Libertadores

Coletânea de erros mostra que derrota do Flamengo em La Paz vai muito além da altitude

Altitude pesa, claro, mas o Flamengo poderia ter saído com um resultado melhor de La Paz, especialmente pelo que criou

A derrota do Flamengo para o Bolívar por 2 a 1, em La Paz, não pode ser considerada incomum, afinal, todos já estavam cientes de que os efeitos da altitude atrapalhariam o clube brasileiro. A análise, contudo, não pode se resumir apenas aos 3640 metros acima do nível do mar, mas em uma série de fatores que acarretaram o revés. Foi o primeiro resultado negativo de Tite e companhia em 2024.

A Trivela esteve presente no Hernando Siles e viu muito mais do que o jogo apresentou. O elenco foi colocado à prova em um teste de fogo, porém não conseguiu manter a invencibilidade. Chegou a hora de contar um pouco mais sobre essa história de Libertadores.

Clima era bom na chegada

Quando o Flamengo colocou os pés no Estádio Hernando Siles, no coração de La Paz, a confiança apareceu. Muitos acreditavam que, mesmo desfalcado, o Rubro-Negro tinha plenas condições de vencer o Bolívar fora de casa, ou, pelo menos, buscar um empate.

Os erros e acertos de Tite

Tite tentou surpreender o Bolívar com três zagueiros, mas, diante de tantas jogadas pelas laterais, teve que retornar ao esquema normal com a última linha de quatro. A Trivela, inclusive, perguntou sobre a escolha na coletiva após a partida e recebeu a seguinte resposta do comandante.

— As características da equipe do Bolívar são as seguintes: eles têm dois externos e infiltrações centrais. Ela utiliza essa coordenação de movimentos. Ideia inicial com linha de cinco era tirar esses jogadores de lado de cruzamento e essas infiltrações centrais com o tripé do meio-campo. Mas nós não estávamos com posse de bola. A gente trouxe o Léo Ortiz para meio-campista, e a equipe começou a se reestruturar — explicou.

De fato, o Flamengo se tornou bem mais sólido após a mexida, mas ainda cometeu alguns erros que lhe custaram a partida, e não escrevo pensando apenas naqueles que originaram o segundo gol do Bolívar. A falta de pontaria voltou a assombrar o Rubro-Negro, já que apenas três finalizações foram na direção da meta defendida por Lampe, de 15 tentadas.

A grande questão, contudo, foi a construção de jogo do Flamengo. A precisão no passe foi muito ruim (70%), pela aposta fiel em ligações diretas: foram 53 lançamentos tentados pela equipe no jogo e apenas 17 terminaram no pé de outro rubro-negro. Para o time de Tite, que costuma tratar tão bem a bola, isso provou ser um ingrediente que azedou.

A bola aérea defensiva completou a lista de problemas do Flamengo. Esse fator tão importante tem sido um calcanhar de aquiles para o clube e, dessa vez, não foi diferente. Claro que o tempo de bola na altitude é diferente, mas o Rubro-Negro sofreu um gol com um minuto de partida. O torcedor (e Tite, claro) ficou na bronca.

Chico da Costa comemora o gol que abriu o placar para o Bolívar contra o Flamengo (Foto: Conmebol)

Gostinho de quero mais

Acima de tudo, o gosto amargo na boca do torcedor se dá pelas condições do jogo. Quando teve paciência para reter a bola e buscar os meias mais ofensivos, o Flamengo criou boas oportunidades. Segundo a plataforma SofaScore, o Rubro-Negro foi quem mais poderia ter marcado no Hernando Siles. Apesar do ter criado uma grande chance a menos que o Bolívar, a equipe de Tite teve mais gols esperados.

Assim como sua “hinchada”, o Flamengo também voltou para o Rio decepcionado. Cansado, claro, por conta dos efeitos da altitude, mas sentindo uma derrota que poderia ter sido evitada. A maneira com que o gol da vitória do Bolívar aconteceu, em falhas individuais de Nico, Wesley e Igor Jesus, foi determinante para este sentimento negativo.

O empate logo depois do Bolívar abrir o placar escancarou uma realidade que a Trivela já conhecia, por meio de relatos dos bolivianos. A torcida dos azuis é bastante exigente e, sem o resultado positivo no primeiro tempo, chiou bastante. O tempo passava, e os nervos ficavam mais à flor da pele. Se tivesse conseguido controlar mais o jogo, o Flamengo poderia ter explorado essa impaciência para, quem sabe, virar.

A derrota para o Bolívar deixa o Flamengo em situação complicada na Libertadores (Foto: Reprodução/Twitter Conmebol)

Derrota que pode preocupar o torcedor

Por mais que a altitude seja um fator importante nesse caldeirão de Bolívar x Flamengo, ela não pode ser muleta para Tite e companhia. A equipe veio desfalcada a La Paz, testando, claro, a força do seu elenco, mas falhou e se complicou no Grupo E da Libertadores. A vaga nas oitavas ainda parece encaminhada, com dois jogos a serem realizados no Maracanã, mas o primeiro lugar do certame já parece distante.

O Bolívar abriu cinco pontos de vantagem na liderança, e o Flamengo ainda pode terminar a rodada na terceira posição, caso o Millonarios vença o Palestino, no Chile. É mais um fator para preocupar o torcedor, além da perda da invencibilidade em 2024.

  1. Bolívar – 9 pontos (+6 de saldo)
  2. Flamengo – 4 pontos (+1 de saldo)
  3. Millonarios – 1 ponto (-1 de saldo)
  4. Palestino – 0 pontos (-6 de saldo)

A oportunidade de recolher os cacos e retornar ao caminho das vitórias será no domingo (28), diante do Botafogo, no Maracanã. Se vencer, o Flamengo pode reassumir a liderança do Campeonato Brasileiro, torneio considerado prioridade para o Rubro-Negro no ano.

Foto de Guilherme Xavier

Guilherme XavierSetorista

Jornalista formado pela PUC-Rio. Da final da Libertadores a Série A2 do Carioca. Copa do Mundo e Olimpíada na bagagem. Passou por Coluna do Fla e Lance antes de chegar à Trivela, onde apura e escreve sobre o Flamengo desde 2023.
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