Os 4 legados que Xabi Alonso deixa após saída do Bayer Leverkusen
Técnico espanhol anunciou saída do clube alemão e deve assumir o Real Madrid na próxima temporada

Chegou ao fim a era do técnico mais vencedor da história do Bayer Leverkusen. Xabi Alonso anunciou nesta sexta-feira (9) que deixará o time alemão ao fim da temporada, deixando aberto o caminho para assumir o Real Madrid assim que Carlo Ancelotti confirmar sua saída.
— O clube e eu concordamos que estes serão meus dois últimos jogos [contra Borussia Dortmund e Mainz 05 pela Bundesliga] no comando da equipe. Agora é o momento certo para anunciar isso. Queremos nos despedir de verdade no domingo [quando joga na BayArena] — explicou o técnico em entrevista coletiva.
— Esta manhã conversei com jogadores e comissão técnica. Com certeza é um momento de emoções ambíguas. Tenho que ser grato a todos — desde os torcedores, as pessoas do clube e, claro, os jogadores. Podemos ficar felizes e orgulhosos do que conquistamos. Estamos levando o clube na direção certa — completou.
O basco encerrará sua passagem nos Aspirinas com uma série de legados importantes e essenciais para o futuro do clube. Listamos quatro deles:
1. Resgate do clube e da autoestima do torcedor

Antes de Alonso, o clube alemão, apesar de tradicional e com histórico de ótimos jogadores, carregava uma aura de “pipoqueiro” e que nunca vencia. Não era por acaso. Em mais de 100 anos de história, nunca tinha conquistado o Campeonato Alemão e só tinha uma Copa da Alemanha e uma Copa da Uefa (hoje Liga Europa).
Ainda carregava fracassos marcantes na bagagem. Na edição de 1999/00 da Bundesliga, perdeu o título na última rodada para o Bayern de Munique pelo saldo de gols após uma derrota inacreditável para o Unterhaching, sem pretensões na competição, por 2 a 0 com direito a gol contra de Michael Ballack.
O fim da temporada 2001/02 foi ainda mais traumático. Deixou escapar cinco pontos de vantagem no Alemão e o Dortmund terminou como campeão, além de ser vice da Copa da Alemanha (Schalke 04) e da Champions League (Real Madrid).
Foi esse clube, chamado de “Neverkusen” (ou Vizekusen na versão alemã), que o técnico basco encontrou quando assumiu em outubro de 2022. De quebra, eles ainda estavam na vice-lanterna da competição nacional. Mas a história do Bayer mudou ali. Além de semifinalista da Liga Europa naquela temporada, o novo treinador conseguiu fazer a equipe terminar na sexta colocação da Bundesliga. O melhor ainda estava por vir.
Em 2023/24, Xabi se consolida como um treinador de elite ao colocar o Leverkusen como o melhor coletivo da Alemanha (e um dos melhores em todo continente). O título inédito do Campeonato Alemão e o bi da Copa da Alemanha vieram completamente invictos, algo inédito na história. A única derrota veio no último jogo da temporada, para a Atalanta, na final da Liga Europa, deixando o clube com a terceira maior invencibilidade em todos os tempos do futebol europeu (51 jogos).
As taças vieram com uma força mental inacreditável, garantindo várias vitórias nos minutos finais. Um exemplo de como Alonso transformou a mentalidade do clube e mudou a autoestima de um torcedor machucado por fracassos recentes. Apesar de “só” vencer a Supercopa da Alemanha nesta temporada, nada diminui seu feito.
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2. Jogadores potencializados para a elite europeia

Para o treinador levar esses títulos, só poderia ser possível com ajuda de um elenco muito qualificado, mas que só ganhou esse status após passar pelo comando dele. São vários os atletas potencializados por ele, desde os mais jovens até os mais experientes que pareciam não ter mais de onde tirar.
— Os jogadores me deram muito e tivemos uma ótima conexão. Eles acreditaram em mim e me apoiaram, e é por isso que sempre tivemos uma boa química. Quero me despedir deles como deve ser — elogiou Alonso, na coletiva de despedida.
Granit Xhaka, por exemplo, após sete anos desgastantes no Arsenal, ganhou status de um meio-campista dos melhores após chegar a Bay Arena, em 2023. O mesmo de Alejandro Grimaldo, contratado com 26 anos, fez a temporada mais artilheira e assistente da carreira com Xabi Alonso, sendo convocado pela primeira vez para seleção espanhola.
Mas nada foi comparado ao que se tornaram os jovens Florian Wirtz e Jeremie Frimpong. O primeiro, já considerado uma grande promessa e que vinha de uma grave lesão no joelho, se tornou um dos melhores do mundo. O meia, agora titular da seleção alemã, fez o melhor ano da carreira em 23/24 e manteve o nível nesta temporada.
Frimpong, também presença garantida no selecionado da Holanda, se consolidou com um ala tão ofensivo que é praticamente um ponta e, assim como os colegas, chegou ao ápice de gols de assistências na curta carreira. Dos citados, Wirtz, Grimaldo e Xhaka apareceram na lista dos 30 melhores do mundo pela Bola de Ouro, sendo o alemão 10º no The Best da Fifa.
— A forma que eles jogaram, forma que ele potencializou os jogadores. O Leverkusen deve estar orgulhoso dessa parceria que eles tiveram. — elogiou Pep Guardiola, do Manchester City, nesta sexta, após saber da saída do “pupilo” Alonso.
3. Saldo positivo nos cofres do Bayer Leverkusen

Incrivelmente, o Leverkusen conseguiu manter sua base supercampeã em 2024 para temporada seguinte. Dos mais importantes, só saíram Odilon Kossounou, emprestado a Atalanta por 5 milhões de euros, e Adam Hlozek, rumo ao Hoffenheim, por 18 milhões de euros (valorização de cinco milhões em comparação ao que foi contratado, em 2022).
Com a saída de Alonso, a tendência é de outros atletas também deixarem o Leverkusen e provem outro legado do treinador: os milhões que deixarão após o ótimo nível que atingiram com o técnico espanhol.
Wirtz está a caminho para o Bayern e deve render mais de 100 milhões de euros. Grimaldo, mesmo aos 29 e contratado a custo zero, pode ser negociado com o Barcelona entre 30 e 40 milhões. O artilheiro Victor Boniface tem sido especulado no Real, assim como Frimpong, também alvo de Liverpool, City e outros gigantes. Piero Hincapié, outro potencializado, é alvo do Atlético de Madrid.
4. Herança tática que deve definir o sucessor de Xabi Alonso

A escalação 3-4-3 (que pode virar 4-2-3-1 com o movimento dos alas e zagueiros pelos lados) com base no jogo posicional influenciado por Guardiola e a intensidade e verticalidade que Alonso aprendeu com José Mourinho foi a base do trabalho do espanhol na BayArena. Ele pôde, de um treinador promissor com passagem pela base do Real Madrid e no time B da Real Sociedad, se consolidar na primeira prateleira do futebol mundial.
A gestão do clube alemão parece entender não querer quebrar o ciclo dessa filosofia bem compreendida pelos jogadores nos nomes especulados para substituir Xabi. Segundo a revista alemã “Kicker”, os espanhóis Xavi Hernández, ex-Barcelona, e Imanol Alguacil, ex-Sociedad, são os cotados.
Já a emissora “Sky Sports” coloca Cesc Fàbregas, do Como, entre os favoritos, outra da escola do futebol da Espanha. Erik ten Hag, ex-Ajax e Manchester United, é mais um que estaria na lista, este com um alinhamento mais de filosofia.