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Recorde sul-americano, pouca tradição europeia entre cabeças de chave

O sorteio da Copa do Mundo de 2014 acontece apenas em dezembro, mas uma parte importante do chaveamento está praticamente definida. Sete seleções já asseguraram suas posições como cabeças de chave e o Uruguai só depende de sua classificação ao Mundial para se juntar ao grupo. Como a Fifa tinha antecipado, a condição será definida por seu ranking de outubro – que será divulgado amanhã, mas que pode ser calculado no site da entidade. E, pela primeira vez, a América do Sul terá entre três e quatro representantes, algo inédito na história do torneio.

Por ser o país-sede, o Brasil já estava garantido como um dos líderes no sorteio, embora vá perder algumas colocações no ranking – segundo a simulação, irá de 8º para 11º. Além disso, outros times consolidaram as posições já conquistadas em setembro. Alemanha, Argentina, Bélgica, Colômbia e Espanha tiveram bons desempenhos em seus últimos jogos e continuam entre as sete primeiras da classificação.

A surpresa fica para as duas últimas vagas aos cabeças de chave. A Suíça venceu seus dois últimos compromissos nas Eliminatórias e, além de se classificar ao Mundial, subiu sete colocações no ranking. Vai assumir a sétima posição, o suficiente para ser privilegiada no sorteio, deixando para trás seleções de peso, como Itália, Holanda, Inglaterra e França, se passar. A Espanha e a Alemanha serão as únicas equipes europeias campeãs do mundo no posto.

Já o Uruguai é o sexto no ranking, mas ainda precisa passar pela Jordânia na repescagem. Caso a Celeste sofra a eliminação, a Holanda assume o lugar. A Oranje e a Itália ficarão com os mesmos 1136 pontos no ranking de outubro, mas os holandeses têm vantagem nas casas decimais. Todavia, a classificação do Uruguai deve tornar ingrata a vida de pelo menos um sul-americano. Com a distribuição de países nos outros potes por regiões geográficas, dois europeus terão que ficar em um grupo encabeçado por uma seleção da América do Sul. Uma vida longe de ser fácil.

Depois de adaptar insistentemente a escolha dos cabeças de chave nas últimas Copas, com diferentes critérios, a Fifa manteve a solução encontrada para o Mundial de 2010. A entidade até poderia esperar a classificação de França e Uruguai na repescagem, deixando oito grupos encabeçados por campeões do mundo, mas ficaria muito suscetível ao acaso de um dos dois países não garantir a vaga. Tomar o ranking por base talvez não ser o ideal para separar as seleções mais fortes. Porém, a Fifa finalmente adotou uma postura coerente.

Brasil com lugar cativo, Itália de fora
Hoje técnico da Bélgica, Wilmots foi cabeça de chave em 1990 e 1994
Hoje técnico da Bélgica, Wilmots foi cabeça de chave em 1990 e 1994

O sorteio da Copa do Mundo com cabeças de chave será realizado pela 12ª vez na história da competição. Nas Copas de 1934 e 1938 não havia fase de grupos, enquanto em 1930 e entre 1958 e 1974 a separação das seleções no chaveamento adotava apenas critérios geográficos. E o Brasil é o único país que encabeçou seu grupo em todas as ocasiões. Em 1950 foi como país-sede, em 1954 como atual vice-campeão. Já a partir de 1978, os títulos mundiais e as boas posições do ranking sempre asseguraram a condição.

Enquanto isso, a Itália é a grande prejudicada do novo sistema adotado pela Fifa. A Azzurra foi cabeça de chave em todos os Mundiais desde 1982, mas o empate com a Armênia na despedida das Eliminatórias atrapalhou a manutenção da escrita. Apenas o Brasil e a Alemanha, que permanece intocável na condição desde 1978, têm mais aparições como líderes de grupo no sorteio.

E a Colômbia é a única seleção que estreará como cabeça de chave. Embora não tenham títulos mundiais, Bélgica e Suíça já sustentaram a posição. Os suíços ganharam a oportunidade em 1954, quando sediaram a Copa. Já os belgas foram agraciados pela Fifa em outras duas ocasiões, em 1990 e 1994, quando a presença nas semifinais do Mundial de 1986 facilitou a preferência. Em compensação, o bicampeão do mundo Uruguai não é cabeça de chave há 60 anos.

Se a Celeste não se classificar, apenas metade dos líderes de grupo já foram campeões do mundo, o percentual mais baixo desde 1998. E, com Bélgica e Colômbia, será a primeira vez desde 1950 que duas seleções que não foram à Copa do Mundo anterior são cabeças de chave. Antes da dupla, as exceções eram Uruguai (1950), Inglaterra (1950), Hungria (1954), Inglaterra (1982), México (1986), França (1998) e África do Sul (2010).

Confira todos os cabeças de chave na história das Copas do Mundo

1930: Não houve, potes divididos geograficamente
1934 e 1938:
Não houve, apenas mata-matas
1950:
Brasil, Itália, Uruguai, Inglaterra
1954: Suíça, Uruguai, Brasil, Hungria
1958 a 1974: Não houve, potes divididos geograficamente
1978: Argentina, Alemanha Ocidental, Holanda, Brasil
1982: Espanha, Argentina, Brasil, Itália, Alemanha Ocidental, Inglaterra
1986: México, Itália, Alemanha Ocidental, Polônia, França, Brasil
1990: Itália, Brasil, Argentina, Alemanha Ocidental, Bélgica, Inglaterra
1994: Estados Unidos, Alemanha, Argentina, Bélgica, Brasil, Itália
1998: França, Brasil, Itália, Espanha, Alemanha, Holanda, Romênia, Argentina
2002: Japão, Coreia do Sul, Brasil, Alemanha, França, Itália, Argentina, Espanha
2006: Brasil, Inglaterra, Espanha, Alemanha, México, França, Itália, Argentina
2010: África do Sul, Brasil, Espanha, Holanda, Itália, Alemanha, Argentina, Inglaterra
2014: Brasil, Alemanha, Argentina, Espanha, Suíça, Bélgica, Colômbia

Foto de Leandro Stein

Leandro Stein

É completamente viciado em futebol, e não só no que acontece no limite das quatro linhas. Sua paixão é justamente sobre como um mero jogo tem tanta capacidade de transformar a sociedade. Formado pela USP, também foi editor do Olheiros e redator da revista Invicto, além de colaborar com diversas revistas. Escreveu na Trivela de abril de 2010 a novembro de 2023.

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