Alemanha

Beckenbauer foi o gênio a quem a bola mostrava que obedecia

Kaiser foi dos jogadores mais completos da história. Uniu capacidade técnica e compreensão tática no mais alto nível

De todas as definições que li e ouvi quando a notícia da morte do Kaiser Franz Beckenbauer uma me chamou a atenção em especial. Foi em um texto do jornalista alemão Alfred Draxler, que escreve para o “Bild”, principal diário do país. Segundo Draxler, “a bola obedecia a Beckenbauer”. Ele ainda acrescentou que “Franz” frequentemente era o único jogador que deixava o campo com o uniforme limpo.

Beckenbauer foi uma das minhas referências no exercício da paixão pelo futebol. Minha geração foi fortemente marcada pela imagem do jogador elegante, de postura ereta, que tinha uma batida na bola com o peito do pé inigualável. Beckenbauer exercia controle sobre o tempo e o espaço no jogo. Quando passei a consumir mais o produto futebol, a imagem do ainda jovem alemão com a clavícula direita imobilizada em campo na semifinal, por sua Alemanha, contra a Itália, na Copa do Mundo de 1970, ficou em minha memória.

Franz Beckenbauer foi uma referência para quem amou futebol

Na Copa do Mundo de 1974 o Kaiser desfilou todo seu repertório de jogador completo. Um defensor que saía para o jogo com mais propriedade que qualquer meio-campista, a quem no Brasil demos a condição de sinônimo de líbero. Aliás, recomendo a quem ainda não viu que assista a final da Copa de 1974. Uma aula de futebol de holandeses e alemães, jogo disputado já em velocidade maior que a final de 1970, mas com incrível técnica, apuro nos passes e grandes movimentações táticas.

Beckenbauer foi um estilista. Quando escrevi um livro sobre o genial Roberto Rivellino, tive a honra de receber um favor imperial de meu grande amigo Milton Leite. Ele havia sido escalado para uma entrevista com Beckenbauer, na casa do Kaiser, em Salzburg, na Áustria. Após gravar uma entrevista histórica, Milton fez as perguntas que pedi a ele para meu livro. Guardo até hoje a gravação com as respostas. Milton me disse da alegria de Beckenbauer em falar sobre Riva, do sorriso no rosto ao recordar um Brasil x Seleção da FIFA em 1968, no Maracanã. Um tesouro para meus arquivos.

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Beckenbauer pisou na bola sim, mas quem nunca pisou?

O Kaiser, como todos nós, teve suas derrapadas na vida. Quando migrou da genialidade de craque para a função de cartola andou pisando na bola. No fim da vida, sofreu muito. Perdeu um filho de 46 anos em 2015, teve problemas cardíacos, ficou cego de um olho e nos últimos momentos enfrentava um quadro de demência.

Mas a imagem que sempre guardarei na memória é a do jogador de elegância inigualável, total controle de bola, equilíbrio, inteligência, perfeita compreensão do jogo.

A vida segue seu rumo. Parte da magia do futebol que eu aprendi a amar está indo embora. O Rei Pelé, Maradona, Beckenbauer.

Vida longa ao Rei, ao Pibe De Oro e ao Kaiser em nossas memórias!

Foto de Mauricio Noriega

Mauricio Noriega

Colunista da Trivela
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