Libertadores

Reerguidos por empresários, Palmeiras e Atlético-MG fazem mais uma decisão

Palmeiras e Atlético-MG estavam em baixa até empresários torcedores dos clubes assumirem o comando e os reerguerem

Palmeiras e Atlético-MG se enfrentam às 21h30 desta quarta-feira (9), pelo segundo jogo das oitavas de final da Copa Libertadores. Os dois times chegaram até esse momento de protagonismo com a ajuda de empresários no comando, que trabalharam de formas diferentes para isso.

Os dois clubes foram rivais nas duas últimas fases eliminatórias da Libertadores. Em ambas o Palmeiras levou a melhor. Em 2021, classificou contando com a regra do gol fora após um 0 a 0 no Allianz e 1 a 1 no Mineirão. Já em 2022 a classificação veio nos pênaltis após 2 a 2 em Minas e 0 a 0 em São Paulo. Os times chegaram nessa fase de protagonismo com a ajuda de empresários, que moldaram as instituições de forma diferente.

Palmeiras e Paulo Nobre x Atlético e 4Rs

O Palmeiras, que tem a vantagem no confronto por ter vencido por 1 a 0 no Mineirão, vivia um dos piores momentos de sua história em 2013, quando Paulo Nobre assumiu a presidência do clube. Milionário e palmeirense, Nobre pegou seu time do coração na Série B e entregou ele campeão da Copa do Brasil e da Série A em dois mandatos.

O empresário conseguiu fazer isso através de várias ações no clube, como reestruturação do sócio torcedor e das categorias de base, profissionalização de toda a estrutura e aumento de receita. Algo que ajudou nisso tudo foi um empréstimo que ele mesmo fez ao Palmeiras, de cerca de R$ 200 milhões, para ajudar a pagar dívidas e equilibrar as finanças, além de investir em contratações.

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O empréstimo de Paulo Nobre não foi uma doação, mas aconteceu com juros extremamente baixos, justamente para não onerar muito o clube. Inicialmente, ele previa de 15 a 20 anos para o clube pagá-lo através de um fundo. Depois, com o sucesso alcançado, a projeção caiu para 10 anos. Mas o Palmeiras conseguiu quitar toda essa dívida em apenas três.

Já do lado do Atlético, o mecenato começou em 2020, quando o clube iniciou o ano sendo eliminado logo de cara na Sul-Americana, para o Colón (ARG), e na Copa do Brasil, para o Afogados-PE. Os denominados 4Rs (Rubens Menin, Rafael Menin, Ricardo Guimarães e Renato Salvador), empresários que já ajudavam o clube esporadicamente, decidiram se unir com a diretoria e formar um conselho para começarem a aportar dinheiro e ajudar o Galo.

Mesmo com a pandemia, os 4Rs fizeram investimentos de mais de R$ 100 milhões no time do Atlético em 2020, sempre falando que eram empréstimos sem juros ou correções, e que o clube poderia pagá-los quando desse. Com esses investimentos, o Galo passou a lutar por título e, em 2021, venceu o Brasileirão após 50 anos de jejum e também conquistou a Copa do Brasil.

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Por outro lado, como o dinheiro foi mais usado para contratações do que em dívidas, o Atlético teve um grande aumento de sua dívida, que hoje em dia está na casa de R$ 1,8 bilhão, fugindo completamente do controle do clube e indo por um caminho diferente do prometido pelos empresários. Com isso, o clube viu a SAF como a única saída, e os compradores foram justamente os 4Rs, que transformaram a dívida deles com o clube em porcentagem dentro do clube-empresa.

Diretoria do Atlético-MG
A diretoria do Atlético, na ordem: José Murilo Prcópio (VP), Rubens Menin, Sérgio Coelho (Presidente), Ricardo Guimarães e Renato Salvador (Pedro Souza/Atlético)

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Diferença dos empresários

A diferença da forma como Palmeiras e Atlético se beneficiaram do dinheiro de empresários é clara. Enquanto o Verdão equilibrou as contas e se tornou um dos times mais vencedores do Brasil nos últimos 10 anos, sendo hoje um clube estável e rentável, o Galo teve um “estilo foguete”, subindo rapidamente e atingindo o ápice com títulos, mas caindo logo na sequência e hoje sendo ainda mais caótico e instável do que era antes.

Paulo Nobre optou por emprestar boa parte do dinheiro dele para ajudar no pagamento de dívidas e equilibrar o cofre do Palmeiras. Já Rubens Menin e os Rs colocaram a maior parte do investimento no time, com contratações e salários, praticamente dobrando a dívida do Atlético. É verdade que a dívida atleticana era muito maior que a palmeirense quando os empresários assumiram seus clubes, o que torna as coisas mais difíceis, mas não justifica um conseguir diminuir e o outro dobrar.

“É importante deixar claro que eu não sou mecenas. Eu não dei dinheiro para o Palmeiras. Eu emprestei a uma taxa que o clube jamais conseguiria pegar”, disse Nobre em entrevista a IstoÉ em 2016. Os 4Rs do Atlético também adotam o discurso de não serem mecenas, apesar de serem sempre chamados por essa alcunha.

  • Paulo Nobre no Palmeiras: entrou com a dívida na casa dos R$ 300 milhões, pagou as que “sufocavam” o clube com o próprio dinheiro, e entregou com R$ 282 milhões em dívidas, sendo cerca de R$ 100 milhões da dívida com ele mesmo pelo empréstimo
  • 4Rs no Atlético: entraram com cerca de R$ 850 milhões de dívida, investiram muito no time, pagaram algumas dívidas, mas hoje ela está na casa de R$ 1.8 bilhão

Reformas internas nos clubes

Paulo Nobre, que foi também presidente, optou por estruturar o clube e profissionalizá-lo. Com ele, o Palmeiras dobrou a arrecadação (2012: R$ 241,1 milhões > 2016: 430 milhões) e o valor de patrocínio recebido (2012: R$ 38 milhões > 2016: R$ 66 milhões), além de ter feito uma reformulação no sócio torcedor, que saiu de cerca de 15 mil para mais de 125 mil e hoje possui mais de 182 mil. O empresário também ajudou na reformulação da base palmeirense, que hoje é umas das melhores do país, revelando nomes que ajudam o time em campo e financeiramente, como Gabriel Jesus e Endrick.

Já os 4Rs, que só agora vão ser oficialmente donos do clube, sendo antes apenas investidores que trabalhavam junto da diretoria, também ajudaram nas questões internas. O número de sócios saltou de cerca de 20 mil, chegou a passar de 100 mil em 2021, mas hoje é de 83 mil. O faturamento também aumentou, saiu de R$ 256 milhões em 2019, teve seu ápice em 2021 com R$ 475 milhões, mas já voltou a figurar abaixo de R$ 400 milhões em 2022 e deve seguir na mesma em 2023.

O aumento de patrocínio também aconteceu no Atlético, mas não foi exclusivamente pela gestão dos mecenas. A mudança começou em 2018, quando o time arrecadava R$ 26 milhões na área. Hoje, são mais de R$ 50 milhões arrecadados. Na base, o Galo afirma ter projetos para evoluir o desenvolvimento dos atletas, mas ainda não colocou em prática e segue sendo um clube que não consegue ter grandes vendas de grandes talentos.

Estádio próprio ajuda muito

Um dos fatores que mais auxiliou o Palmeiras nos últimos anos foi o Allianz Parque. Inaugurado em 2014, o estádio está sempre lotado e foi transformado em uma fortaleza do alviverde. O clube tem o ticket médio mais caro do país (+ R$ 70), mas mesmo assim tem uma das maiores médias de público, de quase 40 mil por jogo. Com isso, desde a inauguração em 2014, o Palmeiras já lucrou mais de R$ 500 milhões com sua casa própria.

O Atlético se inspira no Palmeiras nesse quesito, já que está prestes a inaugurar seu estádio, a Arena MRV, com uma capacidade parecida com o Allianz (46 mil x 43 mil) e mais benefícios. Diferente do alviverde, que tem a WTorre como gestora do estádio, o que diminuiu os lucros, já que precisam ser repartidos, o Galo será o único dono de sua casa, lucrando ainda mais com as receitas.

A Arena MRV é a principal aposta da atual diretoria (que vai seguir na SAF) para o Atlético decolar de vez, sem ficar na oscilação atual, seguindo o exemplo do próprio Palmeiras, que está há quase 10 anos brigando por títulos.

Atlético e Palmeiras pós-empresários

A reestruturação que Paulo Nobre impôs ao Palmeiras mudou tudo no clube. Desde a Série B em 2013, ano em que ele assumiu, o alviverde venceu três Campeonatos Brasileiros, duas Copas do Brasil e duas Libertadores, além de voltar a ser campeão Paulista após 12 anos. O Palmeiras hoje é um dos times mais estruturados do país, entrando como candidato ao título em todos os torneios que disputa.

Depois de Nobre, Maurício Galiotte presidiu o Palmeiras entre 2016 e 2021. Já a atual presidente é Leila Pereira, empresária que também pode ser vista como mecenas, mas que faz investimentos no clube através de patrocínios.

Paulo Nobre e Leila Pereira, do Palmeiras
Então presidente, Paulo Nobre apresenta a a patrocinadora Leila Pereira, que hoje é quem preside o clube. Eles não tem boa relação hoje em dia (Cesar Greco / Fotoarena)

Diferente do Palmeiras com Nobre, o Atlético não terá uma “era pós-empresário”, já que os mecenas do clube compraram a SAF dele e vão comandar tudo a partir ainda deste ano. Os empresários só saem do clube agora se quiserem vendê-lo. Para o futuro, eles prometem finalmente sanar as dívidas do clube e investir para sempre lutar por títulos, assim como o rival paulista.

Mudanças (ou não) de rotas ajudam a explicar diferenças

Além de todos os pontos já citados, outra coisa que pode explicar a diferença dos projetos de Palmeiras e Atlético são as mudanças de rota. Desde Paulo Nobre em 2013, o Palmeiras teve 13 trocas de técnicos e, com exceção de Roger Machado e Ricardo Gareca, todos tinham estilos de jogo parecidos em alguma coisa. O que mostra que o clube sabe o que quer ver em campo.

Já no Atlético desde que os 4Rs começaram a administrar o clube, já foram sete técnicos com ideias completamente diferentes. Futebolisticamente, Sampaoli não conversa com Cuca e Coudet não fala com Felipão, por exemplo. Isso mostra que a diretoria não sabe o que quer ver em campo, contratando treinadores apenas por nome ou momento.

São 13 trocas no Palmeiras em 11 anos, que dá uma média de 1,1 treinador por ano. Já no Atlético, com sete trocas em quatro anos, a média é de 1,75. Para comparação, Abel Ferreira, que está no comando do alviverde desde 2020, enfrentou cinco treinadores diferentes do Galo nesse período.

Foto de Alecsander Heinrick

Alecsander HeinrickSetorista

Jornalista pela PUC-MG, passou por Esporte News Mundo e Hoje em Dia, antes de chegar a Trivela. Cobriu Copa do Mundo e está na cobertura do Atlético-MG desde 2020.
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