36 anos depois: Bahia decide vaga na Fonte Nova e desta vez nem chuva pode atrapalhar
Após empate na Bolívia, equipe de Rogério Ceni sonha em avançar na Libertadores

36 anos. Esse foi o tempo que o torcedor do Bahia esperou para voltar a ver o seu time disputar uma partida de Copa Libertadores na Fonte Nova. A equipe comandada por Rogério Ceni jogará sua vida no torneio diante do The Strongest, após ter empatado a ida da segunda fase preliminar na Bolívia por 1 a 1.
A última vez que isso aconteceu foi em 26 de abril de 1989. Nesta data, a Fonte Nova recebia pela última vez um jogo do Bahia na competição de clubes mais importante do continente.
Um dia chuvoso – bem comum nesta época do ano na capital baiana -, que deixou o gramado encharcado, bem distante das melhores condições de jogo.
O adversário? O Internacional, que pouco mais de dois meses antes o Bahia vencia na final do Brasileirão de 88 (que terminou em 1989), levantando pela segunda vez em sua história o troféu de Campeão Brasileiro.
Mas, ao contrário do que aconteceu na competição nacional, desta vez o Colorado superou o tricolor baiano após vencer o primeiro duelo por 1 a 0, no Beira Rio, uma semana antes, e segurar um empate por 0 a 0, em Salvador, eliminando o Bahia nas quartas de final da competição.

De lá para cá, muita coisa mudou. Nessas três décadas e meia, o Bahia viveu de lampejos regionais e pouco competiu a nível nacional. No Campeonato Brasileiro, amargou por dois anos seguidos a terceira divisão, ficando sete anos longe da elite do futebol nacional.
Hoje, o Bahia faz parte do principal conglomerado de clubes do planeta, o Grupo City, e volta a disputar uma partida de Libertadores diante do seu torcedor após 36 anos.
Mas e na Bahia? O que mudou de 1989 até aqui?
Quando o Bahia foi eliminado para o Internacional nas quartas da Libertadores de 89, o Governador do Estado era Waldir Pires, escolhido dois anos antes, em 87, nas primeiras eleições pós-ditadura militar.
Naquele mesmo ano, Waldir, porém, deixou o cargo de Governador para concorrer à vice-presidência da República, mas sem sucesso. Posteriormente foi ministro em nos governos de José Sarney e Lula. Atualmente, o estado é governado por Jerônimo Rodrigues, que assumiu em 2024, na primeira eleição que disputou em sua carreira. Rodrigues, que é professor universitário e engenheiro agrônomo, também integrou o gabinete ministerial no governo de Dilma Rousseff.
No carnaval, duas músicas dominavam as ruas do centro de Salvador (hoje conhecido como Circuito Osmar): “Protesto do Olodum”, da Banda Mel, e “Beijo na Boca”, da Banda Beijo. Atualmente, os hits são mais diversos, mas alguns nomes tradicionais como Ivete Sangalo, Daniela Mercury e Banda Eva seguem lançando sucessos ano após ano.
Ainda em 1989, a Bahia – incluindo a capital, Salvador – foi castigada pelas chuvas, que causou uma das suas piores tragédias naturais do estado.
A primeira, e uma das mais famosas, aconteceu em Salvador. Na noite de 19 de maio de 1989 quando algumas toneladas de terra no bairro da Boa Vista do Lobato desabaram sobre o motel Mustang, um dos mais famosos à época.
Ao todo, nove pessoas morreram, entre casais e funcionários. Ainda naquele mês, outras 45 pessoas já haviam perdido a vida em outros desabamentos na cidade. Em 2025, já no mês de janeiro, temporais deixaram moradores ilhados e alagaram ruas em diferentes regiões da Bahia.
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‘Na Argentina se jogam em campos muito piores do que esse'

E a chuva também foi ponto central da eliminação do Bahia naquela edição de Libertadores. O cacau (gíria regional) caia em Salvador. A condição do gramado deixava claro que não era possível ter jogo naquele 26 de abril.
Mas o árbitro Arnaldo César Coelho autorizou o início do jogo mesmo assim, causando a revolta de torcedores e comissão técnica do Bahia. Ele chegou a afirmar, ao se negar a adiar o duelo, que na Argentina se disputavam partidas em gramados muito piores do que os da Fonte Nova naquela noite.
O treinador da equipe à época, Renê Simões, que substituiu o histórico Evaristo de Macedo, relembrou, em entrevista ao Portal Massa!, de Salvador, a conversa que teve com o árbitro Arnaldo César Coelho, minutos antes da bola “rolar”.
— Eu me lembro muito bem desse jogo. Lamentável! Eu fui com ele [Arnaldo César Coelho] fazer o teste. A bola não rolava. E eu dizia: ‘Arnaldo, não pode ter jogo. Impossível'. E ele dizia: ‘não posso, não tenho ordem da Conmebol'. E óbvio, o empate era deles. Só que o nosso time já tinha provado antes que era muito melhor — disse o treinador.
Um dos lances mais emblemáticos daquele jogo, foi quando o atacante Charles saiu de cara pro gol, driblou Taffarel, e tocou para o gol aberto. Mas a água no gramado era tamanha, freando a bola, que parou caprichosamente em cima da linha.