Abel claramente descobriu caminho para o título do Palmeiras e mudou rota a tempo
Treinador decidiu trabalhar de outro modo o aspecto motivacional na reta final do Campeonato Brasileiro
Não faz muito tempo que Abel Ferreira cobrou Felipe Ânderson em entrevista coletiva. Também disse que a torcida tinha de se empenhar mais.
Pediu desculpas irônicas quando ouviu no estádio que o Campeonato Brasileiro era obrigação. Entrou em diversos embates com jornalistas. E fez duras críticas aos seus atacantes.
Já foi julgado por gesto obsceno. Teve de pedir desculpas públicas a uma repórter de rádio por uma fala de teor machista. E, no início da temporada, cansou de dar chiliques por ter de jogar em Barueri. E até disse que Flaco López não era argentino, por falta de “raça”.
Mas já faz duas rodadas que o português ligou o modo zen. Mesmo diante do show de ineficiência contra o Grêmio. E da falta de um futebol minimamente organizado na vitória sobre o Bahia (2 a 1).
Embora o futebol do time preocupe, esse jogo, vencido aos trancos, com um time cheio de desfalques, pode ter sido “aquele” que crava uma conquista.
É clichê falar em ‘pacto’, mas de que outro modo explicar a vitória do Palmeiras? https://t.co/eTuVLuNT36 via @trivela
— Diego Iwata Lima (@DiegoMarada) November 20, 2024
Porque Abel claramente entendeu que, se quiser seguir na briga pelo título, a hora é de amenizar o ambiente. E não de criar um clima beligerante na Academia de Futebol.
Palmeiras precisa de força mental
O momento no Palmeiras é de fortalecer o psicológico dos jogadores. E isso passa por modular o nível geral das cobranças e manter o ambiente o mais harmônico possível. Inclusive sem fomentar discussões com a torcida, para evitar que mais pressão recaia no grupo.
Na entrevista após a derrota para o Corinthians, Abel perdeu a calma quando lhe perguntaram se o Palmeiras tinha “muita folga e pouca obrigação”. Mas quando a Mancha Verde cantou o mesmo no jogo seguinte, contra o Grêmio, Abel se limitou a dizer que o descontentamento era reflexo da derrota para o maior rival.
Após a vitória sobre o Bahia, embora houvesse diversos pontos negativos a se ressaltar, o técnico escolheu ver apenas o copo meio-cheio.
— A verdade é que hoje fomos extremamente eficazes. Soubemos lidar e ser resilientes em momentos adversos do jogo. Notadamente quando sofremos o gol e nesta reta final. O que conta para nós é ganhar. Isso é o mais importante — disse ele.
— Esta atitude, que já vem do último jogo, no qual jogamos muito, criamos muito, empurramos o nosso adversário para trás e só conseguimos fazer um gol. Depois, cada um olha para aquilo que quer. Eu olho para a produção da equipe e a quantidade que nós produzimos e não fomos eficazes. E, hoje, não foi preciso produzir muito para fazer tantos gols. Assim como foi no último jogo, com tantas finalizações, só fazer um, nós, hoje, com muito menos, fizemos mais um.
Treinador prefere ressaltar a dedicação dos jogadores e elogia Felipe Ânderson
— Tivemos felicidade no jogo, também faz parte. Aquela que, se calhar, não tivemos. Ou eficácia que não tivemos no último jogo, acabamos por ter neste. Mas é verdade, tenho que concordar contigo: hoje foi a vitória do suor, foi a vitória da atitude, foi a vitória do Espírito — bradou
— Às vezes, é com a nota artística. Mas nem sempre dá para ter nota artística. E quando não dá para ter nota artística, temos que ganhar. Porque, no final de contas, o que conta é ganhar pontos. Dar os parabéns aos nossos jogadores, porque, de fato, foram bravos, lutaram, sofreram e aproveitaram o momento certo.
Dessa vez, ao falar de Felipe Anderson, a quem pediu mais ousadia, Abel teve um discurso bem mais suave, quando indagado sobre o rendimento do camisa 9 pela direita do ataque.
— Olha, eu sei que vocês gostam e eu tenho que responder às perguntas sobre forma individual, mas o futebol é um jogo coletivo.
— O Felipe é um jogador do coletivo. Eu acho que as pessoas acham sempre que os jogadores têm que resolver as coisas como se a equipa de futebol pertencesse a um jogador. Só que ele é um jogador de coletivo, um jogador que nos ajuda à direita, à esquerda, no centro. Acho que realmente, eu já disse isso, acho que lhe falta ser um bocadinho egoísta. Lembro-me do Lance em que ele tirou a defesa da frente e, a seguir, tem que chutar, não tem que passar. De egoísta o resto é um jogador que nós sabemos o que ele nos pode entregar, de quem todos gostam — completou.
Técnico aceitou “crítica construtiva” com sorriso
Em outros tempos, Abel não titubearia. Indagado, em Salvador, se Flaco deveria ter entrado antes na partida, ele facilmente diria que ele é o técnico. E que, para sê-lo, é necessário estudar e fazer cursos. Desta vez, no entanto, mostrou até certo tom de gratidão, com uma dose de autoironia:
— Flaco entrou na hora certa, certinha. Eu já tinha isso programado e já sabia. Já estava tudo programado: vai entrar aos 35, o Rony vai passar para a direita, vai haver um cruzamento do Vanderlan, ele vai entrar ao segundo poste… Já estava tudo…vocês não percebem. Eu sei, eu consigo prever o que vai acontecer. Quer que eu lhe diga? Entrou na hora que tinha que entrar, que eu achei que tinha que entrar. Claro que aceito a sua crítica construtiva. Podia ter entrado mais cedo, podia ter entrado mais tarde. Entrou na hora certa — afirmou.
Por fim, como se resumisse a atitude que decidiu tomar, o Abel da nova fase cravou:
— Eu acho que, hoje, mais do que nunca, o lado mental comanda tudo. Esta caixinha que vocês veem aqui [apontou para a própria cabeça], uns têm caixinha mais feia ou mais bonita. Mas isto que nós não vemos: o que está dentro da cabeça de cada um é capaz de fazer coisas mágicas — finalizou.