Palmeiras vê no Boca 1º rival sul-americano melhor que ele em sua especialidade
Famoso pela cabeça fria, Palmeiras vai encarar um Boca com mais domínio mental do jogo

Abel Ferreira, técnico do Palmeiras, já disse inúmeras vezes que os times de futebol são feitos de três dimensões. A primeira é a técnica, a qualidade do elenco. A segunda é tática, como o time se distribui no campo, pensa e executa seu plano de jogo. E a terceira é a parte mental, que pode ser resumida no famoso mantra “Cabeça fria, coração quente”.
No clube desde 2020, Abel joga sua quarta semifinal de Libertadores, em busca da sua terceira final. Nas duas últimas e mais decisivas fases do torneio, houve times melhores tecnicamente, como o Flamengo de 2021 e o River Plate de 2020. Times iguais taticamente, como o Santos de 2020, no começo do trabalho de Abel. Mas nunca, um time mais forte mentalmente. Até o encontro com o Boca Juniors.
Até houve momentos na Libertadores em que o Palmeiras não soube ser calmo. Como durante o jogo contra o Atlético-MG, nas quartas de 2022, quando teve Danilo e Scarpa expulsos. Mas mesmo dentro da partida, o time soube recuperar a tranquilidade para levar o jogo para os penais e se classificar. Manter a frieza é sua especialidade mais marcante.
Jogam “a la Boca”

O elenco do Palmeiras, mesmo sem Dudu, é mais forte tecnicamente que o do Boca. E avaliando os resultados e o comportamento do time nas partidas da Superliga Argentina e do sul-americano de clubes, a parte tática alviverde também sobressai.
Mas, desta vez, o Palmeiras tem um rival mais bem qualificado do que ele no que diz respeito à frieza para jogar. Mais que um time, um clube cujas equipes sabem controlar o jogo, que não perdem a cabeça, que sabem pressionar a arbitragem, ganhar no grito e não se abalar com as ações adversárias, procurando manter-se impassível frente às intempéries da partida.
A percepção quanto à força mental do Boca é tão grande que entre torcedores e imprensa no Brasil, ainda antes do jogo de ida, na quinta-feira passada (28), havia a noção de que um 0 a 0, um bom resultado para quem vai decidir em casa, poderia ser bom também para os argentinos. Já que, no Allianz Parque, como dizem os rivais na Argentina, o time de Jorge Almirón viria jogar “a la Boca”: cozinhando o jogo, parando a partida com faltas, cera e reclamações.
Outra prova de que o lado mental joga a favor dos xeneizes é o pavor que os alviverdes têm de uma eventual decisão por pênaltis. Temor calcado tanto no histórico do goleiro Romero, que defendeu dez de 19 cobranças contra ele com a camisa do Boca, quanto pelo fato de o clube defendido por Edinson Cavani já ter passado pelas oitavas (Nacional) e pelas quartas (Racing) em disputa de tiros livres da marca penal.
Some-se a isso o fato de Weverton não ser um especialista no fundamento, e está estabelecida a dor de cabeça para os torcedores verdes.
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Abel não deve mudar equipe

A despeito do jogo sem força ofensiva em La Bombonera e da apresentação sem criatividade com a bola de Raphael Veiga, muito bem marcado, a tendência é Abel manter a mesma escalação que iniciou o jogo em Buenos Aires.
Resta saber qual será a estratégia do português para que seu meia de criação participe mais do jogo. No segundo tempo, quando passou a ocupar uma parte mais à esquerda do campo, mas ainda não pela ponta, Veiga subiu de produção e trouxe consigo Piquerez. Que se não foi bem, ao menos participou mais do jogo.
Arthur, mesmo jogando pelo lado direito, onde rende mais, também teve noite apagada. Bem como Mayke pela ponta direita em uma parceria com Arthur, que não funcionou.
Não é possível cravar como Abel montará o time taticamente. Mas, em Buenos Aires, começou com um 3-5-2 (Rocha, Gómez, Murilo; Mayke, Menino, Veiga, Zé e Piquerez; Arthur e Rony), que evoluiu na segunda etapa para um 3-4-3, com Veiga mais aberto pela esquerda, mas ainda no corredor interno.