Futebol, guerra e futebol de novo: a história deste estádio é esperança para Somália
Estádio Nacional de Mogadishu é símbolo de luta e resistência do povo somali
A República Federal da Somália, país localizado na região conhecida como Chifre da África, na antiguidade foi um importante centro comercial do mundo. Os mercadores e marinheiros somalis eram os principais fornecedores de especiarias e outros materiais como incenso e mirra. Os itens eram considerados muito valiosos para os antigos povos do mundo, como os egípcios, babilônios, fenícios, que negociavam a compra destes produtos com os somalis.
Depois de um período de prosperidade e relevância devido ao poder de sua rota comercial, a Somália conviveu com conflitos civis sangrentos, que mancharam a história daquele que foi um importante ponto estratégico do mundo. Desde 1991 a população somali convive com a guerra civil causada após a queda do ditador Siad Barre e a partir deste momento, instalações públicas do país passaram a ser atacadas e abandonadas pela sua população, que temendo por suas vidas, aguardaram por dias melhores em seu país.
Dias que podem estar próximos de chegar, apesar da fragilidade de seu governo e o futebol, mais uma vez, vem como uma válvula de escape para a violência e tem sido utilizado como forma de mostrar à população que o país tem lutado e trabalhado para entrar nos eixos. O maior símbolo que representa um novo momento para a Somália é o Estádio Nacional de Mogadishu, que voltou a ser utilizado como palco para eventos esportivos após três décadas fechado por conta da guerra civil no país.
A instalação chegou a ser utilizada como base militar em meio aos confrontos armados, mas hoje, representa um momento diferente na Somália, no qual o povo reunido vai até o estádio não para se esconder ou pedir abrigo contra os tiros e explosões, mas para torcer pelo seu time do coração, no primeiro campeonato nacional organizado do país após mais de 30 anos de guerra.
Governo da Somália reforma estádio Mogadishu, para celebração dos Somalis
Foram anos de luta, choro, sofrimento antes da reinauguração do Estádio Nacional de Mogadishu em 29 de dezembro de 2023. Como um presente de final de ano para o povo somali, a população lota o campo de jogo em dias de evento e torcem com muita alegria e emoção, agradecendo pela oportunidade de poder saírem de suas casas para aproveitar o melhor daquilo que o esporte pode proporcionar. Sem dúvidas, o campeonato nacional da Somália é um marco nos esforços do governo para restaurar à vida pública depois de tanto tempo.
O primeiro-ministro do país Hamza Abdi foi um dos responsáveis pela inauguração da competição, que tem 12 clubes, separados pelas regiões de Jubbaland, South West, Galmudug, Hirshabelle e a região administrativa de Banadir. Por enquanto, o estado da Puntlândia não participa do torneio por conta de uma disputa política com o governo central.
Embora o grupo extremista Al-Shabbab, que tem ligações com o Estado Islâmico, ainda lance alguns ataques em direções a hotéis, repartições governamentais, entre outros locais públicos, a volta do futebol na Somália deu ao povo uma coragem de enfrentar a guerra de peito aberto para poder acompanhar e se emocionar de maneira positiva por meio do esporte.
Em entrevista ao The Independente, Jubbaland, jogador do Mohamud Abdirahim, agradeceu pela oportunidde de fazer parte deste momento histórico, que somente o futebol poderia proporcionar.
“Meu louvor seja a Deus Este torneio, no qual participam todas as regiões da Somália, é excepcionalmente especial. Vai fazer parte da nossa história”, agradeceu o jogador.
Outros torcedores do país sentem que o mais novo campeonato nacional da Somália é um movimento de emancipação do país após anos de luta, medo e sentimento de insegurança que assolou toda a nação somali. Após décadas sendo notícias ao redor do mundo como um país violento, corrupto e conhecido pelos seus piratas, que ainda assolam a região do Chifre da África, o governo do país quer que sua competição seja mostrada como uma ferramenta de escape aos conflitos e um marco na reestruturação do local.
Federação Somali de Futebol comemora reconstrução de Mogadishu
Foram anos de agonia e dor, o Estádio Nacional de Mogadishu foi utilizado como base para tropas etíopes entre 2007 e 2009 e foi ocupado por militantes da Al-Shabbab entre 2009 e 2011. A partir de 2012, o local passou a ser utilizado pelas bases da força de manutenção da paz da União Africana. Sua reconstrução e abertura para a prática do esporte marca um novo momento do país, o qual deixa um recado claro ao mundo de que a Somália está se aproximando de sua tão sonhada paz.
“Quando este estádio foi usado como acampamento militar, foi uma fonte de agonia e dor. No entanto, agora podemos ver como se transformou e está destinado a servir o seu propósito original, que é jogar futebol”, disse Ali Abdi Mohamed, presidente da Federação Somali de Futebol.