Coutinho se despede da Europa relativamente cedo, para ser estrela no Catar
Coutinho parece colocar um ponto final em sua carreira no futebol europeu, com 31 anos, e vai defender o Al-Duhail no Catar

A carreira de Philippe Coutinho em alto nível fica cada vez mais no passado. O meia nunca conseguiu reproduzir a magia vista no Liverpool desde que deixou Anfield em sua malfadada passagem pelo Barcelona. Teve alguns brilhos pontuais no Bayern de Munique, vencedor da Tríplice Coroa, e animou em sua chegada ao Aston Villa, o que respaldou sua volta à Seleção. Porém, o declínio acentuado se notou novamente no Villa Park, entre a falta de sequência e os problemas físicos. Depois de mais de uma década atuando na Europa, Coutinho vai para outro continente. Aos 31 anos, o carioca passará pelo menos um ano no Catar, apresentado pelo Al-Duhail.
Coutinho ainda tem contrato com o Aston Villa até junho de 2026, o que tornava sua venda um pouco mais complicada. Assim, o empréstimo se transforma numa solução. O meia assina por um ano com o Al-Duhail, num negócio que pelo menos garante sua sequência e alivia um pouco a folha salarial dos Villans. Ainda assim, parece bem mais um adeus ao alto nível no futebol europeu. Não se sugere que um possível destaque no Campeonato Catariano será suficiente para o camisa 10 recobrar seu espaço nas grandes ligas. Uma pena para quem teve um auge tão marcante, mas sofreu um repentino declínio.
A mudança de Coutinho é emblemática por acontecer ao mesmo tempo em que Neymar saiu para o Al-Hilal, no Campeonato Saudita. Os dois eram vistos como os grandes talentos de sua geração, que ainda teve Oscar buscando ainda mais cedo o Campeonato Chinês e Lucas Moura de volta ao Brasil agora. Pouco depois dos 30 anos, os quatro principais expoentes ofensivos da Seleção que conquistou Sul-Americano e Mundial Sub-20 em 2011 saem de cena das principais competições na Europa. De certa maneira, é um protagonismo que parece não ter atingido tudo o que poderiam, especialmente na seleção adulta.
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— نادي الدحيل ALDUHAIL (@DuhailSC) September 8, 2023
Os 13 anos de Coutinho na Europa
A história de Philippe Coutinho no futebol europeu é marcada por altos e baixos. O prodígio do Vasco não conseguiu emplacar na Internazionale, com um pouco mais de destaque durante seu empréstimo ao Espanyol. Porém, a sorte sorriu quando o Liverpool resolveu apostar na contratação do brasileiro em janeiro de 2013. Coutinho não só apresentou sua melhor forma na Europa com a camisa dos Reds, como também se fez importante num momento de reconstrução do clube. Virou um dos jogadores preferidos da torcida, por sua qualidade técnica e pela aptidão em realizar lances mágicos.
Coutinho disputou mais de 200 partidas pelo Liverpool e quase sempre se manteve saudável. Seu único problema é que figurou exatamente num hiato de conquistas dos Reds. Bateu na trave nos tempos de Brendan Rodgers e saiu antes que as glórias viessem com Jürgen Klopp. Tantas vezes o meia protagonizou a equipe, mas ficava no quase. Coletivamente, o Liverpool até se fortaleceu sem o brasileiro, com sua saída em janeiro de 2019. Meses depois, a Champions pintava no horizonte. Já o craque nunca encontrou um ambiente tão favorável longe de Anfield, mesmo levado a peso de ouro do Barcelona.
Nestes últimos cinco anos, a carreira de Coutinho ficou praticamente em suspenso. Não se achou no Barcelona e conviveu com as lesões. Mesmo os títulos de La Liga não aliviam sua barra. O empréstimo para o Bayern de Munique pintava como uma boa chance e o brasileiro teve algum destaque pontual, num time que empilhou taças. Porém, não se firmou como titular e os bávaros avaliaram que não valia a pena sua permanência, com uma cláusula de compra de nove dígitos. Nem a segunda chance no Barcelona auxiliou, com as questões físicas pesando ainda mais. Um breve respiro aconteceu mesmo no retorno à Premier League, em janeiro de 2022, com auxilio do velho companheiro Steven Gerrard, então treinador do Aston Villa.
Coutinho jogou bem praticamente por dois meses no Aston Villa. Teve um início de muito impacto no clube, mas que não se manteve na reta final da Premier League 2021/22. O clube, ainda assim, avaliou que deveria contratar o brasileiro em definitivo e pagou €20 milhões, com um vínculo de quatro anos. Pouco mais de um ano depois, soa como um péssimo negócio. A saída de Gerrard em 2022/23 aumentou os problemas do meia e ele não conseguiu mostrar serviço com Unai Emery. Cada vez mais parecia fora dos planos do treinador e sofria com o físico. Nesse início de temporada, quando entrou pelos Villans, Coutinho se machucou. Virou um jogador caro demais para a falta de importância. Se quisesse jogar, teria que ir mesmo para um centro alternativo. O Catar é o destino.
Dá para imaginar Coutinho sobrando no Campeonato Catariano, se conseguir ficar saudável. Tecnicamente o meia sobra e ele estará num nível bem mais baixo. Porém, parece pouco ao tamanho do talento do brasileiro. Sequer vai para o Campeonato Saudita, que ganha os maiores holofotes nesse momento. Tentará aparecer um pouco mais na Champions Asiática. O que vale é mesmo o dinheiro, num momento que um retorno à Europa soa como improvável, mesmo que ainda tenha vínculo com o Aston Villa.
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O momento do Campeonato Catariano
O Al-Duhail é um dos clubes mais importantes do Catar, campeão na última temporada. Além disso, os alvirrubros contam com vários nomes conhecidos, embora não com o mesmo nível de fama de outras temporadas. Coutinho sobrará como grande estrela. Hernán Crespo é o atual treinador, num elenco que reúne o zagueiro Rúben Semedo, o volante Ibrahima Diallo e o centroavante Michael Olunga entre seus estrangeiros. A equipe também é uma das bases da seleção do Catar, com a braçadeira de capitão pertencente a Almoez Ali, artilheiro e melhor jogador da Copa da Ásia em 2019.
Além disso, o Al-Duhail possui sua ligação com os brasileiros. Coutinho será o oitavo jogador do país a passar pelo clube. Dudu teve certo destaque por lá entre 2020 e 2021, presente na disputa do Mundial de Clubes. O atual elenco conta com o ponta Edmílson Júnior, que veio do Standard de Liège e está no clube desde 2019 como um nome de destaque. Já o volante Luiz Ceará chegou do Uniclinic ainda em 2010 e inclusive se naturalizou catariano, com passagem pela seleção local.
O Campeonato Catariano não apresenta a quantidade de recursos do Campeonato Saudita. No entanto, os investimentos no país vizinho também aqueceram o mercado local para a atual temporada. Coutinho é a principal estrela, mas não estará sozinho. O Al-Arabi contratou Abdou Diallo do Paris Saint-Germain. O Al-Gharafa conseguiu levar Lyanco, que estava no Southampton. O Al-Rayyan gastou bastante em brasileiros, incluindo Róger Guedes, Thiago Mendes, Gabriel Pereira e Rodrigo Moreno. O Al-Sadd levou Gonzalo Plata, Romain Saïss e Mateus Uribe como estrelas internacionais, enquanto apostou no garoto Giovani do Palmeiras e buscou o lateral Paulo Otávio no Wolfsburg. Já o Umm Salal fez um negócio interessante com Andy Delort.
O Catar também se tornou um destino para os antigos destaques do futebol saudita que perderam espaço com os novos negócios estelares. Entretanto, acaba sendo uma liga secundária mesmo dentro do contexto regional. Em partes, a contratação de Coutinho para o futebol catariano se assemelha ao que acontece com Andrés Iniesta levado ao futebol emiratense. Até pela idade de Coutinho, é uma perspectiva modesta, mas apenas aquilo que cabe ao seu declínio nestes últimos anos.