Abel diz que tratamento dado ao Palmeiras é desigual e isso pode fazê-lo sair
Palmeiras quebra lei do silêncio com entrevista forte do técnico português em que até o termo "xenofobia" foi mencionado por ele

Abel Ferreira voltou aos microfones depois de duas semanas. A lei do silêncio vivida no Palmeiras desde o jogo contra o Athletico-PR, no começo de julho, acabou após o empate sem gols diante do Inter, neste domingo (16), no Beira-Rio. Em 25 minutos de coletiva de imprensa, o treinador português falou sobre a partida, a cobrança para voltar a vencer e a má fase de alguns jogadores, mas o mais importante ficou nas entrelinhas.
A indicação feita por Abel em três diferentes respostas foi que há caminho aberto para sair do Palmeiras caso ele perceba um movimento de instâncias superiores — a CBF, na prática — para prejudicar seu trabalho. Não foi uma declaração explícita, mas uma sugestão: “Eu reflito sozinho e começo a pensar o que de fato vale a pena ou não vale a pena.”
A primeira indicação foi em resposta a uma pergunta sobre o calendário do futebol brasileiro. Abel Ferreira acha que o tratamento dispensado ao Palmeiras é desigual em relação aos adversários:
“Não sou eu que levo os jogadores ao extremo, é o calendário. Por que é que nós fomos jogar contra o São Paulo e tivemos só dois dias? Jogamos com o Athletico e tivemos dois dias para jogar com o São Paulo. Agora esta segunda mão, por que é que não foi na quarta-feira? Foi na quinta, o São Paulo só deveria ter direito a dois dias e teve direito a três. Não é igual. Aí agora para o Internacional só tivemos dois. Eu conheço o futebol brasileiro melhor que nunca e já dei aqui declarações muito fortes, mas não vou tirar uma vírgula daquilo que eu disse”, disse o português, antes de completar em tom de desabafo:
Quando você vê o máximo organismo que é a CBF dar luz de fazer um comunicado só para a equipe técnica do Palmeiras, quando outros treinadores o fizeram, e brasileiros, mas dedicaram um texto, um comunicado, só para a equipe técnica do Palmeiras, a mim faz-me pensar profundamente o que é que eu quero para mim. É porque quando a comissão de disciplina diz que tirei um telefone de um jornalista, ato mal-feito e pedi desculpa, mas outro jogador dentro do recinto puxou e jogou o telefone no chão, não é igual. Eu reflito sozinho e começo a pensar o que de fato vale a pena ou não vale a pena.”
O episódio a que Abel Ferreira se refere aconteceu com seu desafeto Calleri. O jogador do São Paulo derrubou de propósito o telefone celular de um torcedor na saída do Allianz Parque após a final do Campeonato Paulista de 2022. Calleri escapou de punição mais pesada ao pagar uma multa. Abel tomou o celular de um jornalista num jogo do Brasileirão e ficou suspenso por um jogo.
Confira a coletiva de Abel Ferreira ➤ https://t.co/NO6jJRsIQq#AvantiPalestra #INTxPAL#JuntosNoBrasileirão pic.twitter.com/A6wA4o9Gpm
— SE Palmeiras (@Palmeiras) July 16, 2023
“Querem caçar o João”, diz Abel Ferreira
Após o jogo contra o Athletico-PR, o auxiliar de Abel João Martins fez um desabafo contra a arbitragem em tom acusatório ao dizer que “é ruim para o sistema o Palmeiras ganhar dois anos seguidos”. Em sua primeira manifestação após a polêmica, o treinador saiu em defesa do assistente.
“Fico triste quando vejo entidades com responsabilidade acrescida a apontar setas só para para um lado quando no mesmo fim de semana vários treinadores tiveram desabafos (…) Mas a carta veio só endereçada com um nome, né? Veio com destino e isso faz-me refletir. Se calhar sou pequeno demais para estar no futebol brasileiro”, disse, antes de completar mencionando a palavra “xenofobia” num comentário sobre o tratamento dispensado a ele e sua comissão técnica.
“Infelizmente querem caçar o João, porque o João falou. Eu vou ficar atento o que vão fazer com o João e o que vão fazer com os outros que falaram a mesma coisa que o João. Vou ficar atento a isso para então perceber o que é xenofobia. Eu nunca estive num país em que ouvisse tanto esse termo, eu nem sabia o que era isso. Eu nunca estive num país que ouvisse tanto sobre xenofobia, racismo, preconceito e violência (…) Não são esses os valores que defendo.”
Abel Ferreira acha que as manifestações de Felipão e Renato Gaúcho naquela mesma rodada do Brasileirão foram no mesmo tom das de João Martins, mas sem reação parecida.