Por que Liga da Arábia Saudita está mais quieta no mercado de transferências?
Poupar dinheiro, investir em jovens e estrutura: as novas regras da Liga Saudita para mudar de patamar

A Saudi Pro League (SPL) tem cada vez mais se consolidado no mercado e tentado entrar de vez radar das principais competições de futebol no mundo.
Para isso, a liga precisou mudar algumas regras que envolvem esbanjar menos e planejar mais, para garantir o salto de qualidade necessário.
É claro que nomes como o do atacante belga Romelu Lukaku, que voltou ao Chelsea após passagem por empréstimo na Roma e do seu companheiro de seleção e estrela do Manchester City, Kevin De Bruyne, ainda continuam em pauta.
Mas a gastança desenfreada para seduzir grandes estrelas europeias serão cada vez menos comuns com o passar dos anos e as novas regras. Essa diferença já foi sentida na atual janela de transferência, que começou no último dia 18 de julho.
A postura do Fundo de Investimento Público (PIF) que controla os quatro principais times da liga, mudou e passou a adotar outra rota para manter o interesse dos jogadores e do público na competição.
As últimas duas grandes contratações vindas da Europa, por exemplo, juntas não passaram dos 9 milhões de euros (R$ 55 milhões). O atacante Aubameyang, e o zagueiro Nacho Fernandes se juntaram ao Al Qadsiah.
Competitividade é a palavra-chave para a Liga Saudita
Comparado com o investimento feito no último ano, a diferença é impressionante: ao todo 97 jogadores foram contratados e distribuídos nas 18 equipes da Liga.
Os mais beneficiados foram os quatro principais, que receberam as grandes estrelas. Cristiano Ronaldo no Al Nassr, Benzema no Al Ittihad, Neymar no Al Hilal e Mahez no Al Ahli.
Juntas, as chegadas somaram mais de 900 milhões de dólares (R$ 5 bilhões) em contratações. Dinheiro que, à época, fazia total sentindo, já que havia a necessidade de convencer grandes craques a se juntarem a uma liga desconhecida e pouco
Mas, para a temporada 2024-25 a abordagem agora é outra, focada em três pilares-chave: jovens talentos, manutenção das estrelas e melhoria da qualidade esportiva. Ou seja: gastar rios de dinheiro para tirar uma grande estrela de algum time europeu está fora dos planos.
Construir centros de treinamento de primeira linha é uma das estratégias para a temporada que se inicia em agosto. Assim, os atletas não apenas virão, mas como também permaneceram por mais tempo.
A ideia é oferecer aos jogadores equipamentos de ponta para que os jogos sejam cada vez mais competitivos, e os atletas da Liga possam continuar no radar das suas seleções, como o caso do zagueiro Aymeric Laporte, campeão da Eurocopa com a Espanha.
Segundo relatou um porta-voz da liga ao portal americano The Athletic, a ideia para a próxima temporada é preencher lacunas, melhorar a qualidade geral do jogo e estrutura para os jogadores.
Um dos pontos que desencadearam essa mudança de rota foi a saída precoce de Jordan Henderson, que havia assinado por três anos com o Al Ettifaq. Porém, seis meses após chegar, Henderson negociou sua saída e assinou com o Ajax, da Holanda.
O The Athletic revela que Steven Gerrard, treinador do Al Ettifaq e ídolo de Henderson, conversou com o ministro dos esportes saudita, Abdulaziz bin Turki Al Saud, e o orientou a melhorar as condições dos clubes e como mantê-los por mais tempo no país.
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Liga Saudita quer reforçar o elenco com peças consistentes sem gastar muito
O último e terceiro pilar dessa nova visão saudita de contratações é o eles chamaram de “mapeamento de elenco”. Uma espécia de sustentabilidade.
Apesar do orçamento para a conclusão desse objetivo ser grande – o que pode soar como uma contradição -. A ideia é analisar as lacunas das equipes e agir dentro dessas necessidades, ao invés de contratarem grandes estrelas que correm risco de não se encaixar nos times.
O exemplo mais recente disso foi a contratação do goleiro Bento, do Athletico-PR para a meta do Al Nassr.
O time de Cristiano Ronaldo precisava de um goleiro e depois da alta pedida de Szczesny, da Juventus, os sauditas desistiram do polonês e foram atrás do brasileiro, pagando “apenas” – considerando outras contratações – 18 milhões de euros (cerca de R$ 107 milhões).
Outros nomes do futebol mundial também deixaram de ser alvos da liga Saudita com essa nova visão. O atacante do Liverpool, Mohamed Salah, por exemplo, foi era um desejo, mas foi deixado de lado após as negativas do time inglês.
O ministro dos Esportes, Turki Al Saud, comentou a negociação.
— Ele tem um contrato, então não podemos negociar com ele — apenas com o Liverpool, que foi questionado se gostaria de vendê-lo. Eles disseram: ‘Não'. Eles não têm desejo de fazer isso
Mais jovens e menos medalhões: Saudi Pro League define novas regras para desenvolver jovens talentos
Além das mudanças de mentalidade e critérios de contratação, a SPL também alterou, de fato, algumas regras.
Embora o principal rosto da Liga Saudita seja Cristiano Ronaldo, que fará 40 anos em janeiro de 2025, o foco principal da liga para os próximos anos, no entanto, é desenvolver novos talentos e afastar a estigma de “liga de aposentados”.
As novas regras para a temporada 2024-25 aumentaram o foco na contratação de jogadores com menos de 21 anos, fortalecimento dos talentos locais e dando um respiro aos cofres sauditas – que apesar de fundos, não são infinitos.
Uma das principais mudanças foi a ampliação de oito para 10 o número máximo de estrangeiros que cada equipe pode ter em seu elenco. A única ressalva é que os dois adicionais precisam ter nascido depois de 2003.
Novas regras para a Liga Saudita
- Foco na contratação de jogadores com menos de 21 anos
- Aumento de 8 para 10 o número de estrangeiros no time (2 precisa ser de 2003 ou menos)
- Redução do elenco de 30 para 25 jogadores
- Liga sub-19 foi substituída por sub-18
- Redução 7 para 5 o número de estrangeiros nos times da segunda divisão
Reduzir o elenco de 30 para 25 jogadores, diminuir em um ano competição de base do país também foram outras mudanças que, ao mesmo tempo, atrai jovens e poupa dinheiro, já que possibilita de jogadores mais novos possam chegar ao país.
E já que os estrangeiros terão mais espaços na elite local, os times da segunda divisão perderão duas vagas estrangeiras, para que mais vagas para os jogadores nacionais sejam abertas.
— Como qualquer liga global líder, queremos ver os melhores jogadores locais ao lado de talentos globais existentes e novos, isso é tudo parte de nossa ambiciosa transformação — disse o porta-voz da SPL.