O povo iraquiano exclamou seu orgulho na volta da seleção, após quatro anos sem jogar no país

Os desdobramentos dos conflitos armados que sufocam a realidade no Iraque são inúmeros. A população convive com o terror das mais diferentes maneiras, provocados por diferentes atores na luta pelo poder. E não bastasse a morte que se avizinha quase todos os dias, o medo das balas e das bombas, o povo ainda vinha sendo alijado de um dos poucos motivos de alegria. De uma das principais fontes do orgulho iraquiano: o futebol. Por conta da violência crescente no país, com o aumento da influência do Estado Islâmico em partes do território e com os ataques direcionados ao esporte, a Fifa proibiu em 2013 a seleção local de disputar seus jogos em casa. Foram quatro anos de ausência até que a ordem fosse revogada no último mês. Assim, nesta sexta, a cidade de Basra exibiu novamente o sorriso de milhares de torcedores, empurrando o time à vitória por 1 a 0 sobre a Jordânia.
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Localizada no sudeste do país, Basra foi estrategicamente escolhida para receber o amistoso, longe dos principais focos de violência, no norte e no oeste. Apesar disso, cerca de cinco mil agentes de segurança trabalharam para proteger o jogo de maiores riscos. As arquibancadas do Basra Sports City, estádio moderno inaugurado em 2013, estavam abarrotadas, com 60 mil espectadores. Os iraquianos não só carregavam as cores do país e os seus símbolos. Demonstravam também gratidão aos jordanianos, por terem se disponibilizado a enfrentar sua seleção, diante de toda a representatividade da partida.
E não houve momento mais impactante que o rugido das arquibancadas quando o Iraque decretou a vitória por 1 a 0. Ídolo nacional, o camisa 10 Alaa Abdul-Zahra anotou o gol decisivo aos 14 minutos do primeiro tempo, concluindo de cabeça um rápido contra-ataque de sua equipe. Provocou uma explosão de euforia na multidão, com milhares de bandeiras tremulando ao seu redor, em belo espetáculo. Ao final, o triunfo serviu para inflar um pouco mais o peito de seus compatriotas.
“É muito importante que voltemos a jogar diante de nossa torcida. Esperamos que as partidas oficiais também retornem aos nossos estádios”, declarou o lateral Ali Adnan, que defende a Udinese. A volta dos jogos competitivos para casa, aliás, é uma questão fundamental aos iraquianos. A equipe se agarra ao fio de esperança nas Eliminatórias da Copa de 2018, tentando buscar ainda uma vaga na repescagem. Terá mais dois jogos como mandante, inicialmente marcados para Teerã. Se o retorno para casa for permitido, a seleção ganha uma motivação imensa para a reta final da campanha. A difícil classificação pode até não vir, mas as novas cenas de união certamente ajudarão o país a seguir caminhando contra o terror.
Crowd chanting at Basra International Stadium tonight: "We sacrifice our blood & soul for #Iraq" pic.twitter.com/Z379YbIRpq
— Bin Maymun (@BinMaymun) 1 de junho de 2017