Palestina utiliza futebol como instrumento de resistência em meio à guerra em Gaza
Jibril Rajoub, chefe do futebol no país fala sobre o papel fundamental do esporte no país
A Palestina vive a tristeza e os horrores da guerra por conta dos conflitos em Gaza e a intensa disputa por território contra Israel. Mas diante deste cenário tão complicado e doloroso, o futebol é utilizado como instrumento de resistência e alegria para um povo sofrido, que tenta encontrar um alento ao ver a seleção fazer história na Copa da Ásia. Na última rodada da primeira fase, os palestinos venceram Hong Kong pelo placar de 3 x 0 e conquistaram uma classificação heroica na competição.
O dia 23 de janeiro entrará na história do país como a data em que o futebol causou uma comoção e felicidade jamais vistos em toda a nação. Após o apito final do jogo diante de Hong Kong, o que se viu no estádio Abdullah bin Khalifa foi o choro e alegria de uma população que ainda vive o medo e a ansiedade por conta da guerra, mas vê no esporte uma oportunidade única de se libertar dos problemas causados pelos conflitos armados na região.
Jibril Rajoub, presidente da Federação Palestina de Futebol, falou com exclusividade ao jornal Al Jazeera sobre como a seleção da Palestina está determinada a seguir em frente e conquistar cada vez mais espaço no futebol, mesmo enfrentando o triste cenário de guerra e como a Fifa, principal entidade do esporte bretão no mundo, pode ajudar o país nesta caminhada tão difícil.
Sucesso da Palestina na Copa da Ásia serve como inspiração ao seu povo
O dirigente da entidade afirma que o sucesso da seleção da Palestina na principal competição do continente asiático é uma maneira de expôr ao mundo o sofrimento do povo palestino e realçar a sua determinação e empenho para alcançar os seus objetivos. A triste situação apresentada na faixa de Gaza desde o início dos conflitos é utilizado como forma de motivar os atletas, que jogam por si, mas também para representar cada uma das famílias que sofrem por conta da guerra.
“Nós, a família palestiniana do futebol, acreditamos que o esporte pode ser uma boa ferramenta para expor o sofrimento do povo palestiniano e para realçar a sua determinação e empenho em alcançar os seus objectivos. O sucesso da equipe no meio de uma situação tão terrível motiva os nossos jogadores a conseguirem algo para o seu povo”, disse Jibril Rajoub.
O presidente da Federação Palestina de Futebol, além de enaltecer o trabalho de seus atletas na Copa da Ásia, revelou as dificuldades dos jogadores em se reunir para treinar no período que antecedeu a competição. O dirigente afirmou que parte dos jogadores estão refugiados em abrigos e não conseguiram viajar para a disputa do torneio. Na região da Cisjordânia, por exemplo, vários palestinos estão sendo forçados a sair do país, mas resistem e se unem para se manter dentro de seu território.
“Não é fácil. Temos muitos jogadores em Gaza que não puderam ingressar na seleção nacional de futebol e em outras seleções. Mas não devemos e não vamos desistir. Na Cisjordânia, estão sufocando toda a gente. Eles querem que todos saiam, mas nós estamos lá e continuaremos lá. Apesar da divisão política e geográfica na Palestina, estamos unidos”, afirmou o dirigente.
Seleção da Palestina é única atividade futebolística do país
Por conta dos conflitos armados, a única atividade do futebol no país são os compromissos da seleção da Palestina, que se mantém longe da guerra, com a federação local trabalhando para marcar amistosos para manter a equipe no ritmo certo para a disputa das Eliminatórias para a próxima Copa do Mundo em 2026. O resultado obtido na Copa da Ásia foi um recado ao mundo de que o povo palestino está unido e vai trabalhar ainda mais para continuar fazendo história dentro do esporte.
Além das Eliminatórias para a Copa do Mundo dos Estados Unidos, México e Canadá, a entidade máxima do futebol na Palestina tem marcado alguns jogos amistosos para manter o time entrosado. No próximo dia 11 de fevereiro a delegação do país vai se reunir na África do Sul para uma partida diante da seleção local.
“A seleção de futebol é a única que está funcionando no momento, por isso estamos tentando manter todos os jogadores fora da Palestina para continuarmos nossa qualificação para a Copa do Mundo de 2026 e participação em outros eventos como este torneio. Não temos escolha a não ser não desistir”, pontuou Jibril Rajoub.