Marília: Revezando a preferência

2003. O ano em que o campeonato brasileiro da Série B ficará marcado por ter em sua tabela de classificação clubes como Botafogo e Palmeiras. Embora sejam esses dois os 'grandes' da Segundona, observando a tabela de classificação podemos ver vários clubes que já disputaram a elite de nosso campeonato nacional. Portuguesa, Sport, Náutico, Santa Cruz, Gama, Remo e muitos outros estão nessa lista. Só que quem rouba a cena na segunda divisão não é nenhum desses times, mas sim o Marília. Mantendo a regularidade desde o começo do campeonato, na 13ª rodada o clube do interior paulista está em terceiro lugar na competição, atrás apenas de Botafogo e Palmeiras. Mas o começo não foi de boas lembranças para o Marília.

À primeira impressão…

A data é 12 de abril de 1942. O EC Comercial surgiu para disputar campeonatos amadores regionais, mas o time não foi carismático a ponto de conquistar os torcedores da cidade de Marília. Nem o nome agradava ao povo, o que acabou resultando numa assembléia geral realizada no clube para definir um novo nome. Em 11 de julho de 1947 surgia então o Marília Atlético Clube, para representar a cidade homônima no cenário paulista futebolístico, já que o outro clube da cidade estava desativado.

O novo nome não originou grandes mudanças no futebol do antigo Comercial. O Marília enfrentou sucessivas crises que resultaram numa licença de atividades oficiais. Foi o mote para que o São Bento, o outro clube desativado da cidade, retornasse aos campos para que a cidade do interior não ficasse sem representantes nos campeonatos paulistas. Novamente a mudança não surtiu efeito algum: o São Bento passou dez anos jogando e perdendo. No entanto, cumpriu brilhantemente sua missão social ao oferecer entretenimento e algumas emoções à torcida.

Não demorou muito, e o São Bento desativou-se novamente. Era uma espécie de revezamento de preferência na cidade: o São Bento jogava, perdia, aí dava a vez para o Marília representar a cidade e continuar perdendo. Porém, foi a última vez que esse revezamento aconteceria. O MAC voltou com toda a força no fim dos anos 60, empolgado com seu novo símbolo, definido por um concurso público: o tigre.

Ascensão e nova queda

Logo no início dos anos 70, o MAC venceu a '1ª divisão' do campeonato paulista (mais ou menos o que seria hoje a série A-2) e foi promovido à elite, a 'divisão especial' (atualmente a série A-1). O título deu uma nova injeção de ânimo aos torcedores da cidade, cansados do revezamento São Bento-Marília. A cidade fez sete dias de festas, e gente que nunca havia se interessado pelo futebol começou a ir ao estádio.

Com o apoio da torcida, que então tinha gosto pelo time da cidade, o Marília venceu torneios importantes na década da discoteca. Ganhou o Paulistinha em 1974, uma espécie de vestibular que classificava seis times pequenos para a disputa do principal campeonato estadual de São Paulo. O clube passou a investir nas divisões de base, com resultado. No fim da década, em 1979, o Marília venceu a Copa São Paulo de Futebol Junior em cima do Fluminense, explodindo a cidade em alegria. Só que uma sombra pairava sobre o clube.

Em 1980 e 1981, o MAC passou por dificuldades financeiras, que tiveram como conseqüência mais uma década a ser arrancada das páginas da história do clube. Durante quase dez anos, o Marília perdeu toda explosão e velocidade que teve nos anos 70 e quase parou. Só se recuperou em 1992, quando retornou ao campeonato paulista da série A. Não durou muito: em 1994, o time já estava novamente na terceira divisão do Paulistão e dois anos depois caiu para a quarta divisão do estado, a série B1-A.

Mal nas quatro linhas, o MAC estava bem fora delas. O campo foi ampliado, e as arquibancadas receberam cobertura. A cidade foi escolhida sede da Copa São Paulo de Futebol Junior. Não ganhou, mas trouxe gás à torcida local, que empurrou o time para a terceira divisão novamente.

Milênio novo, vida nova

Em 2000, o Marília montou um time melhor que os dos últimos anos. Chegou às semifinais do campeonato, mas perdeu, jogando fora a chance de conseguir dois acessos consecutivos. Mas a campanha atraiu investidores. Tanto que no ano seguinte a empresa American Sport assumiu o comando administrativo do clube. Deu resultado: o time conseguiu terminar o torneio em quinto lugar, garantindo o acesso à segunda divisão em 2002, por causa da criação da Liga Rio-São Paulo.

A torcida, novamente empolgada com o clube local a um passo da divisão de elite do futebol paulista, apoiou o time na disputa da série A-2 em 2002. O '12º jogador' fez a diferença, e o MAC venceu pela primeira vez a final de um campeonato paulista em seu estádio. Os bons tempos estavam de volta. Marília campeão da série A-2 e com vaga garantida na A-1 em 2003.

A conquista elevou o moral do time, que decidiu disputar a Série C do Brasileirão. Não fez feio: dos 61 clubes participantes, ficou em segundo lugar, alcançando um feito histórico. Em 2003, o clube estaria apto a jogar a Série B do campeonato brasileiro.

O ano começou bem para o Marília, que conseguiu se fixar na série principal do Paulista. A campanha regular no estadual se refletiu no nacional. O clube vem mantendo uma regularidade invejável na Série B desde a primeira rodada e tem a segunda melhor defesa do campeonato. Chegou a ser líder e agora só está atrás de Palmeiras e Botafogo.

A primeira impressão, no caso do Marília Atlético Clube, não ficou. Depois de anos amargos no futebol para o povo da cidade, agora os torcedores do azul e branco podem até sonhar com uma vaga na elite do futebol brasileiro.

Foto de Equipe Trivela

Equipe Trivela

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