Argentina

Por que há só um brasileiro jogando na Argentina?

Abismo financeiro e estilo de jogo tiram Argentina da rota dos jogadores brasileiros; Veja quem são os argentinos que disputam o Brasileirão

A escassez de brasileiros na Argentina é um fato que intriga, uma vez que o intercâmbio inverso é muito comum. São 33 argentinos inscritos na Série A do Campeonato Brasileiro, enquanto há apenas um brasileiro na primeira divisão do Campeonato Argentino. 

A “invasão hermana” se intensificou na última década após concessões da CBF, que flexibilizou a participação de estrangeiros em competições organizadas por ela. Assim, nomes como Tevez, D’Alessandro, Conca e Kannemann puderam alcançar status de ídolos no país.

Em 2023, a relação Brasil x Argentina ganhou um novo capítulo, com mais uma decisão favorável da CBF. A votação dos clubes da Série A aprovou por unanimidade o aumento de cinco para sete atletas gringos a serem relacionados por partida.

Os clubes aproveitaram a liberação para inflar os elencos com nomes de fora e os hermanos dominam as listas. O Fortaleza lidera a lista com cinco aletas argentinos no plantel, enquanto o Atlético-MG conta com quatro jogadores. América-MG, GrêmioSão Paulo têm três e outros 13 times possuem pelo menos um. Somente Cruzeiro e  Cuiabá não têm argentinos no plantel. Vale ressaltar que nenhum dos argentinos do Brasileirão atuaram por sua seleção nesta Data Fifa. 

Enquanto isso, em terras argentinas, o Brasil conta com apenas um representante, o atacante Lenny Lobato, do Vélez. O jogador foi para o país vizinho com apenas 16 anos para integrar as categorias de base e se firmou no profissional. 

Lenny Lobato chegou ao Vélez em 2021 (Foto: Divulgação Vélez/Hernan Mauricio)

Mas, diante da nítida disparidade, fica a pergunta: por que os brasileiros não jogam na Argentina? Alguns pontos principais respondem a esta pergunta.

Crise econômica na Argentina

Os problemas econômicos da Argentina começaram há pelo menos trinta anos, e criaram um abismo financeiro em relação aos hermanos. Muito disso se deve à alta inflação, a 83% em 12 meses (2022). Com isso, as folhas salariais no país de Maradona e Messi ficaram cada vez menores. 

– Atualmente, um dos principais pontos que impede é o econômico. O país atravessa uma situação muito complicada, enquanto o Brasil tem um poder aquisitivo muito grande – afirmou Lenny Lobato em contato com a Trivela.

Por outro lado, os valores nas equipes nacionais saltaram nos últimos anos, principalmente pela valorização de atletas formados nas categorias de base – vendidos por milhões de dólares – até a repatriação de importantes nomes, como foi o caso do Filipe Luís, do Flamengo.

– Se compararmos os salários do Boca [Juniors] e do River Plate, que são os maiores clubes daqui, com outros países da América do Sul, o Chile deve ter salários maiores e o Uruguai deve ser bem parecido. Por causa dessa situação, a Argentina paga muito pouco, e não tem como trazer jogadores brasileiros. O que eu recebo aqui, na Primeira Divisão, seria equivalente a um time da Série B. Acho que até o mais bem pago do Vélez deve receber menos que um jogador de time pequeno da Série A – acrescentou o atacante.

Futebol mais físico

O estilo de jogo argentino também é um fator preponderante para afastar os brasileiros de lá. Pela natureza mais física do esporte no país vizinho, há maior exigência de contato e disputas de bola. Como o modo é diferente para o futebol verde amarelo, a adaptação é mais difícil.

– Aqui tem muito mais contato do que no Brasil. Por isso que quando um argentino vai jogar fora, o pessoal fala que é o cara é raçudo. Mas é muito normal pra nós. Todos os jogadores correm muito, são raçudos. É raro ver alguém que não corra e não brigue muito pela bola. O futebol brasileiro tem uma marcação mais leve e isso interfere na forma de jogar – disse Lenny.

Veja quem são os 33 argentinos que jogam o Brasileirão:

  • Emanuel Martinez (América-MG)
  • Esteban Burgos (América-MG)
  • Martin Benitez (América-MG)
  • Bruno Zapelli (Athletico-PR)
  • Tomas Cuello (Athletico-PR)
  • Cristian Pavón (Atlético-MG)
  • Matías Zaracho (Atlético-MG)
  • Renzo Saravia (Atlético-MG)
  • Rodrigo Battaglia (Atlético-MG)
  • Lucas Mugni (Bahia)
  • Victor Cuesta (Botafogo)
  • Fausto Vera (Corinthians)
  • Marcelino Moreno (Coritiba)
  • Agustín Rossi (Flamengo)
  • Germán Cano (Fluminense)
  • Emanuel Brítez (Fortaleza)
  • Imanol Machuca (Fortaleza)
  • Juan Martín Lucero (Fortaleza)
  • Silvio Romero (Fortaleza)
  • Tomás Pochettino (Fortaleza)
  • Julián Palacios (Goiás)
  • Franco Cristaldo (Grêmio)
  • Lucas Besozzi (Grêmio)
  • Wálter Kannemann (Grêmio)
  • Fabricio Bustos (Internacional)
  • Gabriel Mercado (Internacional)
  • José López (Palmeiras)
  • Julio Furch (Santos)
  • Alan Franco (São Paulo)
  • Giuliano Galoppo (São Paulo)
  • Jonathan Calleri (São Paulo)
  • Luca Orellano (Vasco)
  • Manuel Capasso (Vasco)
Foto de Livia Camillo

Livia CamilloSetorista

Formada em jornalismo pelo Centro Universitário FIAM-FAAM, escreve sobre futebol há cinco anos e também fala sobre games e cultura pop por aí. Antes, passou por Terra, UOL, Riot Games Brasil e por agências de assessoria de imprensa e criação de conteúdo online.
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