Brasileirão Série A

Ações de torcedores do Cruzeiro contra Atlético-MG e Arena MRV chegam a R$ 816 mil

Valores pedidos pelos torcedores do Cruzeiro são cinco vezes maiores que os R$ 150 mil pedidos pelo Atlético-MG para custear cadeiras quebradas por visitantes

O clássico entre Atlético-MG e Cruzeiro, primeiro disputado na Arena MRV, nova casa alvinegra, no último dia 22 de outubro, e que terminou com vitória celeste por 1 a 0, com gol contra do zagueiro Jemerson, pode custar mais que três pontos para o dono do estádio. Isso porque o clube, tanto associação como SAF, e a Arena Vencer Complexo Esportivo Multiuso Spe Ltda. (Arena MRV), são réus de dezenas de processos movidos por torcedores cruzeirenses, que alegam danos morais relacionados às condições oferecidas aos visitantes durante o confronto.

A reportagem da Trivela teve acesso a mais de 40 ações cíveis ajuizadas nos juizados especiais de BH e região metropolitana, que alegam, entre diversos pontos, que houve tratamento discriminatório e degradante contra a torcida do Cruzeiro durante o clássico — foi apontado que o tratamento concedido aos cruzeirenses feriu a dignidade da pessoa humana e os princípios de isonomia e igualdade. As ações, somadas, chegam a R$ 816.320,00. Ainda assim, outras ações, além daquelas a que tivemos acesso já correm na justiça.

Para se ter ideia de como esse é um movimento ainda constante, durante a produção da matéria, pelo menos mais duas ações foram ajuizadas. Sendo assim, o valor provavelmente ultrapassa os R$ 816,3 mil descritos.

Os valores pedidos pelos torcedores do Cruzeiro são mais de cinco vezes maiores que os R$ 150 mil cobrados pelo Atlético-MG pelas cadeiras quebradas pelos cruzeirenses durante o jogo. A avaliação do custo dos danos saiu na segunda-feira (23), e foi divulgada pela Itatiaia. De acordo com o Atlético, o clube celeste ainda não foi notificado da necessidade de arcar com os reparos. O alvinegro informou, ainda, que a questão está com o jurídico atleticano.

Dentre os pedidos aos quais a reportagem teve acesso, os valores pedidos variam entre R$ 10 mil e R$ 26,4 mil. Algumas ações foram feitas pelos mesmos escritórios de advocacia, o que fez com que as quantias se repetissem.

Torcedores do Cruzeiro denunciaram “tratamento degradante” na Arena MRV

Diversos cruzeirenses passaram a se movimentar em prol de acionar Atlético-MG e Arena MRV ainda antes do clássico mineiro, quando alguns problemas, como a retirada de portas dos banheiros masculino e feminino, ausência de produtos de higiene, como sabonetes e papel higiênico, falta de água potável gratuita, água sendo vendida totalmente congelada, problemas na visão do gramado, entre outros. Vejam quais foram as reclamações da torcida celeste:

  • As portas das cabines dos banheiros masculinos e femininos foram retiradas;
  • Não havia papel higiênico ou sabonete nos banheiros;
  • Não foram vendidas bebidas alcoólicas; a cerveja era sem álcool;
  • Não havia bebedouros na arena e a água estava sendo vendida completamente congelada;
  • A água vendida nos bares acabou durante o jogo;
  • A presença de muitos seguranças de frente a torcida encobria a visão de parte do campo;
  • A instalação da tela de proteção e de um tapume prejudicou a visão da partida;
  • A reprodução de músicas do estilo Rock n’ Roll num volume elevadíssimo, que teria gerado notificações de direitos autorais para jornalistas/influencers que faziam a transmissão do jogo do estádio via YouTube, para “abafar” as comemorações dos cruzeirenses após o fim da partida.

Num dos processos ajuizados, consta que “havia diversas crianças no evento, pessoas
idosas, relatos de mulheres transexuais etc, que sofreram ainda mais com todo o caos imposto na situação, especialmente com a falta de privacidade nos banheiros e interrupção de fornecimento de água potável para consumo em grande parte do evento”.

O documento afirma, também, que “as gravíssimas situações ocorridas exclusivamente contra a torcida do Cruzeiro Esporte Clube no evento esportivo em estudo feriram de forma escandalosa e até mesmo vexatória o Código de Defesa do Consumidor, Constituição Federal e o Código Civil”.

A ação judicial classifica, ainda, as atitudes do Clube Atlético Mineiro e Arena MRV como “levianas, mesquinhas e pequenas”.

Torcedora grávida reclama de “situações desrespeitosas, abusivas e ilegais”

Um dos processos ajuizados contra Atlético-MG e Arena MRV partiu de uma torcedora do Cruzeiro que se encontra grávida, com um pouco mais de seis meses de gestação. Na ação movida, ela alega que “durante e após o aludido evento esportivo de futebol, diversas situações desrespeitosas, abusivas e ilegais aconteceram”. De acordo com a denunciante, as condições às quais foi submetida feriram sua “honra, privacidade e integridade física e moral”. Além disso, segundo ela, a falta de água no estádio colocou sua saúde em risco.

— Os bebedouros do Setor da Torcida Visitante foram todos retirados e quase não havia água potável à venda no local, as únicas unidades encontradas estavam “totalmente congeladas” e a Autora, na condição de gestante, teve ainda maiores dificuldades em se hidratar e acabou permanecendo o evento praticamente inteiro com sede, o que a colocou em riscos — diz a ação.

De acordo com a gestante, ela ainda não recebeu tratamento voltado a Portador de Necessidades Especiais, condição em que se encontra pelo estágio avançado de sua gravidez. Segundo a ação, a torcedora grávida cruzeirense “foi levada a um local sem qualquer preferência, acessibilidade e visibilidade do campo, ofendendo as exigências do Estatuto da Pessoa com Deficiência e Portador de Necessidades Especiais”.

— Apesar dela se encontrar grávida e com a mobilidade reduzida, teve negado o pedido de fornecimento de água pelos seguranças do evento e teve prejudicado o direito de instalações físicas e sanitárias adequadas — consta na ação.

Além disso, foi citado que “a Arena MRV e o Clube Réu não disponibilizaram fila de acesso exclusiva para deficientes E Portadores de Necessidades Especiais (PNE), prejudicando o acesso e mobilidade de tais torcedores visitantes e atentando contra o Estatuto da Pessoa com Deficiência e PNE e a Lei Geral do Esporte”.

Declaração de CEO da Arena MRV é anexada

A declaração de Bruno Muzzi, CEO do Atlético e da Arena MRV, dada em entrevista ao O Tempo Sports na segunda-feira (23), na qual o gestor assumiu o erro em retirar as portas dos banheiros femininos foi anexada como prova em alguns dos processos.

— Erramos. Eu assumo. Foi um erro nosso ter tirado as portas dos banheiros femininos — disse Muzzi, na ocasião.

“Registra-se, inclusive, que, no dia 23/10/2023, o CEO do Clube Atlético Mineiro, Sr. Bruno Muzzi, admitiu – ainda que parcialmente – o próprio erro e reconheceu que “passou do ponto”, utilizando-se de argumentos levianos e ofensivos”, consta num dos processos.

Atlético-MG alegou que medidas foram tomadas para coibir depredação

Ainda durante a partida, o Atlético-MG emitiu nota oficial afirmando que “foram adotadas com base no monitoramento das forças de inteligência, que apontaram possíveis riscos de atos de vandalismo e depredação do patrimônio”, apontando uma suposição da possibilidade de danos materiais em detrimento da dignidade humana. Veja a nota atleticana:

“Prezados, sobre as reclamações dos torcedores do Cruzeiro na Arena MRV, o Atlético esclarece que:

Atendendo solicitação do Cruzeiro, acrescido à ata da reunião realizada na FMF, o Atlético reforçou a segurança do setor destinado à torcida visitante, a fim de impedir ação de eventuais danos causados por torcedores naquele local.

As medidas de proibição de venda de bebida alcoólica e retirada de itens dos banheiros foram adotadas com base no monitoramento das forças de inteligência, que apontaram possíveis riscos de atos de vandalismo e depredação do patrimônio.”

Cruzeiro se manifestou

Ainda no dia da partida, o Cruzeiro se manifestou em publicação nas suas redes sociais. A Raposa afirmou que iria notificar “oficialmente todas as esferas e órgãos públicos para que tomem ciência dos fatos ocorridos”. O clube mineiro incentivou, ainda, que os “torcedores, ora consumidores na Arena MRV, e que se sentiram lesados na forma do Código de Defesa do Consumidor, procurarem os seus direitos junto ao Poder Judiciário e ao Procon-MG”.

Veja a nota na íntegra:

Gabriel Lima, CEO do Cruzeiro, apareceu revoltado ao final do jogo. Apesar de não citar nomes, deu a entender que estava se referindo a dirigentes atleticanos. André Lamounier, diretor de Comunicação do Atlético-MG, havia dado declaração na nos dias que antecederam a partida, chamando o clube celeste de “ex-rival”.

— Falaram muita m… antes do jogo. Tem que respeitar. Querem profissionalismo? Mas não estão preparados — Gabriel Lima, na zona mista, após o final da partida.

Procurado posteriormente, o clube celeste afirmou que, no momento, não iria comentar mais sobre o assunto.

Foto de Maic Costa

Maic Costa

Maic Costa nasceu em Ipatinga, mas se radicou na Região dos Inconfidentes mineiros. Formado em Jornalismo na UFOP, em 2019, passou por Estado de Minas, Superesportes, Esporte News Mundo e Mais Minas. Atualmente, escreve para a Trivela e para o Futebol na Veia.
Botão Voltar ao topo