase ofensiva, o meio-campista moderno e tático como Eduardo tem participação fundamental no ritmo da equipe, na forma como o meio-campo atua para criar espaços e oportunidades para o ataque. Além de surgir como elemento surpresa na área adversária. Eduardo tem quatro gols marcados no Brasileirão.
É O SHEIK! ??
Tchê Tchê acreditou até o final e cruzou para Eduardo abrir o placar. O Glorioso tá na frente! ⚽️? #VamosBOTAFOGO
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— Botafogo F.R. (@Botafogo) July 16, 2023
Mas os números que explicam a importância desse jogador para a campanha alvinegra estão em outro fundamento: o passe. Eduardo toca na bola, em média, 46 vezes por partida. Esses toques resultam em quase dois passes decisivos por jogo, mas representaram em 13 jogos um total de sete grandes chances criadas. A eficácia de passes do atleta é de 85%. Seus passes acontecem majoritariamente no meio-campo defensivo (94%, o que se traduz em qualidade na saída de bola), mas alcançam a taxa de 77% no meio-campo adversário.
Eduardo não se destaca por ser um grande interceptador de bolas, um recuperador de posse. A “volância” em seu caso se aplica na fluência de jogo, na dinâmica que ele oferece para o setor e no que isso contribui para o funcionamento da equipe. Pela idade e pelo currículo, com passagens por países e clubes com estilos e objetivos diversos, ele acumulou experiência suficiente para fazer da objetividade seu cartão de visitas.
O sistema de jogo botafoguense é o 4-2-3-1. O esquema tático apresenta dois meio-campistas posicionados atrás de Eduardo: Marlon Freitas pela direita e Tchê Tchê pela esquerda. Eduardo atua teoricamente à frente deles pela faixa central, onde propositalmente há um espaço para que ele faça esse vai-e-vem. Por isso a expressão dar liga ao time, completar a conexão entre defesa e ataque, a função básica do meio-campista. Marlon Freitas e Tchê Tchê são jogadores de bom passe e dinâmica de jogo, que encaixam perfeitamente no setor, que entrega eficiência mesmo sem contar com o que se convencionou chamar de um meia armador.

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Muitas vezes torcedores e analistas sonham com um camisa 10 clássico, elegante, descobridor de espaços, que tira passes mirabolantes das chuteiras. Mas há outras formas de atuação que suportam o setor de criação de uma equipe quando não há atleta com essa característica.
A solidez da campanha botafoguense, com 12 pontos e cinco vitórias de vantagem sobre o vice-líder Flamengo, não se explica apenas por Eduardo. Mas passa necessariamente pela fluidez que ele proporciona ao time com sua característica individual a serviço da proposta coletiva.