Argentina

‘Não importava meu aniversário, éramos campeões’: Torcedor do Racing baleado no Rio se emociona

Horas antes de jogo de volta da final da Recopa Sul-Americana, Gabriel Gago ficou entre a vida e a morte

Apaixonado pelo Racing, o torcedor Gabriel Gago, de 42 anos, viajou da Argentina para o Brasil para acompanhar a Recopa Sul-Americana, no início do ano, mas o sonho de ver o seu time conquistar um título se tornou um pesadelo.

No dia 26 de fevereiro, um dia antes da partida de volta contra o Botafogo, ele foi baleado na Barra da Tijuca, Zona Oeste do Rio de Janeiro, após um assalto e foi encaminhado a um hospital em estado grave.

Após duas cirurgias e cinco dias desacordado, o torcedor do Racing se recuperou e já está em sua casa, no bairro Villa del Parque, em Buenos Aires. Em uma entrevista emocionante ao diário “Olé”, Gabriel Gago relembrou as cenas de terror e o longo processo de recuperação.

Cenas de terror

Após a vitória do Racing por 2 a 0 sobre o Botafogo, no Estádio Presidente Perón, em Avellaneda, na ida da Recopa, Gago juntou a família e foi para o Rio de Janeiro com a expectativa de acompanhar mais um título. Empolgado com a conquista da Copa Sul-Americana no ano anterior, o torcedor do Racing aproveitou para realizar uma espécie de “mini férias” no Rio. Ao lado de familiares, Gabriel Gago escolheu a praia da Barra da Tijuca para passear.

Contudo, enquanto estava sentado em uma cadeira de praia, o torcedor do Racing percebeu que seu cunhado, Cristian Pagani, foi abordado por duas pessoas. Um ladrão que estava em uma moto saiu do calçadão para roubar um cordão.

— Vi um tumulto, uma situação tensa. Não sabia porque, se era por causa da rivalidade entre Argentina e Brasil. Me levantei da cadeira para ajudar Cristian. Quando me aproximei, vi um deles sacar sua arma e atirar à queima-roupa.

O cunhado caiu de bruços no chão e Gago tentou desarmar o criminoso, porém, recebeu dois disparos, um no braço e outro no peito. Apesar dos ferimentos, o torcedor do Racing continuou de pé, mas logo se deu conta do que estava acontecendo:

— Fiquei parado e chocado com o que estava vivenciando. Pensei que não podia ser verdade. E quando olhei para o meu peito, o sangue estava jorrando, como em um filme de guerra.

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Gabriel Gago se deparou com a morte

No trajeto para o hospital, o torcedor do Racing chegou a se despedir da esposa, pensando que não sobreviveria aos disparos. Depois de avaliarem Gago, os médicos constaram que uma das balas atingiu o diafragma, o fígado, a vesícula e o estômago. Para evitar sangramento na região, Gabriel Gago foi medicado e passou por cirurgia. Dois dias depois, no dia 1 de março ele passou por nova operação — essa mais delicada e que durou cinco horas.

Foi somente no dia 4 que Gago acordou. A data também marcava seu aniversário. Os familiares do torcedor do Racing explicaram o que estava acontecendo e onde ele estava. Além disso, recebeu a notícia que estava mais ansioso para descobrir.

— Minha cunhada estava usando a camisa do Racing que os meninos do time autografaram para mim e me foi enviada por Milito (Diego, ídolo e presidente do clube) e Costas (Gustavo, treinador), quando estavam com meus filhos.

— Aquele dia era meu aniversário. Eles me lembraram disso e me disseram que éramos campeões da Recopa. Foi muita informação para mim. De repente, a última coisa com que me importava era meu aniversário, mas sim o fato de termos sido campeões.

Racing cuidou de seu torcedor

Desde o primeiro dia, o Racing prestou todo seu apoio a Gabriel Gago. O torcedor conta que elenco, jogadores e dirigentes do clube o visitaram no hospital durante sua internação após o título da Recopa Sul-Americana:

— Minha filha me contou que no dia da consagração, Martirena (lateral) fez a brincadeira: “Nós vamos para o hospital com a Taça, nós vamos para o hospital com a Taça.” Tudo isso gerou em mim uma emoção, uma alegria imensa.

Torcedores do Racing e até mesmo do Independiente (arquirrival) enviaram mensagens de apoio a Gabriel Gago. Gago fala com orgulho de como seu clube cuidou de seus filhos em meio ao horror vivido.

— Minha filha e Thiago (enteado) haviam retornado para Buenos Aires em um voo com o Racing. Eles levaram meus filhos para o estádio (em Avellaneda), os colocaram no campo e os tiraram do pesadelo que estávamos vivendo. Eles nos fizeram participar das comemorações pela conquista da Recopa.

O Racing também providenciou um voo comercial para Gago com tudo pago para voltar para casa. Agora, o torcedor tem apenas um desejo: finalmente assistir à vitória por 2 a 0, no Nilton Santos, para celebrar a taça da Recopa.

— Ainda não tivemos a oportunidade (ver o jogo). Porque tem que ser como um grande evento. Vê-lo, vivê-lo, mesmo que já saibamos o resultado. Eu quero viver (título da Recopa Sul-Americana) de alguma forma.

Foto de Matheus Cristianini

Matheus CristianiniRedator

Jornalista formado pela Unesp, com passagens por Antenados no Futebol, Bolavip Brasil, Minha Torcida e Esportelândia. Na Trivela, é redator de futebol nacional e internacional.
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