Ex-Everton está no centro de um escândalo de corrupção envolvendo o futebol da China
Ex-técnico da seleção chinesa, Li Tie, que teve passagem pelo Everton nos anos 2000, confessou ter participado de manipulação de resultados e subornado autoridades do futebol chinês

Com passagem pelo futebol inglês, o ex-jogador Li Tie, está envolvido em um escândalo de manipulação de resultados na China. Tie está sob investigação por “grave violação das leis” relacionadas à corrupção e, no mês passado, fez uma confissão televisionada, admitindo que pagou 3 milhões de yuans (cerca de R$ 2 milhões na cotação atual) em subornos para se tornar técnico da seleção chinesa. Ele também afirmou que manipulou resultados da Superliga Chinesa.
A informação caiu como uma bomba no futebol chinês. Segundo fontes ouvidas pelo jornal The Athletic, Li Tie era uma das figuras mais admiradas nos bastidores do esporte. O fato foi o estopim para que uma caça às bruxas se instalasse na alta cúpula da Associação Chinesa de Futebol (AFC). Chen Xuyuan, então chefe da AFC, e outras importantes figuras foram acusados de aceitar subornos. Várias outras autoridades chinesas também confessaram o envolvimento.
— Sinto muito. Eu deveria ter mantido a cabeça baixa e seguido o caminho certo. Havia certas coisas que eram habituais no futebol da época — afirmou o treinador, hoje com 46 anos, ao documentário.
Entre 2002 e 2008, o ex-volante atuou no futebol inglês, vestindo a camisa do Everton por quatro temporadas e outras duas pelo Sheffield United. No entanto, uma série de lesões prejudicou a carreira do atleta, que acabou retornando ao seu país de origem, onde atuou até 2011.
Manipulação de resultados e suborno para chegar à seleção
Depois de pendurar as chuteiras, Li passou algum tempo como assistente técnico antes de assumir o cargo principal no Hebei China Fortune, em 2015, e levá-los à primeira divisão Superliga Chinesa. Tempos depois, ele alcançou o mesmo feito com Wuhan Zall. Segundo a confissão do treinador, as duas promoções só aconteceram por meio de manipulação de resultados.
Em 2019, ele substituiu Marcello Lippi, que treinou a Itália até a glória na Copa do Mundo de 2006, como técnico interino da seleção chinesa antes de assumir o comando permanentemente.
Após não conseguir classificar a seleção chinesa para a Copa do Mundo do Catar, ele foi demitido. A demissão de Li foi uma surpresa, uma vez que a China estava em 63º lugar no ranking mundial da Fifa em 2022 – a melhor classificação da equipe de sua história. Um ano após sua saída, a Procuradoria Pública do país acusou o treinador de corrupção.
– Li Tie, ex-técnico da seleção chinesa de futebol masculino, era suspeito de aceitar subornos, oferecer subornos, oferecer subornos na unidade, aceitar subornos de funcionários não estatais e oferecer subornos a funcionários não estatais – disse a procuradoria.
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Corrupção x ‘guanxi'
Vários escândalos de manipulação de resultados e suborno explodiram no futebol chinês nas décadas de 1990 e 2000. O mesmo aconteceu em vários outros países da Ásia, maior mercado de apostas do mundo.
Porém, muitas vezes é difícil distinguir corrupção da prática chinesa de “guanxi”, que consiste em presentear pessoas e figuras importantes, que é uma característica cultural da sociedade e dos negócios chineses.
Em entrevista ao The Athletic, Simon Chadwick, professor de esporte e economia geopolítica na SKEMA Business School, trabalhou extensivamente na China e teve um breve contato com outro ex-Everton também chinês, Li Weifeng. Ele descreveu o ex-jogador como “uma pessoa relutante em discutir questões políticas, como todos os alunos chineses”.
Chadwick disse também que a campanha anticorrupção da China tem sido frequentemente utilizada como arma no mundo político faccional e conspiratório, tornando muito difícil saber a verdade sobre o que se passa em casos como o de Tie.