Brasil

Atlético-MG x Cruzeiro: semana de clássico começa com ‘guerra extracampo’

Sérgio Coelho, presidente do Atlético-MG, e Gabriel Lima, CEO do Cruzeiro, trocaram farpas via imprensa, motivados por discussão de torcida única

“Cruzeiro e Atlético celebraram acordo para que haja torcida única nos clássicos das temporadas 2024 e 2025”. Assim começou o texto publicado por Atlético-MG e Cruzeiro, principais clubes do futebol mineiro e grandes rivais, para anunciar que nos próximos dois anos, todos os dérbis entre a dupla acontecerão com torcida única. A medida, que revoltou parte dos torcedores de ambos, e até mesmo Felipão, treinador do Galo, inaugura um novo cenário no futebol de Minas Gerais, que ainda resistia, mesmo que a trancos e barrancos, a ideia de impedir visitantes de assistirem o Superclássico.

Apesar da nota publicada pelos clubes anunciar um acordo de escolha da dupla, visto que optar por clássicos com torcida única foi uma iniciativa de Atlético-MG e Cruzeiro — Polícia Militar de Minas Gerais (PMMG), Ministério Público (MPMG) e demais órgãos de segurança se dizem aptos a atuar em partidas com torcida dividida, inclusive com divisão meio a meio (no mesmo fim de semana, Palmeiras e São Paulo jogarão a final da Supercopa do Brasil no Mineirão, com arquibancadas divididas) —, a relação dos dirigentes dos dois maiores clubes mineiros não é nada amistosa nos bastidores.

Problemas começaram no último Atlético-MG x Cruzeiro

Os problemas entre os clubes começaram ainda na temporada passada. Gabriel Lima, CEO do Cruzeiro, chegou a tentar promover uma “rivalidade que não ultrapassasse as quatro linhas”, chegando a afirmar que vislumbrava o time celeste atuando como mandante na Arena MRV, algo que revoltou a torcida estrelada, mas a paz durou pouco. Logo no primeiro clássico disputado no novo estádio atleticano, diversos problemas colapsaram a até então relação cordial entre as diretorias.

Desde antes da partida, disputada em outubro de 2023, pelo Campeonato Brasileiro, o Atlético-MG se mostrou interessado em realizar a partida com torcida única, o que não foi aceito pelo Cruzeiro, fazendo com que houvesse torcedores visitantes na Arena MRV. Mas a experiência passada pelos cruzeirenses foi lamentável.

A diretoria atleticana, justificando possibilidades de depredação, retirou portas dos banheiros, inclusive femininos, papel higiênico, sabonetes, forneceu quantidade insuficiente de água — totalmente congelada em alguns casos — para vendas aos torcedores estrelados, instalou tapumes, linha de seguranças e uma tela que atrapalhavam a visão do campo no setor destinado à torcida celeste, dentre outros atos que repercutiram negativamente Brasil afora.

No lado da torcida do Cruzeiro, houve depredação de cadeiras, equipamentos eletrônicos, como as catracas da Arena MRV, e outros objetos, confirmando o temor da diretoria alvinegra.

Ao fim da partida, vencida pelo Cruzeiro por 1 a 0, o Atlético-MG desligou o sistema de som da sala de entrevistas coletivas, por causa da instalação de uma bandeira da Raposa por parte da equipe de comunicação do time celeste, impedindo que a imprensa e o treinador Zé Ricardo tivessem boas condições de trabalho. Gabriel Lima ficou muito irritado com os acontecimentos, chegando a chamar a direção atleticana de antiprofissional. No dia seguinte ao clássico, o CEO da SAF do Galo, Bruno Muzzi, admitiu que o clube errou no tratamento aos cruzeirenses.

Estes acontecimentos resultaram em notas oficiais publicadas pelas duas equipes, questionando os fatos. O Cruzeiro chegou a orientar seus torcedores a procurarem a justiça e processarem o Atlético-MG. Muitos cruzeirenses acataram a sugestão, abrindo uma série de ações por dano moral que, somadas, se aproximaram dos R$ 1 milhão.

- - Continua após o recado - -

Assine a newsletter da Trivela e junte-se à nossa comunidade. Receba conteúdo exclusivo toda semana e concorra a prêmios incríveis!

Já somos mais de 3.200 apaixonados por futebol!

Ao se inscrever, você concorda com a nossa Termos de Uso.

Acordo vira “guerra extracampo”

Passado o último clássico, a diretoria atleticana teve ainda mais certeza de que o melhor para o clube seria a adoção de torcida única nos jogos contra o Cruzeiro, mesmo com parte dos torcedores alvinegros e celestes discordando de tal medida, com o entendimento que isso estaria “matando o futebol mineiro”.

Conforme o primeiro clássico de 2024 foi se aproximando, o assunto voltou à pauta e durante a última semana, foi definido que neste ano e no próximo — o prazo de dois anos do acordo garante que ambas as equipes recebam e visitem o rival na mesma quantidade de vezes — o Superclássico teria somente torcedores do time mandante.

Logo que saiu a notícia, dada em primeira mão por Sérgio Coelho, presidente do Atlético-MG em entrevista à Itatiaia, ficou a impressão de uma unidade entre os clubes, mas rapidamente tudo mudou. Poucas horas após as declarações de Coelho, Gabriel Lima falou com a Globo, confirmou o acordo e criticou o presidente atleticano.

— Eu vi as declarações do Sérgio. Me espantou, de certa forma, que o presidente do clube não conheça os detalhes de uma negociação tão importante como essa. Tenho certeza que ele é plenamente capaz de ler um documento de três páginas e entender cada um dos pontos e saber que ele é válido por dois anos. Então, de certa forma, me surpreenderam as declarações do Sérgio — disparou Lima.

Ele ainda afirmou que o acordo celebrado era confidencial e que, por isso, não poderia dar mais detalhes. Gabriel destacou que a ideia é utilizar os dois anos sem torcida visitante para “discutir de forma mais profunda sobre as implicações que aconteceram nos últimos clássicos”.

— É lamentável fazer um acordo como esse. Mas a gente entendeu como necessário para dar uma profundidade e tentar resolver essas questões de uma vez por todas quando a gente retome o clássico com as duas torcidas — avaliou Gabriel Lima.

— Não quero ver a torcida do Cruzeiro ser tratada pior que animal. Aliás, tem animais que são muito bem tratados, e devem ser bem tratados. Não quero ver a torcida do Cruzeiro ser tratada na Arena como foi no último jogo — continuou.

O CEO do Cruzeiro disse, ainda, que o acordo é irrevogável, exceto por acordo entre as partes. Além disso, Gabriel disse enxergar uma boa oportunidade para que o clube celeste volte a bater o recorde de público do novo Mineirão.

Sérgio Coelho rebate Gabriel e reforça “clima hostil” entre Atlético-MG e Cruzeiro

Presidente do Atlético, Sérgio Coelho não gostou nada das palavras de Gabriel Lima sobre ele e rebateu o executivo celeste de forma enfática. Em entrevista ao GE, Coelho afirmou que Lima é inexperiente e revelou uma tentativa do CEO estrelado de cancelar o acordo por torcida única.

—- Quero dar uma resposta ao Gabriel Lima e não à instituição que ele representa. Primeiro, quando Gabriel fala que se assustou com as minhas palavras, eu compreendo, por ele ser um menino novo e com muitos desafios pela frente. Segundo, eu participei ativamente da redação deste acordo. Eu sabia dos dois anos, só não deixei isso claro, na minha entrevista de ontem, para preservar o Gabriel, que estava no dilema de fazer um distrato, de quebrar esse acordo — declarou Sérgio Coelho.

— Galo e Cruzeiro fizeram um acordo de torcida única por dois anos, assinamos esse documento. Depois, Gabriel Lima começou a mandar mensagens através do WhatsApp, querendo desfazer desse acordo, e nós não aceitamos. Por isso, todo esse problema que está acontecendo. Todos me conhecem, sabe que quando eu dou a minha palavra, não precisa nem da minha assinatura. Ele que reveja os seus conceitos em relação a isso — revelou Coelho.

O presidente atleticano disse, ainda, que perdoa Gabriel Lima, a quem chamou de “dirigente novo que ainda não aprendeu a respeitar as pessoas”.

— Eu o perdoo, porque ele não é daqui e por isso não me conhece. Não sabe quem sou eu e nem da minha vida profissional. Segundo, porque ele é um dirigente novo e ainda não aprendeu a respeitar as pessoas. Ele as tem como inimigo e não como adversário. Acho que também deveria rever seus conceitos. E vida que segue, por mim, ponto final nessa pauta — disparou Sérgio.

Mesmo afirmando que sua resposta era destinada a Gabriel e não ao Cruzeiro, Sérgio não deixou de alfinetar o clube celeste, que não possui um estádio próprio, diferentemente do Atlético-MG. O Galo inaugurou sua arena há cerca de cinco meses.

— Obviamente ninguém gostaria de torcida única, mas quando ele dirigir um clube que tem sua casa própria, que tem seu estádio, ele vai entender que um dirigente responsável tem que tomar decisões para proteger o seu patrimônio e a integridade de sua torcida — finalizou Coelho.

Atlético-MG x Cruzeiro

Atlético-MG e Cruzeiro se enfrentam no próximo sábado (3), às 19h30, na Arena MRV, pela terceira rodada do Campeonato Mineiro. As equipes começaram o estadual de forma irregular. O Galo perdeu para o Patrocinense e venceu o Democrata de Governador Valadares, enquanto a Raposa bateu o Villa Nova e empatou com o Athletic. Este será o primeiro jogo da “Era torcida única” em Minas Gerais.

Foto de Maic Costa

Maic CostaSetorista

Maic Costa é mineiro, formado em Jornalismo na UFOP, em 2019. Passou por Estado de Minas, No Ataque, Superesportes, Esporte News Mundo, Food Service News e Mais Minas, antes de se tornar setorista do Cruzeiro na Trivela.
Foto de Alecsander Heinrick

Alecsander HeinrickSetorista

Jornalista pela PUC-MG, passou por Esporte News Mundo e Hoje em Dia, antes de chegar a Trivela. Cobriu Copa do Mundo e está na cobertura do Atlético-MG desde 2020.
Botão Voltar ao topo