Sul-Americana

Maurício Noriega: Luxa falar em estratégia na classificação do Corinthians é muita cara-de-pau

Cássio foi o Exército de Um Homem Só, salvando o Timão com o auxílio das traves, que concentraram os pontos decisivos de uma equipe encurralada

Entendo a emoção provocada no experiente treinador corintiano Vanderlei Luxemburgo pela dramática classificação na Copa Sul-americana. Esta emoção talvez tenha alterado momentaneamente sua compreensão dos fatos. Uma de suas afirmações na coletiva após o jogo foi a seguinte: “A estratégia deu certo porque o time conseguiu a vaga. Errado é quando a gente não consegue resultado”.

Luxemburgo foi um dos maiores treinadores do Brasil em seu auge, lá pelo final dos anos 1990 e início dos 2000. Inquieto, inovador, ousado e, sempre, vaidoso. Mas falar em estratégia num jogo em que seu time foi encurralado pelo adversário, não teve ações de contra-ataque programadas, sofreu 30 finalizações, levou quatro bolas na trave, um gol e chutou apenas sete vezes contra a baliza rival é muita autodefesa até para alguém acostumado a mudar o foco.

Estratégia teria sido o seguinte: antes do jogo, Luxemburgo dizer que seu time seria sufocado, Cássio faria grandes defesas, o time sofreria mais de 20 finalizações, se recusaria a jogar porque apostava em seu arqueiro nas penalidades. Querer surfar na onda de uma classificação que deve ser creditada ao espetacular goleiro corintiano e sua fiel escudeira, a trave, é muita cara-de-pau, Luxa!

O Corinthians tem severas dificuldades para atuar como time. Passa boa parte do jogo se livrando da bola para lutar pela recuperação e novamente se livrar da pelota. A saída de jogo não tem movimentos coordenados, a distribuição dos ateltas em campo faz com que Yuri Alberto precise se comunicar via satélite com o meio-campo, que por sua vez manda e-mails pesados, que demoram a carregar, para a defesa.

Cássio é o maior goleiro da história do Corinthians por atuações como a de La Plata. Menos pelo pênalti defendido, quando o muito bom Rollheiser escorregou, mas em especial pela defesa providencial em outro chute do camisa 10 argentino que o goleiro desvia de leve rumo à trave que estava benta por São Jorge. Cássio intimida atacantes e é daqueles atletas que têm obsessão por jogo grande e decisivo. Pode engolir um frango num amistoso ou numa terceira rodada de estadual, mas quando o bicho pega é que mostra porque é dos maiores goleiros do Brasil em todos os tempos.

Óbvio que o corintiano deve festejar uma classificação dramática diante de um adversário superior. Mas negar a fragilidade tática de sua equipe e a falta atual de ideias de um treinador outrora genial é loucura.
Luxemburgo versão 2023 é um técnico retranqueiro, que tenta e não consegue anular o adversário jogando com cinco na defesa ou no meio, deixando a posse com o rival e apostando num contragolpe que quase nunca acontece por prática e repetição. Tem vivido às custas de um goleiro excepcional e de um meio-campista veterano e raro na inteligência e execução como Renato Augusto. Em sua defesa o treinador pode argumentar que perdeu Róger Guedes e Murillo e descobriu Gabriel Moscardo. Mas não conseguirá convencer que, mesmo com todas as peças à disposição, fez seu time executar uma estratégia por duas partidas seguidas.

O Corinthians pode vencer a Sul-americana porque tem grandes jogadores, tradição e torcida. Mas pegar carona em uma estratégia que não existiu numa noite na qual deveria reverenciar seu goleiro e agradecer aos seus protetores espirituais não cabe num currículo recheado de conquistas como o de Vanderlei Luxemburgo.

Foto de Mauricio Noriega

Mauricio Noriega

Colunista da Trivela
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