‘É ridículo!’: Felipão dispara contra torcida única em clássico e mostra como atitude não é benéfica a ninguém
Atlético e Cruzeiro deverá ter torcida única no próximo sábado (3) e, assim como os torcedores, Felipão acha a decisão péssima
No próximo sábado (3), a Arena MRV vai receber mais um clássico entre Atlético-MG e Cruzeiro. Depois dos problemas no primeiro duelo entre eles na casa do Galo, em 2023, os clubes chegaram a um acordo para jogarem com torcida única, ou seja, só atleticanos nesse caso. A decisão desagradou boa parte dos torcedores (dos dois lados), mas não só eles, como também jogadores e o técnico Felipão, que criticou ferrenhamente esse tipo de atitude.
A decisão de torcida única, claro, não passa por jogadores, treinadores ou mesmos os mais afetados nisso: a torcida. As diretorias dos dois clubes e os órgãos de segurança que chegam a esse ponto. No caso de Atlético e Cruzeiro, há um remorso enorme pelos acontecimentos do clássico de 2023, quando o Galo tirou até portas e papéis dos banheiros do setor visitante (resultando em muitas ações contra o clube na justiça) e os cruzeirenses depredaram o local, dando grande prejuízo ao Alvinegro.
Diante desse cenário, as diretorias de Atlético e Cruzeiro assinaram um acordo, junto ao Ministério Público e a Polícia Militar, de adotarem torcida única no clássico, como revelou o presidente atleticano, Sérgio Coelho, na Itatiaia. E esse acordo não deve valer só para esse duelo, mas também para outros que virão.
Questionado sobre essa decisão, Felipão foi pego de surpresa e aproveitou para deixar registrado todo o seu descontentamento com essa atitude – que ele já presenciou em São Paulo, por exemplo.
– Torcida única? Não sabia. Eu acho ridículo! Eu não gosto de torcida única. Eu acho besteira. Temos uma parte destinada para a torcida adversária, por que não podemos ser gentis e ceder essa parte? Por que o adversário não pode nos ceder uma parte? Por que não existe respeito e as pessoas se odeiam por futebol? A vida é uma só. Eu acho ridículo e ponto — disparou o treinador.
E Felipão está longe de estar errado, pelo contrário, foi exaltado nas redes sociais por torcedores dos dois lados. Afinal, se Atlético e Cruzeiro podem chegar a um acordo por torcida única, será que é tão mais difícil assim um acordo por liberar 10%, ou melhor ainda, fazer um clássico 50/50?
Optar pela torcida única é o caminho mais fácil entre todos, e mostra como ninguém, dos clubes as autoridades competentes, quer resolver esse problema da violência das torcidas. Fechar um acordo para liberar uma porcentagem ao adversário, garantir que ambos terão as mesmas condições independente do estádio, acertarem que cada um paga o prejuízo que sua torcida causa, montar um esquema de segurança competente, tudo isso realmente demanda mais do que simplesmente implementar a torcida única, e deixa um recado de que ninguém (Atlético, Cruzeiro, MPMG ou PMMG) liga realmente para o torcedor ou se importa em resolver o problema.
Quem perde é o torcedor (e o espetáculo)
Nessa guerra de egos entre as diretorias, somada a falta de competência dos órgãos fiscalizadores e de proteção, como a PMMG, que não consegue garantir a segurança dos torcedores (independente do estádio), quem sai perdendo são as torcidas e, claro, o espetáculo.
Quem cresceu nos anos 90 e 2000 vendo um Mineirão lotado com 50% de cruzeirenses e 50% de atleticanos, é capaz de não ver isso nunca mais.
É claro, a torcida, de um modo geral, tem culpa, pois é parte dela que vai para as ruas brigar pelo simples fato de torcerem para times rivais, que destroem a propriedade do outro só por ser rival.
Não dá para eximir a torcida de culpa. Mas, não ter autoridades competentes para coibir, ou melhor ainda, prevenir isso, mostra como a nossa sociedade falhou. Falhou com pessoas, quando elas acham que devem bater em outro só por ser de time diferente. Falhou como modelo, quando a policia não consegue (ou não quer) evitar essas situações. E falhou como representatividade, quando quem escolhe o que é certo ou errado para um jogo dessa magnitude é quem não tem mais (se é que um dia teve) a vivencia da arquibancada, de um torcedor.