Olimpíadas

Verdade seja dita: o roteirista da Marta nas Olimpíadas não tem coração

Maior jogadora da história do Brasil encerra sua participação olímpica com três medalhas de prata em três finais

É inegável a importância de Marta para o futebol brasileiro e mundial. Seis vezes melhor do mundo, sendo cinco delas de forma consecutiva.

E não são só os prêmios que falam. As atletas também, como vimos durante a disputa dos Jogos Olímpicos de Paris:

Eu assistia aos melhores momentos dela com meu pai a todo momento, então enfrentá-la, em uma partida dessa magnitude, é muito especial – Sophia Smith, jogadora dos EUA.

Pessoalmente, sempre disse que Marta foi minha referência e admiro seu futebol e seu trabalho há dez anos – Jenni Hermoso, jogadora da Espanha.

Acho que para todos nós que amamos o futebol feminino, ela (Marta) tem sido mais do que apenas um modelo ou um ícone. Ela tem sido a melhor jogadora por um longo tempo — Emma Hayes, técnica dos EUA.

Por tudo isso, é difícil constatar que uma atleta desse tamanho não tenha encontrado o seu tão sonhado pote de ouro nas Olimpíadas.

Foram três finais olímpicas: Atenas 2004, Pequim 2008 e Paris 2024. Infelizmente, em todas, o algoz foi os Estados Unidos. Aliás, Marta é a única jogadora que não é norte-americana a disputar três finais.

Feitos incríveis, roteiros cruéis. E assim Marta encerra sua caminhada com a seleção feminina — a jogadora anunciou que Paris seria sua última aparição com a amarelinha em Olimpíadas.

Seu desempenho no torneio recente, que terminou com derrota por 1 a 0 para os EUA, pode até ser julgado, sim, mas isso não apaga a história feita. É doloroso e triste ver alguém que já fez tanto encerrar assim.

O primeiro cartão vermelho

A imagem foi forte e o choro foi marcante. O dia 31 de julho de 2024 ficou marcado como o primeiro cartão vermelho da vida de Marta pela Seleção.

Nos minutos finais do primeiro tempo contra Espanha, ainda na fase de grupos, a brasileira levou o vermelho direto pela entrada em Olga Carmona, que acabou acertando a cabeça dela. Marta ficou suspensa por dois jogos e voltou para a final.

Mas quem nunca recebeu um cartão vermelho que atire a primeira pedra. É bem verdade que a entrada foi dura, especialmente se tratando de Olimpíadas, mas nem isso e nem terminar sem o ouro, apagam sua trajetória.

A redenção… até a final

Uma boa dose de sorte fez com que o vermelho não marcasse a despedida de Marta. Por conta das regras olímpicas — e uma dura punição aplicada à seleção canadense –, o Brasil se classificou às quartas como uma das melhores seleções em terceiro lugar.

Mas o desafio seria grande: a França, dona da casa. Arthur Elias precisou reorganizar o time sem a Rainha e deu certo. Pênalti defendido, 1 a 0 e vaga nas semis.

Mais uma vez sem Marta, em seu segundo jogo de suspensão, as brasileiras precisariam encarar a Espanha, atual campeã mundial e melhor seleção do mundo. E, em uma das maiores atuações da história da seleção feminina, ninguém se lembrou da camisa 10. O Brasil fez 4 a 2 e, depois de 16 anos, voltou à decisão olímpica.

O palco estava montado para a redenção, para a jornada da heroína. Da expulsão traumatizante, passando pela quase certeza da eliminação, até a chance de vencer um ouro inédito em sua última partida.

Queremos dar essa medalha para a Marta. Ela realmente merece estar jogando a final e merece ter essa oportunidade de conquistar a medalha de ouro — resumiu a volante Angelina.

Mas, de novo, o roteirista foi cruel. O Brasil perdeu gols feitos e Marta entrou no segundo tempo, mas não conseguiu reverter o placar, que já apontava a derrota por 1 a 0. De novo os Estados Unidos, de novo a prata. Cruel.

Marta chorando durante jogo do Brasil. Foto: Icon Sport
Marta deixou o campo chorando após ser expulsa ainda no primeiro tempo do jogo contra a Espanha. Foto: Icon Sport

O caminho de Marta no futebol

Marta Vieira da Silva nasceu no Alagoas e se mudou para o Rio de Janeiro para começar sua carreira no Vasco da Gama, nos anos 2000. Dois anos depois, passou a defender o Santa Cruz-MG.

Seu talento foi tanto que chamou a atenção do Umeå IK, da Suécia, onde Marta consolidou seu caminho como grande jogadora de nível internacional.

A jogadora teve passagem pelo Los Angeles Sol, dos Estados Unidos, foi emprestada ao Santos e depois retornou aos EUA para jogar pelo Gold Pride.

Marta ainda voltou à Suécia pelos Tyresö FF e FC Rosengård até fechar com o Orlando Pride, na Flórida, onde joga até hoje.

Pela Seleção Feminina, a jogadora tem três Copas Américas e dois ouros nos Jogos Pan-Americanos, além das três medalhas da prata. Sua importância para a caminhada de tantas mulheres no futebol feminino brasileiro é fundamental.

Quando muitas vezes as mulheres não tinham onde jogar, não eram reconhecidas, lutavam por coisas básicas, ela estava lá. Seguindo os caminhos das pioneiras, passando pela seleção permanente, Marta nunca deixou de advogar pelo simples direito das mulheres de jogar bola.

No final do jogo, em entrevista a Cazé TV, Marta fez questão de mandar um recado aos críticos:

“Essa galera que normalmente aproveita o momento pra criticar, a essa galera eu não devo nada. Está tudo certo. Nós somos prata aqui e ouro na vida.”

Que bom que, pelo menos, a sua última imagem foi admirando a medalha de prata, mostra o quão gigantesca ela é.

240810 Marta of Brazil looks dejected after the women™s football final between Brazil and USA during day 15 of the Paris
Marta olha com carinho para a medalha de prata (Foto: IMAGO / Bildbyran)
Foto de Gabriella Telles

Gabriella TellesRedatora de esportes

Gabriella Telles é jornalista formada pela UFRJ, faz pós-graduação em Gestão Estratégica de Marketing. Já trabalhou na TNT Sports na cobertura da Rio 2016, futebol internacional e eSports. Nascida e criada no subúrbio do Rio de Janeiro.
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