De quase rebaixado duas vezes à provável vaga na Champions: como sobrinho de lenda do Bayern revolucionou o Stuttgart
Com a mesma base de um time quase rebaixado duas vezes, Sebastian Hoeness deixa Stuttgart cada vez mais próximo do retorno à Champions League

Certamente a grande história da Bundesliga em 2023/2024 é o Bayer Leverkusen e sua até então invicta campanha. Com 10 pontos de diferença para o segundo colocado, o time de Xabi Alonso está cada vez mais próximo do inédito título, e finalmente pode quebrar a hegemonia do Bayern de Munique, que foi campeão das últimas 11 edições da liga alemã.
Porém, outro time vem surpreendendo e fazendo tão bonito quanto, guardadas às expectativas e devidas proporções, e com um personagem ligado a um rival. Sobrinho de um dos maiores nomes da história do Bayern de Munique, Sebastian Hoeness chegou no fim da temporada passada ao Stuttgart, seu time de coração, e ajudou a equipe a permanecer na elite. Ele permaneceu para esta temporada e vem sendo o grande responsável por comandar a equipe que está muito próxima de assegurar uma vaga na Champions League da próxima temporada. Na última sexta-feira (8), a vitória sobre o Union Berlim por 2 a 0 deixou esse sonho ainda mais próximo de acontecer.
DNA ligado a Stuttgart e Bayern de Munique
Nascido em Munique em 1982, Sebastian acompanha futebol desde o berço. Ele é filho do ex-jogador Dieter Hoeness, ex-jogador de Stuttgart e Bayern de Munique, e sobrinho de Uli Hoeness, que além de atacante do time bávaro por 9 anos, foi também presidente do clube de 2009 a 2014, e de 2016 a 2019.
Sebastian Hoeness começou sua carreira como meia no Hertha Berlim, teve uma rápida passagem pelo Hoffenheim e depois voltou ao Hertha, onde encerrou sua carreira aos 28 anos, em 2010. Quando ainda estava se desenvolvendo, ele passou por três temporadas nas categorias de base do próprio Stuttgart.
No ano seguinte, Sebastian Hoeness passou a atuar como treinador nas categorias de base de um time ligado ao Hertha, e em 2017, do sub-19 do Bayern de Munique. Antes, ele também teve uma breve passagem pelos times menores do RB Leipzig. Mas sua trajetória como técnico passou a decolar em 2019, quando ele assumiu o comando do time 2 do Bayern, e ganhando o título da terceira divisão local, em 2020. Seu bom desempenho fez com que o Hoffenheim o contratasse para o início da temporada 2020/2021. Ele treinou a equipe por dois anos, mas após um 11º lugar em 2022, foi demitido por conta de duas temporadas bem medianas.
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Antes da revolução, o sofrimento
Hoeness chegou ao Stuttgart faltando apenas um mês para o fim da Bundesliga de 2022/2023, e pouco pôde fazer para evitar a 16ª colocação do seu time na Bundesliga. Entretanto, jogando um futebol propositivo, de trocas de passes e imposição em campo, fez com que os Schwaben ganhassem do Hamburgo por 6 a 1, no placar agregado dos playoffs contra o rebaixamento, fazendo com que o time seguisse na elite do futebol alemão.
— Quando você sobrevive ao rebaixamento na última chance, você não pode esperar disputar uma Champions League. Mas tinha muito mais qualidade no elenco do que os resultados mostravam. E olhando a nossa média de pontos na última temporada, eu secretamente esperava que poderíamos fazer melhor do que o Stuttgart fez nas últimas temporadas — disse Hoeness, em entrevista ao The Athletic.
— Ficar na primeira divisão nos deu tranquilidade para fazer algumas mudanças no elenco. Ajudou bastante as expectativas estarem baixas e depois de dois anos na parte de baixo da tabela, a fome por bom futebol era grande dentro do vestiário, independentemente dos resultados. Com um jogo total, nossa confiança cresceu e as habilidades dos atletas começou a aflorar.
Gastos inteligentes e aposta na base de campanhas ruins
E foi com essa tranquilidade que ele conseguiu montar o time. Sem tanto dinheiro, o Stuttgart fez contratações baratas, mas inteligentes. Angelo Stiller chegou do Hoffenheim, Max Mittelstadt do rebaixado Hertha, e Alexander Nubel e Deniz Undav reforçaram o time via empréstimos de Bayern de Munique e Brighton, respectivamente. Porém, a equipe sofreu ao perder três jogadores essenciais. Konstantinos Mavropanos foi para o West Ham, Borna Sosa para o Ajax e nos últimos dias da janela, Wataru Endo rumou ao Liverpool. Mas nem isso tirou a confiança do técnico em seus comandados.
— Apesar dessas grandes perdas, nós seguíamos acreditando que poderíamos fazer bons jogos. Estávamos focados em adicionar qualidade aos jogadores, que também tinham grandes personalidades e sociabilidade.
E foi assim que ele fez com que jogadores que antes lutavam contra o rebaixamento, chegassem ao ápice de suas carreiras de uma temporada para outra. O principal nome é o de Serhou Guirassy. Aos 27 anos, o centroavante vive o auge de sua carreira. Com 22 gols, ele é o vice-artilheiro da Bundesliga, e tem grandes chances de deixar o clube na próxima temporada. Nas partidas em que ele esteve fora por estar representando a seleção de Guiné na Copa Africana de Nações, Undav o substituiu à altura. Além deles, os meias Enzo Millot e Chris Führich, assim como o volante Atakan Karazor, também ganharam destaque na equipe de Hoeness.
Números da equipe são expressivos de uma temporada para a outra
A união entre um treinador ofensivo, que conseguiu extrair o melhor do elenco, fez com que o Stuttgart chegasse longe até para o mais confiante dos seus torcedores. Atualmente, o clube ocupa a terceira colocação da Bundesliga, com 53 pontos em 25 partidas da Bundesliga, e tem chances enormes de voltar à Champions League na próxima temporada.
Para se ter uma noção da diferença comparando o time às temporadas anteriores, em 2021/2022 o time ficou na 15ª posição, tendo feito 33 pontos em 34 jogos, e em 2022/2023, novamente 33 pontos, mas desta vez no antepenúltimo lugar. Somadas as duas temporadas, os gols marcados não superam os 56 marcados até agora pelos Schwaben.
Apesar de especulações, Hoeness deve permanecer
O estilo ofensivo de Hoeness, aliado ao que conseguiu despertar nos atletas, fez com seu nome fosse especulado no Bayern de Munique, que não seguirá com Thomas Tuchel para a próxima temporada. Ser sobrinho de Uli Hoeness também pesa, mas aparentemente, ele deve mesmo continuar onde está. Na última sexta-feira (8), o Stuttgart anunciou a renovação do treinador de 41 anos, que agora possui contrato com a equipe do sul alemão até o meio de 2027.
— Para mim o Stuttgart é um clube especial. Quando eu era muito pequeno, eu sentava aqui no estádio e torcia pelo time. Eu também vesti as cores do clube por três anos nas categorias de base e fui campeão alemão sub-17. Para mim, o Stuttgart significa emoção, é algo muito especial.
Aparentemente, o Stuttgart pode respirar aliviado em relação ao seu novo treinador. A equipe não disputa uma Champions League desde 2009/2010, e mesmo com um time mais modesto, está prestes a voltar à maior competição da Europa. É difícil imaginar que jogadores como Guirassy não deixarão os Schwaben, mas com um novo mercado inteligente e com Hoeness extraindo o melhor de seus atletas tanto em campo como mentalmente, o Stuttgart parece ter um futuro ao menos diferente de suas últimas sofridas temporadas.