Somália: Um pedido de paz

“Noloshu waa nabad”. Traduzidas, essas palavras reforçam o pedido por paz na Somália. Em 2004, ele esteve perto de ser atendido, quando se estabeleceu uma nova administração, de caráter transitório. Essa foi a 14ª tentativa de se restaurar a ordem interna desde 1991, mas, como nas outras 13 vezes, não teve o sucesso esperado.

Apontado no Quênia e comandado pelo presidente Abdullahi Yusuf Ahmed, o parlamento interino está fracassando em seu trabalho de recuperar a pretendida paz. Isso acontece, sobretudo, em decorrência dos próprios desentendimentos existentes dentro de sua base e, também, do surgimento, no ano passado, de uma força rival – a União das Cortes Islâmicas – que, desde então, promoveu diversos atentados em todo o território somaliano – principalmente na capital Mogadíscio.

A Somália sempre esteve com a violência à volta – desde sua independência, em 1960. A situação piorou quando um regime ditatorial, dirigido por Siad Barre, assumiu o controle da nação africana, convertendo-a ao socialismo e iniciando, assim, uma aproximação com a União Soviética. Em 1991, porém, os somalianos entraram em crise com dissolução da URSS e não mais alcançaram a estabilidade necessária para sequer sustentar uma administração centralizada.

No fim de outubro de 2007, as Nações Unidas confirmaram que quase 100 mil pessoas deixaram a Somália para escapar dos confrontos entre as tropas etíopes – que apóiam o presidente Ahmed – e os rebeldes mulçumanos. Medidas para solucionar essa situação, no entanto, estão sendo tomadas. O ex-primeiro-ministro, Ali Mohamed Gedi, que renunciou ao posto há mais de um mês por causa de divergências com Ahmed, colocou-se à disposição para mediar um acordo entre as duas partes. É, ao menos, um alento para a população e o futebol local.

Futuro desanimador

O principal esporte da Somália é o futebol. Há tempos, porém, sua prática tem sido comprometida pelos constantes conflitos. A insegurança causada por eles impossibilita, inclusive, a realização de partidas na capital Mogadíscio. O confronto contra Djibuti, pelas eliminatórias para a Copa do Mundo de 2010, foi até mesmo reduzido para somente uma partida, disputada fora de casa, em vez de duas, como previsto.

O resultado – mais uma derrota – em nada surpreende e tem como principal conseqüência a eliminação dos Ocean Stars da briga por uma vaga na África do Sul, determinando a ausência dos somalianos de competições oficiais pelos próximos três anos. Desse modo, o retrospecto de participações em Mundiais se manterá – nenhuma. Assim como o da Copa Africana de Nações – também nenhuma. Esse desempenho, aliás, se repete regionalmente, onde nem mesmo na Taça Cecafa a Somália consegue algum resultado relevante.

A contratação do atacante Aadan Abshir pelo sueco Lillestrom repercutiu muito recentemente. Maior destaque somaliano, ele assinou um contrato por duas temporadas que, mais do que impulsionar sua própria carreira, surge como incentivo para as demais promessas do país.

Abshir iniciou a carreira no Elman, atual campeão nacional e clube somaliano mais poderoso. Ao lado do Banaadir Telecom, ele domina o futebol local. Sem figurar com destaque em competições como Liga dos Campeões e Copa CAF, resta a ambos tentar algo regionalmente, na Taça Cecafa de clubes, na qual o Elman, por sinal, venceu sua primeira partida somente em 2002.

O papel fundamental do Elman

A equipe foi fundada por Mohamud Ali Ahmed, também conhecido como Elman, um empresário que, depois de certo tempo, converteu-se em um ativista e, acima de tudo, defensor das causas humanitárias. Em 1992, ele criou, usando dinheiro arrecadado com suas empresas, uma organização para desenvolver o futebol entre as crianças somalianas e, assim, nasceu o Elman FC. Ahmed foi assassinado quatro anos depois, mas deixou para os somalianos o exemplo de que é possível, sim, realizar um trabalho decente em meio a conflitos como o atual.

Em 2003, o Elman, então formado por garotos de diversas religiões, realizou uma excursão pela Somália para promover a paz. A iniciativa foi um sucesso e deverá ser repetida em 2008, quando o clube iniciará mais uma peregrinação pelo território nacional com a mesma motivação.

Foto de Equipe Trivela

Equipe Trivela

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