AZ: Futebol de A a Z

Ajax, PSV, Ajax, PSV, Ajax e às vezes o Feyenoord. O futebol holandês está longe de ser um dos mais surpreendentes do planeta. Mas na atual temporada é bom ficar de olho, porque tem um time querendo quebrar a mesmice do campeonato local. E essa equipe atende pelo singelo nome de AZ.
O time da cidade de Alkmaar faz boa campanha no campeonato local – briga ponto a ponto com o PSV pelo título – e ainda sonha com a glória continental, já que está vivo nas oitavas-de-final da Copa UEFA. Curiosamente, o próprio AZ foi o último time a quebrar a hegemonia do trio Ajax/PSV/Feyenoord, conquistando o título holandês em 1981.
O time dos queijos
A cidade do AZ, Alkmaar, é conhecida como a capital dos queijos na Holanda. No verão, em todas as sextas-feiras, a cidade pára para festejar seu produto mais famoso. As ruas de Alkmaar são transformadas em verdadeiras lojas a céu aberto, com queijos e mais queijos expostos para comercialização. Holandeses e holandesas em trajes típicos dão um ar mais típico e turístico à festa.
O município é vizinho de Amsterdã e tem pouco mais de 100 mil habitantes – pouco, se comparado a Roterdã, com cerca de 1 milhão de habitantes, Amsterdã, com 740 mil moradores e Eindhoven, que tem 200 mil.
Bom começo
Essa cidade precisava de um time de futebol para se confirmar como um município importante na Holanda. Dois clubes buscavam o posto de ´time da cidade´: o Alkmaar 54 e o FC Zaanstrek. Mas eles estavam longe de se destacar no cenário do futebol holandês. Eram figuras carimbadas das divisões inferiores. A falta de conquistas e a fraca saúde financeira fizeram com que os dirigentes partissem para uma solução radical: fundir as agremiações em um time só, que seria o legítimo representante de Alkmaar. Nascia então, em 1967, o AZ 67. O simples nome do time trazia as iniciais das ´equipes-mães´ e uma referência ao ano de fundação, um costume tipicamente europeu. Então, em 1967/8, o AZ 67 partia para sua primeira temporada no futebol profissional. O time estrearia na Segundona do Holandês, herdando a vaga que Alkmaar 54 e Zaanstrek possuíam na competição.
E logo no primeiro campeonato o AZ 67 provou que não estava para brincadeira. Foi o vice-campeão na Segundona, ficando atrás somente do Holland Sport, e carimbando seu passaporte para a primeira divisão do campeonato holandês. A cidade de Alkmaar voltava para a Eredivisie depois de oito anos de ausência.
Depois da festa pelo primeiro acesso, o AZ 67 entrou em uma fase ´gangorra´. Permaneceu na primeira divisão até a temporada 1970/1, quando ficou em 17º e penúltimo lugar, sendo condenado ao rebaixamento para a Segundona. Mas logo na primeira temporada na Eerste divisie, conseguiu o segundo lugar e voltou para a elite do Holandês. Daí pra frente, começaria a melhor fase da história do clube.
Era de glórias
Chegou a década de 70, e os empresários de Alkmaar estavam realmente interessados em fazer com que a cidade tivesse um time em condições de lutar por títulos. O futebol no país era uma verdadeira febre – a Holanda vivia o melhor momento da sua história, com os vice-campeonatos mundiais em 1974 e 1978 e quatro títulos seguidos na Liga dos Campeões (um do Feyenoord, em 1970, e três do Ajax, entre 1971 e 1973). Era negócio, então, investir em um clube de futebol. E os mecenas foram os irmãos Klaas e Cees Molenaar, milionários de Alkmaar.
Com o dinheiro dos Molenaar, a equipe mostrava uma evolução gradativa ano a ano. De um eterno candidato ao rebaixamento, o AZ 67 passou a ser um dos concorrentes na luta pelo título. O terceiro lugar na temporada 1976/7, em que superou na tabela o gigante Feyenoord, garantiu ao AZ 67 a presença na Copa UEFa na temporada seguinte.
Mas mais do que a estréia na Europa, a temporada 1977/8 reservaria ao AZ 67 a primeira de suas glórias. Nem o mais fanático torcedor do time acreditaria que, em 5 de maio de 1978, o clube derrotaria o todo-poderoso Ajax em plena Amsterdã, na final da Copa da Holanda. Mas foi o que ocorreu. Com um gol de Van Rijnsoever, o AZ 67 e a cidade de Alkmaar comemoravam o primeiro título importante de suas histórias.
O título do AZ 67 foi uma das maiores zebras da Holanda até então. Mas mais que isso, deu ao clube de Alkmaar a capacidade de sonhar com vôos mais altos. Era possível, a partir daí, pensar na real possibilidade de fazer uma boa figura nas competições européias e até mesmo levantar o caneco do campeonato holandês.
Quando chegou a temporada 1980/1, os torcedores do AZ 67 sentiam como se estivessem vivendo em um sonho. O time voava baixo: nas primeiras dez partidas do campeonato holandês, dez vitórias, duas sendo sobre os gigantes PSV e Ajax. O título acabou vindo de maneira natural e até mesmo impressionante: o AZ 67 acabara perdendo só uma partida no campeonato, contra o próprio Ajax, quando o torneio já estava definido.
Para coroar a ´temporada de ouro´, o AZ 67 conquistaria ainda sua segunda Copa da Holanda vencendo o mesmo Ajax, por 3 a 1. E na Copa UEFA, por pouco não pinta uma ´tríplice coroa´: o time foi vice-campeão, perdendo para o inglês Ipswich na decisão.
A era de ouro do AZ 67 se confirmaria ainda na temporada seguinte, com o terceiro título da Copa da Holanda e o terceiro lugar no campeonato holandês.
Visitando o inferno
Porém, já diz o ditado que tudo que é bom dura pouco. Quando se fala de um time pequeno, isso vale mais ainda. E depois das quatro conquistas, o AZ 67 entrou em franca decadência. Os títulos desapareceram, e com eles toda a grandeza da equipe. O AZ voltou a fazer papel de coadjuvante, e o fato de mais destaque em sua história nessa época é a mudança do nome da equipe, que, em 1986, resolveu abandonar o 67 e passou a se chamar simplesmente AZ.
Com os maus resultados aparecendo a cada ano, não foi surpresa quando, na temporada 1987/8, ficou entre os últimos do Holandês e amargou o rebaixamento. Parecia o fim do AZ. A Segundona tornou-se uma constante na história do clube e o retorno à divisão principal do futebol holandês só aconteceria em 1996/7. Logo nessa primeira temporada o time voltou a cair, mas no ano posterior retornou – para ficar – à primeira divisão.
Scheringa, o novo paizão
O retorno à divisão principal a partir de 1998 foi definitivo. De lá pra cá, o AZ não mais esteve entre os piores da Holanda. E o principal motivo para esse sucesso foi a presença cada vez mais freqüente dos dólares do milionário Dirk Scheringa, que na década de 90 ´adotou´ a equipe.
O resultado da política de Scheringa foi um AZ que, se não chegou a ser excelente, pelo menos foi combativo. Não passou perto do rebaixamento e ainda conseguiu vagas nas copas européias.
Na atual temporada, o time tem todas as condições de levantar as taças do campeonato holandês e da Copa da UEFA. Mesmo que fique sem títulos, se conseguir uma vaga na próxima Liga dos Campeões já terá alcançado um feito extraordinário. O curioso é que, se figurar entre os maiores da Europa, o AZ terá que remodelar seu estádio ou jogar fora de Alkmaar, já que seu atual campo, o Alkmaarderhout, comporta apenas 8 mil torcedores. São reflexos de um time que pode estar mostrando resultados de grande, mas mantém ainda uma gostosa aura de time pequeno.