Ásia/OceaniaCopa da Ásia

Com três bolas na trave, o Quirguistão quase provocou uma surpresa histórica na Copa da Ásia

Há alguns jogos da Copa da Ásia que, pela falta de tradição das seleções, podem não chamar muita atenção. Ainda assim, guardam confrontos eletrizantes, no torneio que vem apresentando uma dose inegável de emoção. Tal rótulo serviria, por exemplo, para o embate entre Emirados Árabes Unidos e Quirguistão nesta segunda. Por mais que os emiratenses sejam os anfitriões da competição, o jogo não possuía grande apelo. Sorte de quem deu seu jeito de assistir à peleja e viu 120 minutos da mais pura insanidade boleira. Estreantes no certame continental, os quirguizes já tinham feito algumas ótimas apresentações na fase de grupos, demonstrando a boa organização ofensiva, apesar dos desleixos da defesa. E poderiam muito bem ter aprontado uma zebra sem tamanho em Abu Dhabi. A equipe, que forçou a prorrogação aos 47 da segunda etapa, acertou três bolas na trave ao longo da noite. A última delas, no lance derradeiro do tempo extra. Não evitaram a derrota por 3 a 2, com EAU aliviados após a batalha incessante.

Até parecia um jogo fácil ao time da casa. Emirados Árabes começaram mandando no ataque e, depois de uma ótima chance com Ali Mabkhout, abriram o placar aos 13 minutos. Cobrança de escanteio de Ismail Matar, para Khamis Esmaeel se aproveitar dos erros na marcação, completando de cabeça após desvio no meio da área. Apesar do susto, o Quirguistão não demorou a se recuperar. Empatou aos 26, em grande jogada de seu ataque. Akhlidin Israilov deu um belo passe por elevação a Mirlan Murzaev. O camisa 10 encontrou o espaço entre os marcadores, driblou o goleiro e, com pouco ângulo, completou a pintura.

O segundo tempo começou aberto. Mabkhout cabeceou com muito perigo e o Quirguistão respondeu com uma bola de Valeri Kichin no travessão. Logo depois, os dois goleiros fariam defesas, com Khalid Eisa dando sorte por seu erro no lance não resultar em um frango. A falta de experiência dos quirguizes atrás, de qualquer maneira, custaria caro outra vez. Após uma saída de bola errada, a marcação deu condições a Mabkhout sair na cara do gol e deixar os Emirados Árabes novamente em vantagem. Os visitantes lutavam bravamente e iam sufocando os emiratenses contra sua própria área. Após muita insistência, o empate aconteceu nos acréscimos. Cobrança de escanteio fechada para Tursunali Rustamov desviar no primeiro pau. Os ex-soviéticos sobreviveriam por mais 30 minutos.

Os Emirados Árabes pareciam ter mais fôlego para a prorrogação, especialmente pela entrada do artilheiro Ahmed Khalil.  Mabkhout perdeu dois lances claros logo de cara, até que a chance viesse aos dez minutos. Após um pênalti infantil, Khalil quase perdeu, mas conseguiu passar pelo goleiro Kutman Kadyrbekov. Por fim, restava aos quirguizes acreditarem. E somente o azar impossibilitou o empate. Bakhtiyar Duyshobekov carimbou o trave com uma cabeçada. Já o lance mais doloroso ocorreu a 15 segundos do fim. Rustamov limpou a marcação e, de frente para o gol, encheu o pé. A bola caprichosamente bateu na parte interna do travessão, antes de ser neutralizada. Os jogadores desabaram ao apito final, sem esconder a decepção.

A uma seleção que nunca participou da Copa da Ásia e sequer possui relevância nas Eliminatórias da Copa, o Quirguistão merece ser acompanhado de perto depois do que aprontou no torneio continental. Possui alguns talentos individuais e uma equipe bem encaixada pelo técnico russo Aleksandr Krestinin. Uma pena que as muitas falhas defensivas tenham custado os resultados. Mas, melhorando neste aspecto, é time para retornar à competição em breve. Entre suas atuações ruins no torneio, os Emirados Árabes avançam às quartas de final. E sabem que precisarão de muito mais contra a Austrália, se quiserem realmente fazer as honras da casa. A sorte esteve ao lado dos emiratenses até o momento, o que parece pouco a uma campanha realmente relevante.

A Austrália também sofreu para avançar

Outros dois confrontos das oitavas de final da Copa da Ásia aconteceram nesta segunda-feira. No jogo que abriu o dia, o Japão teve uma atuação consistente e derrotou a Arábia Saudita por 1 a 0. Mais difícil foi o trabalho da atual campeã, a Austrália. Os Socceroos também faziam um duelo cascudo contra o Uzbequistão. O empate sem gols prevaleceu durante 120 minutos, até que a definição fosse para os pênaltis. Melhor para os australianos, que contaram com a inspiração do goleiro Mat Ryan e ganharam por 4 a 2 na marca da cal.

Em um jogo travado, o primeiro tempo viu o Uzbequistão criar as melhores oportunidades. Mat Ryan parou Eldor Shomurodov e levou um susto na bomba de Javokhir Sidikov. Somente no segundo tempo é que os australianos tomaram o controle do jogo, dando trabalho ao goleiro Ignatiy Nesterov. O veterano ia garantindo o placar zerado, com defesas salvadoras diante de Mathew Leckie e Tom Rogic. A cinco minutos do fim, de qualquer forma, Odil Ahmedov por pouco não deu a vitória aos Lobos Brancos. Já na prorrogação, a tentativa de pressão dos Socceroos pouco valeu. Segurando o 0 a 0, os pênaltis pareciam a chance perfeita para os uzbeques desbancarem os favoritos.

O Uzbequistão até começou em vantagem, quando Nesterov defendeu a cobrança de Aziz Behich, a segunda dos oponentes. Só que Mat Ryan, herói no título asiático de 2015, voltaria a dar esperanças para a Austrália. Logo em seguida ele pegou a bomba de Islom Tukhtakhujaev no meio do gol e, depois, também saltaria no canto certo para buscar a batida de Dostonbek Khamdamov. Ao final, Leckie converteu seu chute e confirmou o avanço dos australianos. São favoritos contra os Emirados Árabes, mesmo jogando na casa dos adversários.



Foto de Leandro Stein

Leandro Stein

É completamente viciado em futebol, e não só no que acontece no limite das quatro linhas. Sua paixão é justamente sobre como um mero jogo tem tanta capacidade de transformar a sociedade. Formado pela USP, também foi editor do Olheiros e redator da revista Invicto, além de colaborar com diversas revistas. Escreveu na Trivela de abril de 2010 a novembro de 2023.
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