Alemanha

Em carta, campeão mundial revela arrependimento por ida ao Bayern de Munique

Meia se pergunta porque deixou o Borussia Dortmund em 2013 e destaca o papel de Jürgen Klopp no começo da sua carreira

Quem conhece o time do histórico 7 a 1 na Copa do Mundo de 2014 certamente sabe da relevância do meio-campista Mario Götze para a última geração do futebol alemão.

Autor do gol que deu ao time de Joachim Löw o quarto título mundial, Götze defende hoje o Eintracht Frankfurt, mas já passou por Hombrucher, Ronsberg, Borussia Dortmund, Bayern de Munique e PSV.

Em sua primeira passagem pelo Dortmund, Götze brilhou. Por lá, o camisa 10 foi bicampeão da Bundesliga (10/11 e 11/12), campeão da Copa da Alemanha (11/12) e vice-campeão da Champions League (12/13).

O sucesso no Signal Iduna Park o levou à Baviera, onde vestiu a camisa do Bayern de Munique, trabalhou ao lado de Pep Guardiola e empilhou mais alguns títulos alemães – além de troféus internacionais.

Aos 32 anos, Götze já viveu um pouco de tudo dentro do campo e, em uma carta aberta a si mesmo, revelou arrependimentos do início da carreira e ao longo da sua trajetória no esporte.

No livro Stimmen der Eintracht (“Vozes do Eintracht”), lançado em setembro de 2024, o jornalista Michael Horeni, nascido em Frankfurt, conversa com jogadores, treinadores, dirigentes e torcedores do clube alemão.

Há um capítulo intitulado Mario Götze – der ewige Torschütze (“Mario Götze – o eterno artilheiro“): uma carta do Götze de 32 anos para o Götze de 17 anos, prestes a fazer sua estreia na Bundesliga.

O jornal alemão Zeit teve acesso ao livro publicado pela editora Bertelsmann, e transcreveu uma versão abreviada dos relatos do meio-campista momentos marcantes da sua carreira.

A estreia de Götze na Bundesliga sob os olhares de Jürgen Klopp

A estreia de Mario Götze na Bundesliga pelo Borussia Dortmund, em 2009. Foto: Icon Sporta
A estreia de Mario Götze na Bundesliga pelo Borussia Dortmund, em 2009. Foto: Icon Sport

No início de sua carta, Mario Götze reflete sobre suas ambições no futebol e a ansiedade de quem está prestes a dar os primeiros passos como profissional, vestindo a camisa do Mainz.

Ele fala sobre o 21 de novembro de 2009, dia em que estreou na Bundesliga, pela 13ª rodada, com a camisa do Borussia Dortmund:

“Hoje, Jürgen Klopp te coloca em campo, e você se torna jogador da Bundesliga. Mas você não está preparado para o que está por vir — nem poderia estar.”

O arrependimento no Bayern de Munique

Gotze e Pep Guardiola no Bayern de Munique, em 2016. Foto: Imago
Gotze e Pep Guardiola no Bayern de Munique, em 2016. Foto: Imago

O sucesso meteórico de Götze no Borussia Dortmund fez com que o meia se tornasse um dos principais nomes do futebol europeu em 2013.

Ao final da temporada, já como vice-campeão europeu, ele recebeu uma proposta tentadora do Bayern de Munique – que acabara de contratar Guardiola para o comando técnico.

Na carta, ele fala sobre a admiração pelo estilo de jogo do Barcelona de técnico espanhol e a relevância do clube da Baviera como fatores decisivos para deixar o Dortmund naquela ocasião.

Hoje, admite que essa escolha, motivada por sua ambição de vestir a camisa do clube mais poderoso do futebol alemão, é razão de um arrependimento.

“Desde criança, eu sempre quis mais. Queria chegar o mais alto possível, e o mais rápido possível. Quando o Bayern me procurou, e com Guardiola assumindo o comando, minha fascinação pelo Barcelona também pesou. Eu adorava o estilo de jogo deles e queria vivê-lo. Tinha opções, inclusive o próprio Barcelona, mas escolhi o Bayern. No fundo, deveria ter ficado mais tempo em Dortmund. Isso teria sido melhor para mim e para minha evolução.”

O gol mais importante da carreira

Mario Götze marca o gol do tetracampeonato mundial da Alemanha em 2014, contra a Argentina, no Maracanã. Foto: Icon Sport
Mario Götze marca o gol do tetracampeonato mundial da Alemanha em 2014, contra a Argentina, no Maracanã. Foto: Icon Sport

Um ano após sua transferência para o Bayern de Munique, Mario Götze viveu o ápice de sua carreira ao marcar o gol que deu à Alemanha o título da Copa do Mundo de 2014.

Durante o torneio, o jogador enfrentou frustrações ao ser colocado no banco de reservas após o jogo contra a Argélia, nas oitavas de final. Um episódio que o abalou profundamente, segundo o relato.

Hoje, Götze reflete sobre o peso desse momento e como, aos 22 anos, ele ainda não estava preparado para lidar com a fama e a pressão que aquele gol traria.

“Quando fui para o banco após o jogo contra a Argélia, parecia o fim do mundo para mim. Mas hoje eu te digo: você pode sobreviver a um fim do mundo. E então, alguns dias depois, você marca o gol mais importante da sua vida. Incrível, não é? (…) É realmente difícil marcar o gol da sua vida aos 22 anos. Se eu pudesse escolher, teria feito esse gol aos 35, para então me aposentar da seleção. Mas eu fiz esse gol no começo [da carreira]. E é isso que é louco. Esse gol está sempre lá. Você é esse gol.

A importância dos grandes momentos dentro e fora de campo

Götze em ação pelo Eintracht Frankfurt na temporada 24/25. Foto: Icon Sport
Götze em ação pelo Eintracht Frankfurt na temporada 24/25. Foto: Icon Sport

Já no final da carta para si mesmo, Götze expressa um desejo de ter sido mais paciente consigo mesmo e de ter aproveitado melhor os momentos marcantes da carreira, especialmente o gol na final da Copa do Mundo.

No entanto, ele revela que ainda tem muito a oferecer no futebol e dá um conselho à sua versão de 17 anos.

“Eu reconheço que deveria ter sido mais paciente, deveria ter deixado mais tempo passar, deveria ter aproveitado mais o momento de fazer aquele gol [final da Copa]. Eu sei que você pode ignorar meus conselhos, mas um dia talvez você se lembre de algo que eu disse. E se eu pudesse me dar um conselho hoje, seria: mantenha seu coração aberto. Isso me ajudou muito nos últimos anos. Eu quero alcançar o máximo que puder no futebol nos próximos anos. E se eu pudesse fazer um desejo, seria trabalhar com uma equipe no Eintracht Frankfurt que pudesse brigar no topo. Mas isso não é tão fácil. As ambições pessoais e as do clube precisam estar alinhadas. Sobre a minha vida, sinto que estou melhor do que nunca. Minha melhor fase é agora. Estou pronto para o futuro.”

Foto de Lucas Gervazio

Lucas GervazioRedator de esportes

Jornalista pela Unesp. Antes da Trivela, contribuiu para os portais Guia do Boleiro, Quinto Quarto e FNV Sports.
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