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O que a seleção da Espanha acha da debandada de jogadores para Marrocos?

A seleção da Espanha trabalha para convencer os jogadores de dupla nacionalidade a jogarem por seu país, enquanto o Marrocos faz o mesmo

Campeã do mundo em 2010, a Espanha vive um momento de renovação em sua seleção. Com a maioria de seus craques do Mundial da África do Sul aposentados ou em fim de carreira, La Roja olha para suas equipes de base à procura de novos craques para o futuro. Em meio a esse cenário, a Real Federação Espanhola de Futebol (RFEF) está atenta aos movimentos do Marrocos.

Em uma clara crescente, a seleção marroquina atingiu a melhor campanha de uma nação africana na Copa do Mundo em 2022, quando chegou à semifinal e ficou com o 4º lugar no Qatar. Para isso, eliminou Bélgica (na fase de grupos), a própria Espanha (nas oitavas de final) e Portugal (nas quartas). Só que um fato chamou a atenção do time treinado por Walid Regragui: 14 dos 26 convocados eram jogadores naturalizados.

Entre eles, dois nascidos na Espanha: o lateral Achraf Hakimi e o goleiro Munir Mohamedi. Mesmo com a possibilidade de defender La Fúria, a dupla preferiu as raízes familiares do Marrocos. E a tendência é que o país africano continue monitorando jovens de outros lugares, mas que tenham a dupla nacionalidade para oferecer a chance de chegar à seleção principal. Ou seja, adotando a mesma estratégia da RFEF.

Por conta disso, a seleção espanhola trabalha para convencer os jogadores de dupla nacionalidade a jogarem por seu país. Ou melhor, não tentam persuadir ninguém. Quem garante isso é Francis Hernández, coordenador da equipe juvenil da RFEF, que concedeu uma entrevista ao jornal Marca e declarou o que La Roja acha da debandada de atletas para os Leões do Atlas.

A seleção da Espanha se sente ameaçada pelo Marrocos?

Segundo informações do próprio Hernández, dos atletas nascidos entre 1996 e 2010 que possuem dupla nacionalidade, 85% deles disseram sim à seleção espanhola. Em números, 98 de 115 atletas poderiam defender as cores de outro país, mas escolheram La Fúria. Os outros 17 aceitaram o convite de outras federações. E o coordenador da categoria juvenil da RFEF explicou como funciona esse processo:

“Trata-se de transmitir ao jogador o interesse em participar com a nossa equipe, independente da categoria. A partir daí, o jogador de futebol tem que avaliar o que há de melhor a nível pessoal e profissional. Não tentamos convencer, tentamos transmitir o que somos capazes de oferecer. O jogador tem que estar convencido do país que quer representar, tanto profissionalmente, como pessoalmente. Estamos orgulhosos, felizes. É um processo natural devido à sociedade em que vivemos. Depois há crescimento, desenvolvimento. E não podemos esquecer que o funil se estreita à medida que avançamos em direção à (seleção) principal”.

Francis Hernández acredita que a Espanha tem um futebol muito atrativo em relação ao resto do mundo, o que serve como atrativo na hora do jogador com dupla nacionalidade escolher La Roja. Mesmo assim, existem casos de atletas que preferem jogar por outro país. Focando no Marrocos, além de Hakimi e Munir, Ilias Akhomach foi um dos mais recentes a decidir atuar pelos Leões do Atlas.

Natural de Els Hostalets de Pierola, na Espanha, o ponta-direita passou pelas categorias de base do Barcelona e do Villarreal, sendo esse último onde se profissionalizou. Peça importante do Submarino Amarelo, tanto que já jogou por LaLiga, Liga Europa e Copa do Rei nesta temporada, Akhomach passou pelas seleções de base de La Fúria, quando recebeu uma proposta da Federação Marroquina de Futebol (FMF).

Com raízes no país africano, o jogador de 19 anos disse “não” à seleção espanhola para jogar pelo Marrocos. Perguntado se a Real Federação Espanhola se sente ameaçada pela FMF, o coordenador da equipe juvenil negou a preocupação. Aliás, Francis deixou bem claro que todos os atletas de dupla nacionalidade têm o direito de decidir o que acham melhor para suas carreiras e, principalmente, suas vidas pessoais:

“Tem que naturalizar, insisto. Estamos falando da evolução da sociedade, certo? Isso faz parte dessa evolução. Existem jogadores, e não só aqueles que podem jogar pelo Marrocos, que têm um ambiente, têm raízes importantes e que devem ser respeitadas acima de tudo. E nunca se pode esquecer que à medida que você cresce, o espaço nas seleções diminui. A mensagem deve visar a valorização e a reflexão em todos aqueles que querem representar Espanha. Não tenho dúvidas de que continuarão a ser muitos”.

Foto de Matheus Cristianini

Matheus CristianiniRedator

Jornalista formado pela Unesp, com passagens por Antenados no Futebol, Bolavip Brasil, Minha Torcida e Esportelândia. Na Trivela, é redator de futebol nacional e internacional.
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