Argentina

Ex-São Paulo ganha chance no futebol após 2 anos, desaparecimento e depressão

Jogador argentino de 32 anos conhecido por passagem no Tricolor fecha com Oriente Petrolero para 2025

Um dos jogadores mais inusitados da última década do São Paulo foi o habilidoso Ricardo Centurión. Entre 2015 e 2016, o argentino somou oito gols e 80 partidas pelo time, chamando atenção pelos dribles.

O ponta que já tinha polêmicas antes de chegar ao Brasil, porém, acumulou passagens por sete clubes diferentes após a saída do Tricolor e teve outros problemas extracampo. Agora, ele ganha uma nova chance no futebol.

O atacante de 32 anos foi apresentado pelo Oriente Petrolero, da Bolívia, e deve estar em campo no duelo deste domingo (13) contra o Always Ready pela terceira rodada do Campeonato Boliviano. Marcado por ser uma pessoa que gostava “da noite”, ele brincou que só dançará nos gramados.

— Dançar agora tem que ser em campo, dançar contra o adversário, mas digo isso com total humildade, porque essa é a minha essência. O outro tipo de dança era quando eu era mais jovem [risos]. […] Já passei por essa fase. Agora quero trabalhar e conquistar coisas boas — disse em entrevista coletiva.

Centurión não atua desde 16 de abril de 2023, há quase dois anos, à época emprestado ao modesto Barracas Central. O argentino voltou ao Vélez Sarsfield no fim daquele ano, mas não conseguiu mais atuar pela equipe. Ele até enfrentou um “desaparecimento”, quando, no meio do ano passado, não conseguiu ser encontrado pela gestão do time. No entanto, um dia depois da notícia, o atleta apareceu para dizer que estava tudo bem.

— Digo às pessoas para manterem a calma, porque vou dar o meu melhor. Em pouco tempo, me apeguei a esta instituição. Eles fizeram com que eu e minha família nos sentíssemos muito bem. Agora é hora de retribuir tudo o que me deram. Quero ser grande novamente e tornar este clube ainda maior. Quero crescer juntos e alcançar objetivos. […] Estou sempre sorrindo, e quando um jogador está feliz e confortável, as coisas vão bem — finalizou.

Morte da namorada e ataques de pânico: Centurión viveu drama nos últimos anos

Tratado como jogador “problema”, o argentino somou uma série de questões após deixar o São Paulo. Teve o carro apreendido e perdeu a carteira de motorista em 2018, à época pelo Racing, por se recusar a fazer o teste do bafômetro e somar quase R$ 7 mil em multas.

No ano seguinte, o então presidente do time de Avellaneda, Victor Blanco, o acusou de ir treinar bêbado, mas Centurión negou a história: “Eu não saí. Fiquei em casa e fui treinar no dia seguinte. Ele não me viu e não sei quem falou com ele”. O mesmo dirigente afirmou em outra oportunidade que o atleta era alcoólatra.

Em 2020, o jogador enfrentou duas enormes perdas. Melody Pasini, modelo e namorada do atleta há quatro anos, morreu após sofrer um infarto enquanto dirigia. Dias antes, tinha sido sua avó, considerada uma mãe, a falecer. A partir daí, ele sofreu ainda mais com problemas de continuidade em times e teve problemas de saúde mental, afirmando que chegou a “cansar de viver”.

— Os golpes foram muito rápidos, e se eu não me levantasse depois de dois dias, acho que terminaria com a minha vida. Mas não era o meu momento — desabafou o atacante, ainda em 2020, à emissora “TyC Sports”.

— Aguentei muitas coisas. Precisava me afastar, me sentia esgotado, tinha ataques de pânico, precisava sair de tudo, por isso decidi assim. Muitos não me entendem, mas cansei de viver. Principalmente desta maneira. Foi por este motivo que decidi sair ir do trabalho que me deu tanta felicidade. Nem eu mesmo me aguentava — disse, em 2022, à rádio “La Red”.

Ricardo Centurión em ação pelo Genoa, em 2017
Ricardo Centurión em ação pelo Genoa, em 2017 (Foto: Imago)

A última polêmica extra-campo do argentino foi no fim de 2023, quando testou positivo para cocaína em teste após ser detido pela polícia em Buenos Aires.

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Argentino recebeu a confiança de técnico do Vélez no ano passado, mas não continuou no clube

O ano de 2024 parecia que seria da retomada da carreira do ex-São Paulo. Após dois empréstimos frustrados (San Lorenzo e Barracas) em 2022 e 2023, ele recebeu a confiança de Gustavo Quinteros, então técnico do Vélez (hoje no Grêmio), para voltar a jogar. Se preparou por quase todo o início de 2024, até maio, sem faltar em treinos, mas lutando contra desconfortos físicos.

Centurión até atuou por alguns minutos em um amistoso e esteve no banco em alguns jogos oficiais. Só que logo os problemas de antes apareceram e, após o “desaparecimento”, ele nunca mais atuou pela equipe.

— Eu tentei. Conversei com ele. Convidei-o para vir à minha casa quantos dias quisesse. Eu queria reconquistá-lo. O clube também se esforçou para que ele mudasse seu estilo de vida e se dedicasse 24 horas por dia, 7 dias por semana, ao futebol. Infelizmente, não conseguimos. Espero que, com o ambiente e a família dele, ele possa melhorar, mudar seu estilo de vida. E que, em algum momento, ele possa continuar jogando futebol — afirmou Quinteros em setembro, pouco antes do jogador rescindir o contrato.

Nas últimas oito temporadas, Centurión só fez mais de 20 jogos uma vez, em 2021, quando somou 52 partidas, cinco gols e três assistências, seu último grande momento no futebol. Agora confiante no Petrolero, o jogador sonha em voltar a ser feliz com o esporte que mudou sua vida.

Foto de Carlos Vinicius Amorim

Carlos Vinicius AmorimRedator

Nascido e criado em São Paulo, é jornalista pela Universidade Paulista (UNIP). Já passou por Yahoo!, Premier League Brasil e The Clutch, além de assessorias de imprensa. Escreve sobre futebol nacional e internacional na Trivela desde 2023.
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