Júnior Santos arranca e gira, deita e rola, e destrava noite de Libertadores
O Botafogo não viu uma noite muito inspirada de muitos jogadores, mas Júnior Santos apareceu (novamente) para dar a vitória contra o Bragantino

Feliz ano novo. Aqui escreve um defensor dos campeonatos estaduais e, à parte a necessidade urgente da diminuição do número de jogos e de ajustes no calendário, as disputas regionalizadas têm sua razão de ser num país enorme de rivalidades forjadas no tira-teima local. Mas um mata-mata continental entre Botafogo e Red Bull Bragantino surgiu como uma espécie de abertura real da temporada, um primeiro jogo de elite com valor de grandeza inegável (tem quem já tenha caído na Copa do Brasil, é verdade) em meio ao início dos trabalhos aqui e ali. E valeu.
Porque houve a energia de decisão e subiu o nível de concentração e disputa por cada lance, aliadas a uma arbitragem estrangeira típica de Libertadores que não pontua cada ataque como os nossos juízes. O apitador Gustavo Tejera, inconfundivelmente uruguaio, sonegou carrinhos, trombadas e arrastões que fariam levantar da cadeira o VAR brasileiro, essa jabuticaba inconveniente. Mas houve um bom jogo, bastante truncado, sem espaços, e com uma atuação individual de gala, à altura do tamanho da partida e o suficiente para destravar o encontro e garantir a vitória por 2 a 1.
O Botafogo não viu uma noite muito inspirada dos seus jogadores capazes de pausar o tempo e achar uma jogada de mais calma em meio à correria e à falta de campo. Tchê Tchê nem voltou do intervalo, Eduardo não conseguiu muita coisa com suas escapadas, e Tiquinho Soares, por diversos lances bem isolados, sofreu para limpar seu grande lance. Savarino também não abriu corredor do seu lado. Sobrou Júnior Santos, um furacão para atacar a linha de impedimento, uma leveza para a invadir a área para dentro e uma estrela do tamanho do escudo botafoguense no tapete atrás do gol do Nilton Santos. Ganhou o jogo numa arrancada e num giro sem pulo. Se chegar em casa e cozinhar um miojo, vira banquete. A bola chega e a torcida levanta, o zagueiro treme. Que fase.
O Red Bull tem qualidade óbvia, um time técnico, que cuida bem da bola, mas que em nenhum momento pareceu ter a picardia de arrancar um grande resultado no Rio de Janeiro. Quase leva um empate para Bragança, e ainda que Helinho tenha tido seus momentos na frente fica a sensação de que havia condições de agredir um pouco mais. A defesa sentiu a ausência da liderança de Léo Ortiz, vendido ao Flamengo, e disso não havia nenhuma dúvida. Luan Cândido teve dificuldade em proteger a área, ainda mais num lado em que o bom Fabinho Capixaba é fundamental para o time atacar. A dupla Borbas e Sasha, apesar da disposição, também não funcionou por dentro.
Voltando aos vencedores, são boas as notícias ao time que vai superando o baque recente. Primeiro que dessa vez houve novamente um gol sofrido repentinamente, logo depois de abrir o placar, mas no fim das contas o elenco reage e dorme com a vitória necessária para dar moral rumo ao duelo de volta. Segundo que as novidades da temporada vão se firmando com uma nova atuação combativa, firme. Damián Suárez seguiu bastante intenso e seguro na lateral, e a dupla Lucas Halter e Alexander Barboza não ofereceu sossego ao ataque paulista – este último, o argentino, chega junto e compra todas as brigas, até quando parece que não precisa. Racha cada pedaço de jogada que passa por perto.
Futebol tem dessas coisas. Fábio Matias, que até outro dia podia alugar uma bicicleta e pedalar do Aterro à Barra da Tijuca sem ser reconhecido, parece ter recuperado a paz e a confiança do elenco. Chegará um treinador grandão? O Botafogo em condições normais não precisa ser o time de um primeiro turno que não perdia para ninguém, mas é mais do que decente para competir numa Libertadores em que deveria já estar na fase de grupos se não houvesse acontecido a sequência que nem vale repetir.
Bola por bola tem jogo no interior de São Paulo, claro, e não precisa chover canivete para esse Red Bull se classificar ao chaveamento semana que vem. Está na briga. O Botafogo parece ter mais poder de fogo, principalmente com seu ponta que já tem duas quartas-feiras metido a ser um Vini Jr., um Mbappé. Ele, Júnior Santos, foi a luz principal de um jogo brigado, no limite, mas que entregou o que se espera dum confronto desses. Helinho, derrotado, falou na saída de campo à transmissão da TV que tem de ter um pouco mais de amor, de vontade, para jogar a Libertadores. Concordamos. A Copa tem disso, por isso que não perdemos uma, ainda mais quando já é março e se tem saudades de noites como essas.