Libertadores

O Palestino vai levar a bandeira palestina mais longe ao voltar à Libertadores em 2024

Vitória sobre O'Higgins garantiu a classificação do Palestino para fase prévia da Libertadores 2024

Para confirmar a sétima participação em sua história na Copa Libertadores, o Palestino tinha uma missão simples: vencer o O'Higgins, fora de casa, na última rodada da Primera Nacional, o Campeonato Chileno. Aos 36 minutos do primeiro tempo, um contra-ataque que terminou com gol do argentino Maximiliano Salas deu a vantagem necessária ao clube tetracolor, que sofreu, mas conseguiu segurar o adversário por mais de 45 minutos. Confirmou-se o retorno da equipe centenária a principal competição do continente.

O Palestino terminou em quarto na Primera Nacional e jogará a fase prévia da Libertadores. O Huachipato foi o campeão e irá direto à fase de grupos, junto do segundo Cobresal e o terceiro Colo-Colo.

Nas redes sociais, o clube celebrou a classificação com uma mensagem de apoio à Palestina. “Que a bandeira de todo um povo viaje por todo o continente”, escreveu o perfil oficial do Palestino.

Nas seis participações, o time chileno não passou da fase grupos em quatro delas (1976. 1978, 2015 e 2019) e, em 2020, caiu na última fase prévia antes dos grupos ao ser eliminado pelo Guaraní, do Paraguai. A única exceção é a edição de 1979, quando um histórico time passou tranquilo no grupo 4 e avançou a fase seguinte, que era uma nova fase de grupos que definia um finalista – praticamente, uma semifinal. Dividiu a chave com Guarani – esse, sim, o de Campinas – e do Olimpia, do Paraguai, e acabou eliminado, saindo com dois empates e duas derrotas. No fim, os paraguaios ganhariam aquela Libertadores em cima do Boca Juniors.

Nessas disputas de Liberta, o tetracolor topou com clubes brasileiros mais seis vezes (além do Guarani), perdeu cinco e venceu uma. Os adversários foram Atlético Mineiro, Internacional e São Paulo – este, dono da única derrota aos chilenos, em 1978, quando venceram o então campeão brasileiro de Zé Sérgio, Dario Pereira, Waldir Peres e tantos outros, em pleno Morumbi, por 2 x 1.

Em 2016, o Palestino ganhou as manchetes da mídia brasileira porque eliminou o Flamengo de Paolo Guerrero e Zé Ricardo das oitavas de final da Copa Sul-Americana, vencendo em Cariacica. O Rubro-Negro se vingou com raiva na edição seguinte, ao ampliar 5 x 2 e 5 x 0. Na segunda competição mais importante da América do Sul, os chilenos contam com cinco participações e encontraram também com o Fortaleza nesse ano (perdendo os dois confrontos) e com o Atlético Goianiense em 2021 (um revés e um empate).

Chile tem a maior comunidade de palestinos fora do mundo árabe; daí, o nome Palestino

Nenhum país não árabe tem tantos palestinos quanto o Chile. Hoje, estimativas apontam que exista uma comunidade palestina de cerca de 500 mil pessoas. Esse movimento iniciou ainda no século 19, quando o governo chileno contava com imigrantes para fortalecer a economia local – eles buscavam europeus, mas palestinos aproveitaram essa abertura para o “mundo novo”, como era tratado o continente americano.

Nesse momento, o Império Otomano, que comandava a Palestina, também vivia uma severa crise financeira, outra casa para a migração. Nesse cenário, um grupo de pessoas vindas da palestina fundou Clube Desportivo Palestino em 20 de agosto de 1920 em Osorno, no sul do Chile, com as quatro cores da bandeira do país (verde, vermelho, preto e branco), que também estampam o uniforme.

Inicialmente, por 32 anos, só permitia que jogadores de origem árabe vestissem a camisa tetracolor. A partir de 1952, se profissionalizou, abriu espaço para atletas de outras descendências e, em apenas três anos, conseguiu o título. O Campeonato Chileno de 1955 foi conquistado com um ataque moral, autor de 91 gols em 33 rodadas, 19 deles vindo dos pés do argentino Roberto Coll.

A equipe passou um hiato de 20 anos sem taça e emplacou na década de 70 uma sequência vencedora, jamais igualada no clube tetracolor. Em 1975, a primeira Copa do Chile, vencida com uma goleada de 4 a 0 no Lota Schwager. Dois anos depois, com o histórico zagueiro Elías Figueroa, eleito melhor defensor da Copa do Mundo de 1974 e bicampeão brasileiro com o Internacional, levou o bi da copa nacional ao bater o Union Española por 3 x 3.

Novamente com Figueroa, também considerado o melhor jogador chileno da história, levou o Campeonato Chileno pela segunda vez em 1978, quando alcançaram sua maior sequência invicta nos mais de 100 anos do Palestino (e do futebol chileno): 44 partidas sem perder entre julho de 77 até setembro de 78. Essa foi a equipe que venceu o São Paulo, no Morumbi.

O Palestino de Elías Figueroa, campeão nacional de 1978 e que passou 44 partidas invicto, batendo o campeão brasileiro São Paulo na Liberatdores (Foto: Reprodução/Palestino.cl)

O torcedor tetracolor teve que esperar 40 anos para ver o clube levantar uma taça novamente. Ela veio em 2018, o tri da Copa do Chile, ao bater o Audax Italiano na ida (1 x 0), fora de casa, e na volta (4 x 2) no modesto Estádio Municipal de La Cisterna (4 x 2), casa do Palestino desde 1988, quando trocou Osorno por Santiago. O elenco campeão contava com o atacante Luis Jiménez, de carreira extensa no futebol europeu, tendo passagens por Internazionale, Fiorentina e West Ham.

O clube busca manter seus laços com a comunidade palestina. Em 2019, quando jogou contra o River Plate pela Libertadores, inaugurou um telão no meio da torcida para aqueles fãs que estão na Palestina.

Antes, em 2014, tomou uma medida de apoio ao país asiático, que irritou os judeus. O número 1 do uniforme do Palestino era, na verdade, a bandeira da Palestina, só que levando em conta as fronteiras de 1945, antes da criação do estado de Israel. A medida causou uma punição da Federação Chilena e a solução da direção do clube foi colocar o mapa do lado do escudo tetracolor.

À época, o então presidente do Palestino, Fernando Aguad – que tem descendência palestina – falou que não era uma provocação contra os isralenses e sim uma forma de aprofundar as raízes do clube.

– [Estampamos a bandeira para] aprofundar a relação do clube com as origens, para torná-lo um legítimo representante da Palestina, não somente da comunidade chilena. Estamos em um país onde temos a liberdade de expressar nossa opinião, assim como os clubes judeus no Chile e no mundo também se manifestam em favor do Estado de Israel, e isso não causa polêmica – afirmou Aguad, em 2014.

Torcedores na La Cisterna estendem bandeira da Palestina (Foto: Reprodução/Facebook)

Veja os classificados para a fase de grupos da Libertadores 2024:

  • Brasil: Fluminense, São Paulo, Palmeiras, Atlético Mineiro, Flamengo e Grêmio
  • Argentina: River Plate, Talleres e Rosario Central;
  • Bolívia: Bolívar e The Strongest;
  • Chile: Cobresal, Colo-Colo e Huachipato;
  • Colômbia: Millonarios;
  • Equador: LDU, Barcelona e Independiente Del Valle;
  • Paraguai: Libertad, Cerro Porteño e Nacional.
  • Peru: Alianza Lima e Universitario.
  • Uruguai: Peñarol, Liverpool, Defensor e Nacional;
  • Venezuela: Deportivo Táchira e Caracas.

Veja os classificados para a pré-Libertadores 2024:

  • San Lorenzo (ARG)
  • Always Ready (BOL)
  • Águilas Doradas (COL)
  • Atlético Nacional (COL)
  • Aucas (EQU)
  • El Nacional (EQU)
  • Sportivo Trinidense (PAR)
  • Nacional (PAR)
  • Sponting Cristal (PER)
  • Melgar (PER)
  • Puerto Cabello (VEN)
  • Portuguesa (VEN)
  • Palestino (CHI)
  • Botafogo
  • Red Bull Bragantino
Foto de Carlos Vinicius Amorim

Carlos Vinicius AmorimRedator

Nascido e criado em São Paulo, é jornalista pela Universidade Paulista (UNIP). Já passou por Yahoo!, Premier League Brasil e The Clutch, além de assessorias de imprensa. Escreve sobre futebol nacional e internacional na Trivela desde 2023.
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