Arsenal de Sarandí: O time do clã Grondona
A boa campanha do Arsenal Fútbol Club de Sarandí é uma das principais surpresas do Torneo Apertura 2002 na Argentina. Em sua primeira temporada na primeira divisão em 45 anos de existência, o pequeno clube da região metropolitana de Buenos Aires está conseguindo se manter entre tradicionais equipes na disputa pelas posições intermediárias na tabela. Na reta final da competição, o Arsenal está à frente de clubes fortes como Veléz e Newell's Old Boys.
Por enquanto, os resultados do clube são expressivos, ainda mais levando-se em conta o patrimônio extremamente modesto que detém. Time de torcida escassa, o Arsenal tem o menor estádio entre as equipes da primeira divisão, com capacidade para apenas 10 mil torcedores. O campo do time também é motivo de piada e revolta por parte da imprensa argentina, pois fica localizado praticamente embaixo de um viaduto e possui apenas duas cabines de transmissão para emissoras de rádio e televisão. Por isso, quem acompanha futebol no país conhece o Arsenal como 'o time do viaduto'.
Mas qual é então o segredo da ascensão do Arsenal no futebol argentino? Se por um lado ainda falta poder estrutural, por outro o clube está nas mãos de uma das famílias mais fortes do futebol da Argentina, os Grondona. Presidente de AFA (Associación de Fútbol Argentina) há 23 anos e vice-presidente da FIFA, Julio Grondona fundou o clube em 1957, ao lado de seu irmão Héctor. Atualmente, Julio Grondona Hijo, filho do homem forte do futebol argentino, é o presidente do Arsenal. Para completar, Gustavo Grondona, sobrinho de Julio e filho de Héctor, que também foi jogador do time, é volante titular da equipe da pequena Sarandí.
Na Argentina, todos sabem que o sonho de Julio Grondona e sua família é fazer do Arsenal, em médio prazo, uma equipe importante nacionalmente. A princípio, a intenção é se manter na primeira divisão por algumas temporadas, para só depois traçar objetivos maiores. E quem recebeu dos Grondona a missão de liderar este ambicioso projeto foi o ex-jogador e agora treinador Jorge Luis Burruchaga. Revelado pelo Arsenal na década de 70, o atacante Burruchaga explodiu no Independiente e se consagrou na Copa do Mundo de 1986, quando, no papel de escudeiro de Maradona, marcou o gol do título do bicampeonato mundial da Argentina na dramática final contra a Alemanha.
Herói nacional e também para o povo de Sarandí, que organizou um abaixo-assinado para a construção de uma estátua em homenagem ao treinador, logo após a inédita conquista da Primeira B em maio de 2002 e a conseqüente ascensão para a divisão de elite do país. A torcida do Arsenal seguia o exemplo dos fanáticos do Racing, que conseguiram levantar uma estátua para o técnico Reinaldo Merlo, que tirou o clube de Avellaneda de uma fila de 33 anos. Mas, pelo menos por enquanto, a homenagem a Burruchaga não saiu do papel.
Em campo, o principal destaque do Arsenal é o atacante Sebastián Rambert, que surgiu como grande revelação do futebol argentino no início dos anos 90, mas não conseguiu decolar de vez. Hoje, aos 28 anos, depois de passagens por Independiente, Boca Juniors, River Plate, Inter de Milão e Zaragoza, o jogador parece ter recuperado o bom futebol em Sarandí, atuando em uma função de armação, mais recuado.
Na galeria de grandes jogadores da breve história do clube de Sarandí figuram dois campeões mundiais. Assim como Jorge Burruchaga, o zagueiro Nestor Clausen, que também estava no grupo campeão do mundo em 1986, saiu das divisões de base do Arsenal. Porém, os torcedores mais antigos asseguram que o maior jogador da história do clube continua sendo o atacante Héctor Grondona, que depois de fundar a equipe foi defendê-la em campo.
Nome e camisa
A idéia dos irmãos Grondona para o nome do clube de Sarandí surgiu na esteira da tendência do futebol argentino para nomenclaturas em inglês. Julio e Héctor decidiram se apossar do nome do Arsenal, que já na década de 50 era uma das principais equipes da Inglaterra. Para o uniforme, os fundadores decidiram fazer uma junção. Como a cidade de Sarandí está localizada próxima a Avellaneda e sempre abrigou torcedores de Independiente e Racing, os Grondona pensaram em unir as cores das duas equipes para evitar a discórdia. Assim, o uniforme número 1 do clube tem camisa azul com três listras diagonais vermelhas e calção branco.