Não ser craque nunca foi problema para Klose se tornar o maior

Miroslav Klose não é melhor jogador do que foi Ronaldo. Tampouco do que Gerd Müller, Fontaine, Pelé, Kocsis ou Klinsmann. As Copas do Mundo não esconderão isso. No entanto, contarão uma história muito mais grandiosa sobre Klose. Pode ser que o centroavante alemão nunca tenha um título, como o camisa 9 brasileiro ou compatriota que comandou o ataque do Nationalelf nos anos 1970. Não importa. Seu nome está gravado nos Mundiais, como o maior artilheiro de todos. No mínimo, empatado com Ronaldo. Mas ainda com chances razoáveis de assumir o topo isoladamente.
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Klose é mais um daqueles possuídos pelo fenômeno que rege os atacantes da Alemanha. A lenda do artilheiro alemão que se transforma na Copa do Mundo. Thomas Müller é o escolhido desde o Mundial de 2010. Ainda assim, a magia continua sobre o eterno camisa 11. Neste sábado, bastou um toque na bola para fazê-la estufar as redes. Tirou o Nationalelf do sufoco, empatando o jogo contra Gana. Chegou aos 15 gols de Ronaldo, precisando apenas de um jogo a mais (20, contra 19), que o colocaram definitivamente na história.
A explosão de alegria na comemoração do gol foi evidente. E não só no Castelão, pelo momento inigualável que a torcida presenciava, mas também em muitas outras partes do planeta. O próprio Klose não conseguiu se conter. O senhor de 36 anos já não repetia o salto mortal, tão tradicional em suas comemorações, havia algum tempo. Relembrou o gesto, para ficar eternizado no tento mais emblemático da sua carreira até aqui.
Quando o Klose surgiu na seleção alemã, poucos poderiam imaginar a forma como se agigantaria. O polonês que vivia desde os oito anos no país era a opção para o ataque em uma geração longe de ser brilhante, credenciado pelos gols com o Kaiserslautern. Apesar dos assédios da seleção polonesa, preferiu esperar a chance com Rudi Völler. E estreou logo com gol, definindo a vitória por 2 a 1 sobre a Albânia. Saiu do banco no meio do segundo tempo e comemorou com o salto mortal, como no jogo deste sábado. O primeiro de muitos tentos.
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Os muitos gols na preparação tornaram Klose titular na Copa do Mundo de 2002. Um nome pouco conhecido, mas que logo mostrou suas credenciais. Três tentos nos 8 a 0 sobre a Arábia Saudita, outros dois contra Irlanda e Camarões. Não fez mais, embora tenha sido fundamental na campanha até a decisão. A partir daquele momento, ganhava confiança para ser o dono da área no Nationalelf. Por mais que não estivesse bem nos clubes, permanecia sendo a principal referência na seleção.
Klose teve a chance de encantar a própria torcida alemã e marcou cinco gols na campanha no Mundial de 2006, incluindo um fundamental nas quartas de final contra a Argentina. Parou para a Itália, nas semifinais. E somou mais quatro a sua conta em 2010, três nos mata-matas contra ingleses e argentinos. Outra vez, as semifinais foram os limites. Depois disso, o artilheiro perdeu seu lugar cativo entre os titulares, com a concorrência de Mario Gómez. E, mesmo assim, se tornou o maior artilheiro da história da Alemanha. Em setembro passado, igualou os 68 gols de Gerd Müller, para tirar uma outra pressão de suas costas. Em maio, superou, para vir à Copa visando outra marca.
Por mais que não esteja no auge, Klose não poderia deixar de vir ao Brasil. Não se pode abrir mão de um matador desse porte. Um centroavante que não é intenso como Luis Suárez, técnico como Van Persie, habilidoso como Ibrahimovic. Porém, cirúrgico. Klose não é exímio com a bola nos pés, mas sabe muito bem como mandá-la para as redes. Possui um senso de posicionamento incrível. Ótima presença de área. Faro de gol. Não costuma desperdiçar suas chances. Como o gol simbólico contra Gana bem mostrou.
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Klose até poderia ter dado a vitória à Alemanha, marcado o gol para se tornar o recordista isolado. Não fez. E também não fez tanta falta assim. Em 2014, mais do que a chance de quebrar a marca, o camisa 11 tem a oportunidade derradeira de ser campeão. Isso sim importa realmente. Aos 36 anos, o centroavante garante experiência para um ótimo elenco e também poder de decisão. Pode ser útil nestes momentos, como no jogo de Gana. Quando a magia do atual matador alemão não for o suficiente, o velho assassino de aluguel aparece.
Ronaldo foi um grande craque. Gerd Müller, também. Pelé, Fontaine, Kocsis e Klinsmann. Klose, não. E isso ajuda a tornar a façanha do centroavante ainda maior. Porque Klose soube assumir a responsabilidade em grandes times da Alemanha, incorporar exatamente o artilheiro que o Nationalelf sempre precisou. Ser campeão, agora, é o feito que lhe resta. Ser craque nunca lhe fez falta.