Libertadores

Palmeirenses abraçam pauta antirracismo e dão nuance extra a jogo contra o Boca

Torcedores do Palmeiras espalharam mensagens de combate ao racismo no entorno do estádio antes de decisão diante do Boca

Com enorme atraso, os torcedores do Palmeiras enfim resolveram fazer da luta antirracista uma de suas bandeiras nos jogos da Copa Libertadores da América. Após décadas sofrendo xingamentos e ouvindo imitações de macaco nas arquibancadas do continente, a torcida alviverde resolveu contra-atacar e apontar o dedo na cara de quem merece de fato ser achacado.

Torcedores racistas do Boca Juniors que forem ao Allianz Parque hoje (5) acompanhar o jogo de volta da semifinal da Copa Libertadores, contra o Palmeiras, às 21h30, vão saber com clareza que não são bem-vindos no local.

Desde a noite de quarta-feira (4), a Rua Padre Antônio Thomaz, na Pompeia, exibe alguns protestos anti racistas. É por um portão situado bem no meio de seu percurso que os torcedores do Boca Juniors vão entrar no Allianz Parque para acompanhar a partida.

Postes, asfalto e bandeiras

Cartazes colados nas imediações do Allianz Parque (Reproduçção Twitter)

No asfalto, uma mensagem diz “Fogo nos Racistas”. Nos postes, uma imagem de gosto extremamente duvidoso, com um macaco chimpanzé, digamos, abraçando por trás a Diego Maradona, morto em novembro de 2020 e ídolo maior do Boca Juniors, dá o recado.

Nas esquina da Rua Palestra Itália com a Caraibas, a esquina mais palmeirense de São Paulo, duas bandeiras do coletivo Zumbi dos Palmeiras, um trocadilho que faz alusão ao herói quilombola, estão penduradas no terraço do sobrado onde fica o bar Losteria.

No passado, o Losteria já teve uma frase do fascista Benito Mussolini em suas paredes, o que denota uma larga mudança de mentalidade de seus proprietários. Há alguns anos, era inimaginável que uma bandeira antirracista fosse pendurada ali.

Regulamento mudou, mas é pouco

Banfdeira na esquina da Palestra Italia com a Caraibas (Reprodução Twitter)

Na Argentina, houve até menos protestos do que costume, na quinta-feira passada (28). Mas, como sempre acontece em jogos que opõem clubes brasileiros e argentinos, boquenses foram flagrados fazendo gestos racistas – inclusive crianças, o que torna tais atos ainda mais dolorosos e preocupantes.

Desde 2022, a Conmebol alterou seu regulamento geral da Libertadores e incluiu cláusulas para coibir atos racistas. Entre as medidas, além de multas e suspensões para funcionários e atletas flagrados, estão a interrupção e até a suspensão das partidas. Até agora, nenhum jogou foi suspenso por conta disso. Mas o racismo nos estádios continua.

Certo cuidado é preciso

Cabe, contudo, uma observação a se fazer: a luta antirracista não pode migrar para a xenofobia e o nacionalismo cego. Não se combate preconceito com outro tipo de preconceito. A imagem de Maradona com o macaco, muito ofensiva do ponto de vista estético, traz embutida uma conotação da homossexualidade como algo degradante – além de ilustrar bestialismo, inaceitável em qualquer circunstância.

Palmeiras joga por vitória simples com casa cheia

Para se classificar para a final da Copa Libertadores no tempo normal, o Palmeiras precisa de uma vitória simples. Um novo empate, por qualquer placar, leva o jogo para disputa por pênaltis.

A expectativa é de lotação máxima no Allianz Parque, com público superior a 41 mil lugares. Embora o estádio tenha capacidade para 43 mil pessoas, a lotação sofre uma ligeira queda quando há no estádio a presença de torcedores adversários.

Foto de Diego Iwata Lima

Diego Iwata LimaSetorista

Jornalista formado pela Faculdade Cásper Líbero, Diego cursou também psicologia, além de extensões em cinema, economia e marketing. Iniciou sua carreira na Gazeta Mercantil, em 2000, depois passou a comandar parte do departamento de comunicação da Warner Bros, no Brasil, em 2003. Passou por Diário de S. Paulo, Folha de S. Paulo, ESPN, UOL e agências de comunicação. Cobriu as Copas de 2010, 2014 e 2018, além do Super Bowl 50. Está na Trivela desde 2023.
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