Reyes: A aposta mais alta do Arsenal

Na janela de transferências de janeiro, ninguém esperava que o Arsenal fosse desembolsar grandes quantias para reforçar seu elenco. Sendo assim, foi uma grande surpresa quando os Gunners anunciaram que gastariam US$ 31 milhões na compra de um novo atacante. Surpresa maior, porém, foi o nome do jogador: em vez de astros já estabelecidos, como Vieri, Kluivert ou Amoroso, quem tornou-se o jogador mais caro da história do clube londrino foi o jovem espanhol José Reyes.

O leitor que não acompanha de perto a liga espanhola provavelmente nunca ouviu falar do jogador, de apenas 20 anos. Afinal de contas, até selar sua transferência para a Inglaterra, ele havia atuado no modesto Sevilla durante toda a carreira.

Mas, na Espanha em geral e em Sevilha em particular, Reyes é um jogador extremamente respeitado, considerado por muitos como o melhor da nova geração do país. Ele já era ídolo na cidade há duas temporadas e explodiu no cenário nacional com sua grande atuação na goleada do Sevilla sobre o Real Madrid (4 a 1). O diário esportivo Marca descreveu-o como ´´simplesmente um superastro, espetacular – dribles, magia, visão e gols, tudo em um só jogador´´. Embora o jornal seja dado a exageros, não é qualquer um que recebe tamanho elogio.

E ninguém pode acusar Arsene Wenger de não saber o que está comprando. Segundo o técnico francês, ele viu Reyes em ação ´´umas 40 vezes´´ antes de efetivar a compra. Em julho de 2003, o Arsenal já tentara trazer o rapaz, mas o Sevilla conseguiu convencê-lo a renovar seu contrato até 2010 – talvez tenha sido esse o principal fator que inflacionou o valor da transferência.

O estilo de José Reyes se encaixa perfeitamente com o que o técnico do Arsenal aprecia. O espanhol tem grande domínio de bola, dribla bem, é rápido e sabe tanto fazer gols quanto servir os companheiros. Além disso, ele é versátil, podendo atuar como segundo atacante (sua especialidade), enfiado dentro da área, nos flancos ou até como meia ofensivo.

Mas será que ele vale tudo isso?

Então todos concordam que Reyes é um bom jogador, com talento de sobra e um grande potencial. Mas daí a valer US$ 31 milhões vai um grande pulo. A declaração do presidente do Sevilla, José Maria del Nido, ao confirmar a venda, é mais que sintomática: ´´essa foi a coisa mais triste que já tive que fazer. Mas a oferta foi de outro mundo. É um valor maior do que o Bayern pagou por Makaay, mais até do que o Real Madrid pagou por David Beckham´´.

Descontado o drama para ficar bem com a torcida, a comparação do dirigente com dois dos jogadores mais famosos do mundo dá a noção do absurdo da cifra paga (é bom ressalvar que ´apenas´ US$ 19 milhões foram pagos imediatamente; os outros US$ 12 milhões dependem de seu desempenho futuro). Por esse valor, não basta que Reyes se torne titular do Arsenal. Não basta que no futuro ele vire um ótimo jogador. Para que os US$ 31 milhões sejam justificados, Reyes tem que ser um dos destaques já no próximo campeonato inglês, jogando um futebol do nível de seu companheiro Henry.

Para azar do espanhol, sua estréia no Arsenal foi uma das piores da história. Em uma das primeiras vezes que pegou na bola, no segundo jogo da semifinal da League Cup contra o Middlesbrough, Reyes marcou um gol contra. Sorte que a competição não era importante para os Gunners… Para compensar, o atacante marcou os dois gols na vitória por 2 a 1 de seu time sobre o Chelsea, pelas oitavas-de-final da mais prestigiada FA Cup.

O acerto da aposta do Arsenal depende, como sempre, da delicada equação que opõe potencial e realidade. Se o inegável potencial de Reyes se materializar, o investimento do time terá sido justificado. Se ele ficar no meio do caminho, como tantos outros ficaram, será mais um entre tantos maus negócios feitos desde o ´boom´ do futebol como negócio.

Wenger e o Arsenal fizeram a aposta mais alta de sua história em Reyes. Resta torcer para que ele não se torne também o mais caro fiasco do centenário clube inglês.