Murcia: A ressurreição
A cidade de Múrcia viu seu time de futebol renascer. Um clube pequeno, com poucos títulos e que no início da década de 90 passou por gravíssimos problemas financeiros. Esteve perto da falência, mas se recuperou. Conquistou a segunda divisão espanhola na temporada 2002/3 e hoje está na série máxima do futebol espanhol.
A cidade de Múrcia é a capital da região de Múrcia, localizada no sudoeste da Espanha. A região é banhada pelo Mar Mediterrâneo e tem uma população de Cerca de 1,2 milhão de habitantes. Como toda boa cidade européia, Múrcia abriga bons museus e uma bela catedral. Porém, os turistas que visitam a região preferem ir para suas praias, praticar esportes náuticos ou apenas descansar em praias paradisíacas.
No batizado, uma goleada
O clube foi fundado em 1908. A primeira partida oficial foi disputada apenas no ano seguinte, contra os experientes jogadores do Recreativo de Alicante. A equipe jogou com uniforme completamente branco e escudo redondo, que logo de cara lembravam o Real Madrid. Porém, só o figurino era parecido. Dentro de campo, o Murcia apanhou de 16 a 1.
O clube inaugurou o seu primeiro estádio, a Torre della Marquesa, no dia 27 de fevereiro de 1918. E dessa vez a goleada foi favorável: 10 a 1 sobre o Hispania de Orihuela. Apenas em 1920 o time se filiou à Federación Levantina, com o nome de Levante FC de Murcia, tornando-se um clube de futebol oficial. No mesmo ano, o time participou do campeonato regional levantino, conquistou o título e começou a ser reconhecido na Espanha. Em 22, o time voltou a se chamar Murcia FC e no ano seguinte ganhou do Rei Don Alfonso XIII o título de 'Real', incorporando assim uma coroa em seu distintivo.
Em 1929, o time participa da terceira divisão nacional espanhola pela primeira vez. Fica em segundo lugar e sobre para a Série B. O título da segunda divisão foi conquistado em 1940, e no ano seguinte o time estreou na elite do futebol espanhol. Logo na primeira partida foi goleado pelo Hércules por 4 a 0. A derrota mostrou que a vida na primeira divisão não seria fácil, e o time acabou caindo. Mesmo assim, o Murcia teve bons momentos na temporada, como a vitória sobre o Real Madrid, em La Condomina, seu novo e atual estádio, por 3 a 1. Nas décadas seguintes, o time alternou participações na primeira e na segunda divisão. O Murcia participou da Série A em 44, 45, 46, 50, 55, 63 e 64. Nas temporadas 1970/1, 1971/2 e 1976/7, o Muicia teve que disputar a terceira divisão.
Após a péssima década de 70, os anos 80 foram os melhores da história do clube. O time participou por seis vezes da divisão de ouro espanhola. Nas temporadas 1983/4 e 1986/7, o Murcia conseguiu sua melhor classificação na história: a 11ª colocação. O comandante do time nessa época foi o brasileiro Guina. O meia jogou no Murcia entre 81 e 87, e é considerando um dos maiores ídolos da história do clube. Guina começou no comercial de Ribeirão Preto e, antes de ir para o futebol espanhol, passou pelo Vasco da Gama. Atualmente vive em Madrid, onde trabalha como assessor de Roberto Carlos.
Perto do fim
Quando falamos de futebol espanhol, logo lembramos das contratações milionárias do Real Madrid, ou dos mais de 100 mil sócios do Barcelona. Porém, os milhões de euros são privilégio para pouco nos país. No início dos anos 90, com uma dívida de 1,4 bilhão de pesetas, o Real Murcia esteve perto do fim. O clube não tinha dinheiro nem para pagar suas contas de luz ou telefone. Em 1992, o Murcia foi obrigado a vender a La Condomina, por 915 milhões de pesetas, para a prefeitura da cidade. No mesmo ano, o conselho superior de esportes da Espanha impôs a queda do time para a Segunda Divisão B, pelo fato de o Murcia não ter se convertido em uma sociedade anônima.
Nenhum dos times ricos nem a federação espanhola ajudaram o Murcia. A venda do estádio serviu para pagar algumas dívidas, entre elas parte dos salários atrasados de seus jogadores. Entre 1992 e 1994, alguns dos mais rebeldes chegaram a abandonar o clube. Na temporada 1994/5, o time grana caiu para a Tercera. O time logo voltou à Segunda B, onde permaneceu entre 1996 e 2000.
E Jesús salvou o Murcia
A história do Real Murcia começa a mudar no início do novo milênio. O Grupo Empresarial Santa Mónica, de Jesús Samper, ex-presidente da federação espanhola, injetou dinheiro no clube. Jesús tornou-se o maior acionista do clube, e os resultados começam a aparecer. Nas temporadas 2000/1 e 2001/2, o time conseguiu resultados modestos na segunda divisão. Na temporada 2002/3 o Murcia consagrou-se campeão da Segundona.
A partida que fez o clube voltar à elite do futebol espanhol aconteceu fora de casa contra o Córdoba. O Murcia venceu o jogo por 2 a 0, gols de Karanka e Richi, e assegurou a vaga na Liga Primera com três rodadas de antecipação. A festa foi completada com a conquista do título. Foram 76 pontos somados, cinco a mais que Albacete e Zaragoza, em 40 partidas.
Na temporada atual o objetivo é se manter na primeira divisão. O time continua mandando seus jogos no estádio La Condomina, que agora é municipal. Porém, a casa nova já esta sendo mobiliada. Em maio de 2003 começou a construção de La Nueva Condomina, novo estádio do clube, com capacidade para 33 mil pessoas. Não se trata apenas de um estádio, mas de um grande complexo esportivo, comercial e residencial na periferia de Murcia. A previsão é que esteja pronto em setembro de 2004. Além de uma revista mensal, o clube também tem uma rádio, a Radio Murcia, que está completando um ano.
A estrutura está sendo montada. É aguardar para ver se o Real Murcia finalmente conseguirá ocupar uma posição de destaque no futebol da Espanha.