
A temporada na segunda divisão da Bundesliga começa muito dura para os times recém-rebaixados da elite, Schalke 04 e Hertha Berlim. A dupla aparece na metade inferior da tabela, já se distanciando da briga pelo acesso. O Hertha perdeu seus três primeiros jogos e chegou ocupar a lanterna, mas se recuperou com três vitórias em compromissos recentes. Já o Schalke preocupa mais. Os Azuis Reais aparecem na zona de rebaixamento, na antepenúltima colocação, com apenas sete pontos em oito rodadas. Nesta sexta, a equipe sofreu sua quinta derrota na campanha, com os 3 a 1 do Paderborn.
Na saída de campo, o diretor esportivo Peter Knäbel foi bastante duro com o Schalke. O dirigente não poupou palavras diante dos microfones da Sky alemã: “Estou furioso. Acho que todos nós estamos furiosos. Não podemos falar sobre qualidade todo o tempo e não trazer isso para o gramado. É difícil se concentrar no futebol. Com todo o respeito, o jogo é organizado pela comissão técnica, mas os jogadores decidem por si em campo. Aqueles que deveriam liderar o time não estão fazendo o suficiente. Fomos muito inocentes, porque era claro o plano do Paderborn. Você não pode jogar dessa maneira, somos o Schalke”. Resta saber como será a repercussão de tudo isso, numa semana em que o Schalke já tinha demitido seu técnico.
O tamanho da crise
O momento do Schalke 04 é bastante difícil, e faz tempo. O clube sofreu tanto com problemas de gestão quanto com dificuldades financeiras nos últimos anos. Houve um impacto muito grande da pandemia nas contas dos Azuis Reais, somada com a perda de outras receitas fundamentais, enquanto o desempenho esportivo também caiu vertiginosamente desde então. A lanterna da Bundesliga na temporada 2020/21 representava o fundo do poço. O Schalke conseguiu dar a volta por cima em 2021/22, com o acesso imediato na segundona. Entretanto, a equipe não estava preparada o suficiente para a elite. Até lutou pela sobrevivência, mas não escapou de outro rebaixamento em 2022/23.
O recomeço na segunda divisão exigiria bastante, mas o Schalke 04 permanecia como um dos favoritos ao acesso. O técnico Thomas Reis vinha de um trabalho razoável no segundo turno da Bundesliga e o elenco ainda mantinha alguns jogadores interessantes, sobretudo o centroavante Simon Terodde, herói no último acesso. Entretanto, o time acumula tropeços e problemas neste início de temporada. Há uma crise de lesões entre os goleiros. Já a insatisfação gerou inclusive a suspensão do zagueiro Timo Baumgartl, depois de uma dura entrevista questionando decisões da comissão técnica. Entraves que se notam em campo.
A estreia do Schalke contou com um épico, mas o Hamburgo levou a melhor na emocionante vitória por 5 a 3. A resposta dos Azuis Reais teve uma tranquila vitória por 3 a 0 sobre o Kaiserslautern, mas depois o time perdeu para Eintracht Braunschweig e Holstein Kiel, além de empatar com o recém-promovido Wehen Wiesbaden. A zona de rebaixamento já estava próxima. Um sinal de vida veio na sexta rodada, numa enorme virada por 4 a 3 contra o Magdeburgo, na Veltins Arena. Contudo, desde então, a equipe perdeu para o St. Pauli e desta vez sucumbiu diante do Paderborn.
O momento ruim já tinha resultado na demissão de Thomas Reis no meio da semana. O treinador era acusado de perder as rédeas do elenco, sem liderança, e de insistir demais em um estilo de jogo agressivo, quando faltava solidez defensiva. Matthias Kreutzer assumiu a equipe de maneira interina, algo que já fez em outros momentos. O assistente trabalha na primeira equipe desde março de 2019 e, desde então, auxiliou oito técnicos diferentes. Tal rotatividade só enfatiza a falta de estabilidade que existe atualmente em Gelsenkirchen. Não parece o cenário mais animador para buscar uma solução, por mais que a camisa dos Azuis Reais pese tanto.
E não que os problemas se restrinjam ao campo ou à casamata. O Schalke 04 tem um vazio na administração há tempos, que não se resolveu nem com mudanças entre os dirigentes. O clube encontra dificuldades para contornar suas dívidas e também não toma as melhores decisões no projeto esportivo. Dessa vez, a diretoria preferiu evitar empréstimos para montar o elenco rumo à segunda divisão, priorizando vínculos mais longos. O impacto de tal decisão causa preocupação, especialmente diante de um início tão ruim. Vai ser problemático se os Azuis Reais precisarem remontar seu grupo. E, ao que tudo indica, o time atual não possui qualidade o suficiente para lutar pela promoção. Será necessária uma reviravolta e uma aposta muito grande no próximo técnico.
- - ↓ Continua após o recado ↓ - -
A situação na tabela
O Schalke atualmente aparece na zona dos playoffs de rebaixamento. A equipe ainda tem o sexto melhor ataque do campeonato, com 13 gols marcados, mas a defesa é a pior da liga até o momento, com 18 gols sofridos. E a rodada ainda pode colocar os Azuis Reais na zona de rebaixamento direto, já que Eintracht Braunschweig e Osnabrück ainda não jogaram. A briga pelo acesso parece distante, com o Schalke a seis pontos da zona dos playoffs e a sete pontos do acesso direto.
A próxima rodada será importantíssima, ainda mais pela tensão atual. O Schalke 04 enfrentará justamente o Hertha Berlim, só dois pontos à frente, mas que ainda entra em campo no sábado contra o St. Pauli. Fato é que ninguém imaginava um duelo em situação tão ruim de ambos. Os berlinenses, apesar das dificuldades, ainda bancaram o ídolo Pál Dardái no comando. Ele começa a dar a volta por cima, mas a Velha Senhora ainda precisará de um gás para se firmar na briga pelo acesso.
Pela quantidade de camisas pesadas na 2. Bundesliga, há outros clubes tradicionais que buscam a volta à primeira divisão. O atual líder é o Hamburgo, que tenta encerrar sua sina, depois de cinco temporadas sem conseguir o acesso. Os Dinossauros venceram o Fortuna Düsseldorf por 1 a 0 no Volksparkstadion nesta sexta e chegaram aos 16 pontos. O Fortuna caiu para o segundo lugar, com 14 pontos. Pode ser ultrapassado por outros times de peso que entrarão em campo no final de semana. St. Pauli e Kaiserslautern têm 13 pontos. Já o pelotão dos 12 pontos reúne Hannover 96, Magdeburg e Holstein Kiel. É uma briga de equipes com história. O passado, porém, não entra em campo – e muitas das torcidas percebem isso da forma mais dolorosa.