Carioca, conheça o Rio

Não sei quem vai iniciar os trabalhos olímpicos no Maracanã, mas adoraria que fosse o velhinho da Odepa.

Aquele impagável Oi, ou Hoy, da abertura do Pan 2007 representa muito do que nós, cariocas, somos. Sim, somos extrovertidos, bonachões, zoadores e sensuais. Ok, sensuais não…somos convencidos. E como! Mas, pense bem, você também seria caso se deparasse diariamente com cenários de tirar o fôlego num simples itinerário casa-trabalho. Além de um sorriso na cara, você naturalmente ganha uma bela porção de autoestima.

Autoestima para uns, marra para outros. Ser carioca e gritar para os quatros cantos do mundo que essa cidade é, sim, maravilhosa independente de violência ou do enfraquecimento político e econômico não é exatamente algo bem quisto pelo país afora. Mas, muito de nós continuamos a fazer isso. Acreditamos piamente que esse pouquinho de Brasil tem algo de muito original.

Esse ego inflado do carioca, no entanto, não está restrito aos nascidos na cidade dos encantos mil. Dizer que os fluminenses têm, e com todo direito!, o título de carioca é chover no molhado. São, por extensão, de casa, como um amigo que não precisa esperar o final de semana para invadir seu lar, abrir a geladeira e tomar sua última cerva gelada.

Tem quem passe dois meses por essas bandas, arranhe um português e tenha certeza, com toda razão, que é um autêntico carioca. Tem quem não diga, que não saiba, mas que tá na cara que já virou. E tem também os que vivem por aqui e nunca captam o espírito do bom malandro, do papo mole, do boteco sujo, do Maraca domingo, do calçadão lotado, do mate na praia, muito mate, pouco limão, três goles, o pagamento e o chorinho, por favor.

Nos últimos tempos, no entanto, a nossa moral abaixou. E bastante. Ainda fazemos um barulho por aí, mas nem no futebol nos impomos como antes. A imagem da violência está consolidada. Quem não tem um primo do interior de Minas que se borra nas calças só em pensar na ideia de caminhar por Ipanema? Só quem não tem primo em Minas. Mesmo assim, tivemos nossas conquista, como a consolidação do Rio no roteiro de mochileiros do mundo inteiro, essa galera descolada que revitaliza a nossa querida Lapa e não tem vergonha de comer um filé miau com farofa.

A Copa do Mundo e, principalmente, os Jogos Olímpicos representam um momento de virada, de resgate, de retomada da autoestima adormecida. Entendemos todos os receios que a festa se torne um vaporizador de dinheiro do meu e do seu imposto, como o Pan de 2007. O problema, no entanto, não é uma Olimpíada, mas quem mexe com nosso dinheiro, o péssimo hábito de superfaturar.

Mas o momento é de oportunidade. Assim como o mundo não aceita mais que os Jogos sejam exclusividade do hemisfério norte, também não aceita mais sacanagem com a coisa pública. Ainda estamos para provar que transparência e fiscalização podem, de fato, transformar o comportamento do governamental. E nada como internet e olho aberto para gerirmos de forma participativa os preparativos olímpicos.

Evitar o papel de anfitrião é para quem tem vergonha da própria casa. A nossa é humilde, mas aconchegante. Pode chegar que já é de casa. Abre a geladeira e me traz um cerva, enquanto eu boto uma água no feijão.

Foto de Equipe Trivela

Equipe Trivela

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