Diferente de 2016, Infantino será candidato único a segundo mandato como presidente da Fifa

A Fifa informou que o atual presidente, Gianni Infantino, será candidato único à reeleição na entidade. Apenas o ítalo-suíço tem as nominações de cinco federações dos 211 membros. O prazo era até a terça-feira, meia-noite, no horário de Zurique. Com isso, Infantino sabe que será eleito e o Congresso da Fifa, no dia 5 de junho, será uma formalidade. Isso não significa que o dirigente terá vida fácil. Apesar de um a boa vontade inicial, Infantino terá alguns desafios para lidar nos próximos anos e pode estar no meio de uma disputa pesada no Oriente Médio neste próximo mandato de quatro anos.
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Infantino irá passar por checagens de elegibilidade e integridade, criados pela gestão dele, antes da eleição no dia 5 de junho. Atualmente com 48 anos, o advogado nascido na Suíça se elegeu em 2016, ainda no rastro do escândalo Fifagate que derrubou diversos dirigentes – entre eles, o então presidente, Joseph Blatter, e o então favorito a substituí-lo, Michel Platini.
Um dos atos que Infantino tomou como presidente é a expansão do número de times da Copa do Mundo de 32, formato vigente desde 1998, para 48 a partir de 2026. Foi também já na gestão dele que a sede da Copa 2026 foi escolhida, em um formato diferente das anteriores, acusados de terem sido corrompidas nas escolhas de Rússia para 2018 e Catar para 2022. Com isso, venceu a candidatura tripla de Estados Unidos, México e Canadá.
Na campanha de 2016, a Fifa teve cinco candidatos: o príncipe Ali Al Hussein, então vice-presidente da Fifa, que já tinha concorrido na eleição anterior e presidente da Federação da Jordânia; Salman Bin Abrahim Al-Khalifa, presidente da Confederação Asiática de Futebol (AFC), que é do Bahrein; Jérôme Champagne, francês, ex-executivo da Fifa, de 1999 a 2010; Tokyo Sexwale, empresário sul-africano, mas que desistiu antes do início da votação; e Gianni Infantino, que era secretário-geral da Uefa na época e se tornou o candidato apoiado pela maior parte dos europeus. Zico tentou se candidatar, mas não conseguiu o apoio de cinco federações, como requerido pelo regulamento eleitoral.
Além dos candidatos oficialmente aceitos, houve tantos outros como Zico, que tentaram apoio sem conseguir chegar à validação da candidatura com os apoios. Desta vez, para 2019, só um pré-candidato tentou angariar os apoios para se oficializar como concorrente de Infantino. Trata-se de Ramón Veja, ex-jogador suíço que defendeu Tottenham e Celtic. Ele esperava convencer opositores de Infantino a apoiá-lo, em nome de “democracia e transparência”.
No seu primeiro mandato, Infantino tentou convencer os membros da Fifa e aceitarem uma proposta para vencer a organização de alguns dos principais torneios da Fifa para um fundo de investimentos misterioso. Entre eles, estariam o Mundial de Clubes, que passaria a ser um torneio a cada quatro anos e com mais clubes, possivelmente 24 cubes, e um torneio mundial nos moldes da chamada Liga das Nações, da Uefa.
Os europeus, aliás, foram os principais opositores dessa venda, até porque consideram que o Mundial nesse novo formato é uma concorrência à Champions League; além disso, o formado de Liga Mundial de seleções poderia encher ainda mais o calendário internacional. Há dúvidas também sobre a origem do fundo, que tem dinheiro saudita entre os investidores. Os europeus são, hoje, os principais opositores de Infantino.
Uma das promessas de campanha de Infantino é aumentar em até quatro vezes o dinheiro distribuído às federações mais pobres. O que é bom em teoria só se torna bom na prática se a fiscalização sobre o uso de dinheiro fosse rigorosa, algo que a Fifa historicamente negligencia desde que esse tipo de política foi amplamente usada por João Havelange e seu sucessor, Joseph Blatter.
Entre as disputas que Infantino terá que lidar é a pressão para que o aumento do número de seleções na Copa valha já para o Mundial de 2022, no Catar. O problema é que o Catar não quer isso, até pelo bloqueio que vizinhos do país tem feito ao país, liderados pela Arábia Saudita. A ideia de aumentar os países participantes é, além de política, uma questão financeira. A previsão de arrecadação para 2022 é de US$ 5,6 milhões e com mais países esse número poderia aumentar ainda mais.
A Conmebol já demonstrou amplo apoio a Infantino, especialmente pela mudança no número de seleções, que beneficia diretamente a Conmebol podendo ter até seis seleções na Copa (das 10 da entidade). A CBF já declarou apoio também ao candidato único da Fifa. Enquanto isso, a Arábia Saudita cresce a sua influência no futebol, em uma disputa com o Catar, sede da próxima Copa. Há uma queda de braço nos bastidores entre os países por muitas razões fora do futebol. Infantino tem mostrado estar ao lado da Arábia Saudita na ideia de ampliar a Copa de 2022 para 48 seleções e espalhar jogos pelo Oriente Médio – eventualmente até para a própria Arábia Saudita.
Isso seria uma grande derrota política do Catar. Por isso, a queda de braço será pesada. Infantino poderia se abdicar dela, mas preferiu entrar de cabeça no pedido aos catarianos para que eles aceitem dividir a Copa com os vizinhos que fazem um bloqueio por terra, ar e mar ao país. Talvez tentado pela proposta de mais de US$ 20 bilhões do fundo de investimento, com parte do dinheiro saudita, para comprar a organização de torneios da Fifa. Uma vez eleito, Infantino terá que lidar com esses interesses no Oriente Médio e também na África e Ásia. Isso sem falar nas denúncias sobre o Catar e o abuso de trabalhadores em obras da Copa, além de questões de costume no país para o Mundial, como venda de bebidas, já que uma cervejaria é patrocinadora do torneio.