Confusão em Botafogo x Athletico-PR é reflexo de um futebol desorganizado e pouco cuidado
Botafogo x Athletico-PR foi suspenso por causa de problemas no Engenhão e resolução mostrou (mais uma vez) como o futebol brasileiro é desorganizado
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O líder Botafogo e o Athletico Paranaense entraram em campo neste sábado (21), às 21h (horário de Brasília), no que se tornou um dos novos horários nobres do futebol brasileiro devido à transmissão em tecnologia 4k de uma das detentoras de direitos de transmissão do Campeonato Brasileiro.
Antes da partida, um show de luzes, drones e um lindo mosaico da torcida em uma noite em que o Botafogo estreava o quarto uniforme, feito em parceria com a patrocinadora master do clube. O que era chamado de “Noite estelar” acabou totalmente sem luzes no Estádio Nilton Santos e em uma confusão gigantesca que retrata como o futebol brasileiro e os torcedores são tratados.
Durante o primeiro tempo, a energia do estádio caiu repetidas vezes, causando paralisações no jogo. E foi possível notar várias tentativas forçadas de continuar a partida sem que as luzes estivessem acesas por completo, mesmo com os protestos por parte do Athletico, principalmente do goleiro Bento e do técnico interino Wesley Carvalho.
Ainda na etapa inicial, uma grande dúvida pairou: o monitor do VAR na beirada do estádio não funcionava e o árbitro buscava retorno da equipe de vídeo, mas não recebia. Os gols das duas equipes saíram em lances com reclamações – possível empurrão de Tiquinho em Thiago Heleno e possível impedimento de Pablo -, mas não se sabia se era possível revisar. Uma dúvida de todos, inclusive do inexperiente árbitro Matheus Delgado Candançan, que apita a Série A pela primeira vez na carreira em 2023.
Fim de primeiro tempo e a expectativa era de que tudo melhorasse na etapa complementar. Ledo engano. Menos de dez segundos após o apito inicial, a energia caiu de novo. E aí a confusão foi instaurada. Após cerca de seis minutos em campo, os times desceram para os vestiários.
A partir daí até o momento em que este texto é escrito, as informações foram completamente desconexas, seja para quem estava no Estádio Nilton Santos ou em casa.
Foram alguns minutos até que os repórteres do sportv conseguissem as informações sobre o procedimento. Seriam dois relógios consecutivos de 30 minutos e a partida só poderia voltar se houvesse uma clara garantia de que a energia não cairia novamente.
Do lado de fora do estádio, funcionários da Light trabalhavam para tentar identificar o problema. Mas não demorou para que a companhia, assim como faz regularmente, colocasse a responsabilidade totalmente no Botafogo, afirmando que as equipes presentes no local “confirmaram defeito interno de responsabilidade do estádio”. Enquanto isso, torcedores e moradores do Engenho de Dentro relatavam falta de energia no bairro todo, inclusive com semáforos desligados.
Do lado de dentro, mais dúvidas. O diretor de futebol do Athletico-PR, Alexandre Mattos, chegou a ligar para representantes da CBF, mas não teve resposta, enquanto alguns jogadores já haviam até tirado as chuteiras.
bento comendo sua maçã e de chinelo bem de boa no escurokkkkkkkk pic.twitter.com/Po9rNgTsNG
— renata (@jinstantai) October 22, 2023
Até que os 60 minutos terminassem, o que ficou óbvio é que não existia um plano de contingência para algo assim. Parecia que havia uma torcida para que a energia retornasse com garantia de que o jogo acontecesse até o fim. E considerando o que aconteceu no primeiro tempo, não dá para dizer que isso é mentira.
Chegando perto do fim do tempo determinado, enquanto um funcionário retirava as bandeiras das áreas de escanteio e outros funcionários do estádio alertavam torcedores que o jogo foi cancelado, jogadores e diretores dos dois clubes seguiam no túnel do estádio sem nenhuma informação sobre a condição da partida. Ainda demoraram alguns minutos para que o árbitro Matheus Delgado Candançan informasse aos capitães que o jogo estava efetivamente suspenso, dizendo que os clubes seriam notificados dos próximos passos em devido tempo.
O momento de dúvidas
Com o jogo oficialmente suspenso, mais dúvidas surgiram. O Regulamento Geral de Competições (RGC) da CBF afirma que um uma partida suspensa deveria ser remarcada para o dia seguinte, às 15h (horário local), com presença dos torcedores que estiveram no estádio antes da suspensão. Mas a decisão tinha dois problemas: Flamengo e Vasco se enfrentam neste domingo no Rio de Janeiro e o Botafogo tinha um confronto marcado contra o Fortaleza na próxima terça-feira (24).
Enquanto ninguém no estádio sabia o que iria acontecer, o diretor de competições da CBF, Julio Avellar, foi entrevistado no sportv e afirmou que o jogo seria retomado às 15h do domingo, como citado pelo RGC, mas provavelmente sem pensar na partida entre Fortaleza e Botafogo, citando apenas um adiamento sem dar muitos detalhes.
A informação de Avellar chegou ao Engenhão segundos depois, enquanto Alexandre Mattos era entrevistado por repórteres. E Mattos disse que não tinha sido comunicado da decisão, sendo notificado só alguns minutos depois.
A CBF confirmou ao Sportv a realização de Botafogo x Athletico-PR amanhã, às 15h, antes de comunicar aos clubes. Há pouco, Alexandre Mattos passou aqui e disse que não era oficial, que não tinha recebido nada. Depois recebeu uma ligação e foi avisado. @trivela pic.twitter.com/T1MFuLERVT
— Gabriel Rodrigues (@gabrielcsr) October 22, 2023
Algumas horas depois, a CBF detalhou a decisão, afirmando que a retomada da partida não teria torcida por um acordo com a Polícia do Rio de Janeiro, que estaria comprometida com o clássico no Maracanã. E também veio a confirmação do adiamento de Fortaleza e Botafogo, sem data marcada, já que o calendário é completamente puxado no momento.
O problema é que, como detalhado pelo repórter Gabriel Rodrigues, a CBF rasga o RGC ao confirmar a retomada da partida. O artigo 21 é usado para confirmar o jogo, mas também detalha que ele deve ser retornado com torcida e que poderia ser adiado em caso de problemas de segurança. Já o 26, usado para adiar o confronto contra o Fortaleza, diz que o intervalo de 66 horas entre partidas não precisa ser respeitado em caso de jogo suspenso.
Agora, a CBF se coloca em um problema ainda maior, já que Flamengo e Fluminense também têm jogos em casa adiados por causa da final da Libertadores e o Fortaleza ainda tem mais uma partida adiada. Para encaixar todas as partidas em um calendário completamente apertado, provavelmente seja necessário disputar jogos na próxima Data Fifa. E aí temos novos problemas: as equipes envolvidas têm jogadores convocados para seleções normalmente e existe um quebra-cabeça para assegurar a realização das partidas no Rio, que também receberá o clássico entre Brasil e Argentina na próxima paralisação para jogos de seleções.
O problema do calendário apertado
A discussão sobre a realização ou não dos campeonatos estaduais é algo bastante comum no futebol brasileiro, e o colega Leonardo Dahi, da rádio CBN, levantou um ponto bastante relevante: o privilégio que os estaduais tem no calendário faz com que boa parte do Brasileirão tenha que ser realizada completamente sem problemas.
Já neste ano, quando havia um pouco mais de respiro, vimos uma situação curiosa: Corinthians e América-MG tinham jogos de Sul-Americana e Copa do Brasil no mesmo bloco de datas, o que causou que jogos do Brasileirão fossem deslocados para poder acomodar a partida de volta do confronto entre as equipes na competição de mata-mata.
Agora, com o Brasileirão em meio e finais de semana, além das decisões de Sul-Americana e Libertadores próximas, é quase impossível remarcar partidas para oferecer as melhores condições possíveis para os clubes e os torcedores.
No caso do Botafogo, a torcida não poderá comparecer ao restante do jogo contra o Athletico. E é bem provável que o jogo contra o Fortaleza seja marcado para a Data Fifa. A menos que Fernando Diniz decida não convocar Lucas Perri, o líder do campeonato perde um de seus jogadores mais importantes. E também é bom lembrar que Adryelson é um dos zagueiros bem vistos pelo técnico da Seleção, tanto que foi convocado para substituir o lesionado Nino antes do jogo contra o Uruguai.
Se o confronto contra o Botafogo fosse retomado na Data Fifa, o Athletico poderia não ter quatro jogadores, incluindo dois titulares no confronto deste sábado, no lateral Lucas Esquivel e no meia Bruno Zapelli, ambos convocados pela Argentina na última janela.
Tudo bem que é necessário que os estaduais aconteçam, mas talvez seja o momento de repensar como o calendário os trata, já que os momentos finais de um Campeonato Brasileiro podem ser bastante afetados pela falta de datas. É necessário que todos os jogos aconteçam de forma perfeita para que não aconteçam problemas.
E essas situações complicadas são mais comuns do que se imagina. Basta ver que a rodada atual da Série B também contou com problemas: a Chapecoense não conseguiu sair de Chapecó devido às condições climáticas e o jogo contra o Sport precisou ser adiado de sexta (20) para domingo (22).