De volta à Série A, relembre as participações anteriores do CSA na elite do Brasileirão
De volta à elite do Brasileirão depois de mais de 30 anos, ao confirmar o vice-campeonato na Série B de 2018, o CSA recomeça a escrever sua história no torneio no qual foi assíduo entre meados dos anos 70 e 80. Em suas 11 participações na elite nacional, o clube cumpriu algumas boas campanhas e obteve vitórias marcantes. Relembramos aqui os principais momentos dessa trajetória, que continuará em 2019.
A primeira participação
A estreia do CSA no Brasileirão, em 1974, foi tumultuada antes mesmo de começar. Uma melhor de três com o rival CRB foi marcada para definir o participante do estado no torneio, que naquele ano contou com 40 clubes. Depois de dois empates nos dois primeiros jogos, os azuis venceram o terceiro por 3 a 1 na prorrogação e acreditaram ter confirmado a vaga. Mas o que se seguiu foi uma batalha no tapetão que se arrastou até poucos dias antes do início da competição.
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Quando enfim teve sua participação confirmada, o CSA foi incluído no Grupo B, que contava com paulistas, mineiros, pernambucanos, cearenses e amazonenses, além dos representantes únicos de Goiás, Mato Grosso e Distrito Federal. E a campanha foi decepcionante: isolado na lanterna da chave com apenas quatro pontos ganhos, o clube perdeu 16 de seus 19 jogos e chegou a ser goleado por 5 a 0 pelo Atlético Mineiro em Maceió.
A única vitória da campanha veio diante dos brasilienses do Ceub, penúltimos colocados no grupo, por 1 a 0, gol do atacante Giraldo. Curiosamente, os dois outros pontos ganhos viriam em empates com fortes equipes paulistas: em Maceió, o time segurou o 0 a 0 com a Portuguesa do técnico Oto Glória (campeã paulista no ano anterior) e com o São Paulo de Waldir Peres, Chicão e Serginho, que seria vice-campeão da Copa Libertadores naquela temporada.
A primeira grande campanha
A má campanha em 1974 não fez, porém, com que o clube perdesse o lugar no Brasileiro para o rival CRB, que só voltou ao torneio em 1976, quando mais uma vaga foi aberta para o estado, na ampliação para 54 clubes. Entre 1975 e 1979, o CSA cumpriu campanhas nitidamente melhores que a da estreia, mas não muito além de discretas. Em 1980, na nova reformulação que enxugou o número de participantes e criou divisões (Taça de Ouro e Taça de Prata), os azuis foram para a segundona, da qual seriam vice-campeões, perdendo a final para o Londrina.
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O vice-campeonato na Taça de Prata também valeu o acesso à de Ouro em 1981. Com o CRB também participando, na condição de campeão estadual do ano anterior, foi a última vez em que Alagoas teve dois times na elite nacional. E também acabou sendo a primeira grande campanha dos azuis na elite. Na primeira fase, porém, ela mais uma vez começou discreta, com derrotas para o Atlético Mineiro em Belo Horizonte (3 a 0) e para o Fluminense em Maceió (2 a 0).
Mas aos poucos o time foi encaixando e começou a aparecer o futebol de reforços como o folclórico ponta-direita Jacozinho, o meia Rômel, o jovem lateral Antunes e o ponta-esquerda Luís Paulo (os dois últimos vindos do Flamengo por empréstimo, como parte da negociação que levou o ídolo Peu ao time carioca). O CSA bateu o River (2 a 1), o Campinense em Campina Grande (1 a 0), empatou com o São Paulo em Maceió (2 a 2) e foi entrando na briga pela classificação.
Na reta final, depois de trocar de técnico (entrou Walmir Louruz no lugar de Alberto Meneses) a vitória por 3 a 2 em casa diante do América de Natal na oitava rodada foi crucial para colocar os alagoanos na fase seguinte, mesmo com a derrota de virada para o Sport (2 a 1) na Ilha do Retiro na última partida. Na segunda etapa, os times eram divididos em quadrangulares em turno e returno, que classificavam duas equipes para as oitavas de final.
No Grupo E, o favorito era o Vasco, enquanto o CSA brigaria pela outra vaga com o Galícia e o Nacional de Manaus. E os alagoanos levariam a melhor: venceram fácil os dois jogos contra os baianos (4 a 0 em Maceió e 3 a 1 em Salvador), perderam para o Nacional em Manaus (2 a 1) mas aplicaram um categórico 3 a 0 em casa e ainda empataram os dois jogos contra o Vasco, ambos por 1 a 1. No Maracanã, a igualdade veio com um gol do centroavante Dentinho a quatro minutos do fim da partida. O CSA terminou em segundo e passou às oitavas.
O adversário seria o Botafogo, que vinha em ascensão após um ótimo desempenho na segunda fase. No primeiro jogo, mesmo apoiado pelos mais de 25 mil torcedores no estádio Rei Pelé, em Maceió, o CSA não conseguiu furar a defesa alvinegra e ficou no 0 a 0. Na volta, no estádio botafoguense de Marechal Hermes, o time carioca venceu por 2 a 0 (gols do ponta Jérson e do hoje técnico Marcelo Oliveira) e pôs fim ao sonho alagoano.
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De qualquer modo, aquela já havia sido uma campanha histórica: a 13º colocação na classificação final do campeonato representava a primeira vez que um clube do estado ficava entre os 16 melhores do Brasil – o que se repetiria quatro anos mais tarde.
A segunda grande campanha
Tricampeão estadual entre 1980 e 1982, o CSA voltou a disputar o Brasileirão em 1982 e 1983, mas em ambos caiu na repescagem, disputada entre os quartos colocados dos grupos da primeira fase, perdendo respectivamente para Náutico e Sport. Curiosamente, aquelas derrotas levariam a duas finais da Taça de Prata naqueles anos, perdendo para os cariocas do Campo Grande e os paulistas do Juventus, repetindo o vice-campeonato de 1980.
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A perda do tetra estadual em 1983 significou ceder a vaga do estado ao rival CRB no Brasileirão seguinte. Em 1985, porém, com o caneco alagoano reconquistado, o time voltou ao torneio nacional. Desta vez, o regulamento havia mudado: os 44 clubes foram divididos em quatro grupos, sendo dois “dos grandes” (com 10 equipes cada) e dois “dos pequenos” (com 12). As chaves dos pequenos eram regionalizadas, com os times jogando entre si em turno e returno.
O CSA terminou na quarta colocação em ambos os turnos: no primeiro atrás de Sport, Mixto e Botafogo-PB, e no segundo atrás de Sport, Ceará e Nacional-AM. Também na classificação final, somando as duas etapas, o time ficou em quarto e se classificou para a fase seguinte após disputa acirrada e decidida em confrontos com paraenses. Na penúltima rodada, o time foi a Belém e arrancou um 0 a 0 com o Paysandu, rival direto. Quatro dias depois, jogando no Rei Pelé, bateu o eliminado Remo com facilidade por 3 a 0, pegando uma das vagas.
Treinada por Fidélis, ex-lateral do Bangu, Vasco e Seleção, aquela equipe de 1985 era mais modesta em relação à de quatro anos antes, mas mantinha Jacozinho como seu principal jogador – e ele vivia o auge de seu prestígio nacional depois de ter feito um golaço no amistoso que marcou a volta de Zico ao Flamengo. Além disso, durante a longa pausa entre a primeira e a segunda fase do Brasileiro (para que a Seleção disputasse as Eliminatórias para a Copa de 1986), o time conquistou o primeiro turno do estadual e chegou embalado.
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Assim como em 1981, a segunda fase dividiu os times em quadrangulares em turno e returno, mas desta vez apenas um avançava às semifinais. Embora animado, o CSA entrou como azarão: teria pela frente a forte equipe do Atlético Mineiro, além da dupla campineira, Guarani e Ponte Preta, que também contava com boas equipes. E os dois primeiros jogos foram exatamente contra os paulistas: dois empates sem gols em Maceió.
Em seguida, o time viajou a Belo Horizonte para enfrentar o Atlético e depois a Campinas para pegar a Ponte Preta, e perdeu ambos os jogos por 2 a 0. Na volta a Maceió, mais um empate sem gols em casa, contra o Galo, frustrou sua torcida, eliminando matematicamente o CSA. Na última rodada, o time conseguiu ao menos fazer seu primeiro gol, quando o atacante Luisão abriu o placar do jogo contra o Guarani no Brinco de Ouro. O azar é que do outro lado o centroavante Edmar estava inspirado e marcou cinco vezes na goleada bugrina por 6 a 1.
A última vez na elite
Jacozinho foi negociado com o Santa Cruz ainda naquele ano, após o Brasileiro, e não fazia mais parte do elenco do CSA naquela que seria sua última campanha no convívio com os grandes no torneio. Bicampeão estadual em 1985, o time voltou a representar o estado no campeonato nacional do ano seguinte e teve o retorno de Walmir Louruz ao comando. Em sua chave da primeira fase a equipe era considerada um azarão, mas surpreendeu ao conseguir ótimos resultados justamente contra os mais cotados daquele Grupo D.
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Exceto por uma derrota em casa para o Atlético Mineiro (2 a 0), o CSA goleou a Portuguesa (4 a 0), bateu o Palmeiras (1 a 0) e empatou com o Botafogo (1 a 1) jogando em Maceió. E mesmo fora de casa ainda conseguiu bons empates com o Fortaleza no Castelão e com o Vitória na Fonte Nova, ambos por 0 a 0. Num grupo bastante embolado nas posições intermediárias, terminou na sexta colocação, mas apenas dois pontos atrás da Lusa, vice-líder.
Na segunda fase, num grupo com nove clubes jogando em turno e returno, o time andou longe da classificação, mas colheu bons resultados. Venceu Sport (1 a 0), Bahia (1 a 0) e Náutico (2 a 1) em Maceió, além de aplicar um sonoro 3 a 0 no Comercial-MS em Campo Grande. E ainda somou empates com a Portuguesa (0 a 0 em São Paulo e 1 a 1 em casa), com a Inter de Limeira campeã paulista (1 a 1) e o Atlético-PR no Rei Pelé (0 a 0), e com o Náutico no Recife (1 a 1).
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O clube alagoano terminou em sétimo no grupo e em 25º na classificação final do campeonato, à frente de equipes como o trio pernambucano Sport, Náutico e Santa Cruz, o Botafogo, o Vitória e o Coritiba. No ano seguinte, o clube disputou o Módulo Amarelo do Brasileirão, mas terminou na lanterna de seu grupo em ambos os turnos e na última posição no geral, vencendo apenas duas partidas, contra o Rio Branco-ES e o Joinville.
Os confrontos com os grandes
Em todas as suas 11 participações na elite do Brasileirão entre 1974 e 1986, o CSA sempre mediu forças com pelo menos um dos chamados 12 grandes do futebol nacional. O único a quem os alagoanos nunca enfrentaram na história da competição foi o Internacional. Os adversários mais raros foram Flamengo e Grêmio: um confronto com cada um. Já o Fluminense teve o clube azulino pela frente nada menos que sete vezes, em cinco edições diferentes.
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Nos 38 jogos que fez contra os grandes pelo Brasileirão, o CSA obteve cinco vitórias, resultados históricos para o clube. Em 1975, abrindo sua segunda participação, o time venceu a única partida que fez contra o Grêmio por 1 a 0 em Maceió, com gol de Ênio. No ano seguinte, bateu o Botafogo por 2 a 1 com dois gols de Aluísio (Manfrini descontou para os alvinegros). Ainda naquela década, outra vítima foi o Cruzeiro, derrotado também por 2 a 1 em 1979, com Alberto e Aílton marcando para os alagoanos e Júnior Brasília anotando para os mineiros.
Na década de 80 viria a única vitória do clube sobre um grande do futebol brasileiro atuando fora de casa: um surpreendente 2 a 1 no Fluminense em pleno Maracanã, em 1983. A zebra passeou com gols de Jacozinho e do também folclórico centroavante Marciano (que rodou por inúmeros clubes brasileiros) para os alagoanos e do meia Zezé Gomes para os tricolores. Três anos depois, por fim, um gol de Nívio daria a vitória de 1 a 0 sobre o Palmeiras no Rei Pelé.
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Outra curiosidade é o retrospecto contra o São Paulo, no qual todas as três partidas terminaram empatadas. Jogando sempre em Maceió, os clubes não saíram do 0 a 0 em 1974 e em 1977 (ano de título dos paulistas). Já em 1981, quando o time do Morumbi foi novamente finalista, a outra igualdade terminou em 2 a 2. Já contra Corinthians (três jogos), Santos (dois jogos) e Flamengo (um jogo), o aproveitamento dos alagoanos é zero: o CSA perdeu sempre.
Quinzenalmente, o jornalista Emmanuel do Valle publica na Trivela a coluna ‘Azarões Eternos’, rememorando times fora dos holofotes que protagonizaram campanhas históricas. Para visualizar o arquivo, clique aqui.
Confira o trabalho de Emmanuel do Valle também no Flamengo Alternativo e no It’s A Goal.